O começo da viagem
Imagem da rocha Adirondack, a primeira ser estudada pelo Spirit . Pode-se ver o braço robótico do rover junto da rocha, antes de começar a furar. O rover usou uma escova de aço situada na ponta da ferramenta abrasiva para limpar um bocadinho da rocha antes de fazer o furo. A seta aponta para essa escova. (NASA/JPL/Cornell)
Entretanto, antes do problema da memória, o rover já tinha feito algumas análises ao solo (que se mostrou invulgarmente consistente) onde detectou vários minerais como a olivina, um mineral ligado a rochas vulcânicas à base de silicato de ferro e de magnésio, formado a temperaturas elevadas e que não aguenta muita erosão. A sua presença significa que pelo menos o solo à superfície não foi alterado quimicamente pela presença de água. Além disso, também sabemos que Adirondack é um basalto e que este é o caso de outras rochas espalhadas pelo terreno. Ou seja, as rochas sedimentares que seria suposto encontrar num sítio destes não estão pelo menos à vista. Ora, mas os basaltos foram trazidos para a cratera de alguma forma. Pode ter sido numa enxurrada de água, mas também podem ter sido ejectados de algum impacto antigo ou mesmo trazidos num rio de lava, embora não existam indícios de tal rio nas fotografias tiradas pelas sondas em órbita do planeta. Portanto, temos aqui um mistério por resolver
As colinas Columbia Hills podem ser vistas nesta imagem do rover. Ainda a alguma distância foram alcançadas pelo Spirit em finais de Julho deste ano. Nota-se também uma grande abundância de rochas, muitas provavelmente de origem vulcânica. (NASA/JPL/Cornell)
Vermelho e sem água A cor de ferrugem de Marte pode não ser devida à presença de água líquida no passado do planeta como se ouve muitas vezes dizer. Tudo pode ser explicado pelo facto deste planeta ter sido em tempos bombardeado por uma chuva de meteoritos. Albert Yen, cientista da NASA, defende este tipo de teoria, ou seja, de que uma chuva de meteoritos pode ter deixado Marte coberto por uma poeira rica em ferro e magnésio, que lhe deu a característica cor avermelhada. Yen chegou a esta conclusão utilizando dados colhidos em 1997 pela sonda Mars Pathfinder e diz que para conseguir ferrugem não é preciso água. Basta que o ferro fique exposto a radiação ultravioleta, numa atmosfera rica em gases semelhantes aos que existem actualmente no planeta e a uma temperatura inferior a 60 graus Celsius negativos. Sendo assim conclui o cientista, Marte pode afinal nunca ter sido muito rico em água. |
A rocha “Pote de Ouro”. O nome deriva do facto de se observarem "pepitas" na rocha. O aspecto incomum desta rocha levou o Spirit a investigá-la, tendo descoberto hematite. (NASA/JPL/Cornell)
Outra rocha interessante encontrada pelo Spirit em Columbia Hills, foi a Clóvis, que apresenta fortes indícios de ter estado em contacto com água líquida. Usando a sua ferramenta abrasiva, o rover analisou o interior da rocha e detectou concentrações elevadas de enxofre, bromo e cloro, quando comparadas com as rochas vulcânicas analisadas noutros sítios da cratera Gusev. Isto pode ser um indício de que Clóvis foi alterada quimicamente por líquidos que fluíram pela rocha depositando estes elementos. O Spirit tem permanecido em Columbia Hills entretido em busca de novos indícios de água, mas no início de Outubro teve uma anomalia no sistema que previne as rodas do rover de virarem em direcções não desejadas quando em movimento. Cada uma das rodas dianteiras e traseiras do rover tem um motor chamado actuador de direcção, que fixa o trajecto das rodas quando estas estão em movimento. Uma anomalia neste sistema tem impedido o rover de movimentar-se à vontade, mas, mesmo assim, tem conseguido cumprir a sua missão.
Imagem da rocha Clóvis, onde foram detectadas concentrações elevadas de enxofre, bromo e cloro, que podem estar relacionadas com água. (NASA/JPL/Cornell)