A chegada a Marte



A chegada de um rover a Marte com os airbags insuflados (JPL/NASA).
O caminho para Marte é longo, mas o Spirit foi o primeiro a chegar a 4 de Janeiro. O robô aterrou na cratera Gusev, que se pensa ter sido um antigo lago marciano. Parece que nesta cratera desaguava um rio, daí o interesse na sua exploração. A cratera parece ter sido escavada há 4 mil milhões de anos e situa-se perto do equador de Marte no limite entre as terras altas do sul e as planícies do norte.

Todas as missões até hoje no planeta foram feitas perto do equador por causa da maior exposição à luz solar que alimenta as sondas. O rover usou um sistema de airbags para aterrar que o protegeram durante o embate com a superfície. Este tipo de sistema de aterragem já tinha sido usado pela Mars Pathfinder em 1997 com sucesso e voltou agora a ser usado pelos rovers. Protegido pelos airbags, o Spirit saltou 28 vezes até parar a 300 metros a sudeste do primeiro ponto de impacto. Depois abriu as pétalas e os painéis solares e começou a transmitir imagens para Terra que encheram de alegria o centro de controle. Os primeiros dias em Marte foram passados em cima da plataforma de aterragem. E foi aqui que fez as primeiras fotografias panorâmicas de Marte que permitiram ver com grande pormenor a paisagem envolvente.


A descida de um rover para a superfície de Marte (JPL/NASA).
Mas foi também aqui que começaram os seus problemas. O caminho por onde devia descer para superfície estava vedado por um airbag, o que obrigou o robô a manobrar em cima da plataforma de forma a sair por outro lado. Ao contrário do previsto a paisagem da cratera não era propriamente um local de sedimentos finos, como seria de esperar no leito de um lago seco, mas sim uma zona povoada de pequenas rochas diferente de outros locais já visitados no passado. Embora fossem numerosas, as rochas não eram grandes, o que facilitou a progressão do rover pelo terreno. Também não existiam grandes montanhas. Apenas a este e a sul se viam pequenas colinas situadas a alguns quilómetros do sítio do rover. Via-se também na paisagem envolvente, pequenas depressões cobertas de poeira, como é o caso de Sleepy Hollow e Laguna Hollow, que parecem ser crateras secundárias resultantes da ejecção de material de crateras maiores existentes na zona. No caso de Laguna parece estar dentro do limite de ejecção da cratera Bonneville, situada a pouco mais de 300 metros do sítio do rover e um local visitado pelo Spirit em finais de Março.


Um modelo tridimensional da rocha Humphrey (JPL/NASA).
A análise de crateras é interessante, pois pode dar acesso a estratos de terreno mais antigos. Bonneville tem 192 metros de diâmetro e foi explorada na borda pelo robô, embora este não tenha descido ao seu interior, pois entendeu-se que não valia a pena correr o risco. Da análise feita não saltou à vista nenhum tipo de afloramento rochoso que valesse pena a viagem ao interior da cratera. Antes disso, porém, o rover já tinha passado por Laguna Hollow, onde fez uma manobra para escavar uma pequena cova. Aqui o solo parece ser mais resistente e consistente do que na cratera onde caiu o Opportunity. Pelo caminho visitou também uma rocha chamada Humphrey, onde encontrou um material brilhante e estranho dentro de pequenas fendas da rocha que parecem ser minerais cristalizados. É possível que resultem do contacto com água no passado, embora as certezas sejam poucas a esse respeito.


Imagem da rocha Mazatzal cheia de concavidades (JPL/NASA).
Mais interessante foi o encontro com a rocha Mazatzal no limite da cratera Bonneville. O rover usou a sua ferramenta abrasiva para fazer dois pequenos furos nesta rocha. Notou logo nos dois, a existência de uma camada de material escuro por baixo da "pele bronzeada" de Mazatzal. Entretanto, num dos furos avançou um pouco mais e encontrou uma camada mais cinzenta e brilhante de material por baixo da "casca escura". Nesta camada de material mais brilhante viu com o microscópio de imagem (MI) um risco branco que atravessa a rocha e que pode ter sido causado por minerais depositados por água líquida no interior da pedra. O facto de a rocha apresentar também várias camadas (pelo menos quatro níveis de material) pode igualmente ser um sinal de que foi submetida a acção de água líquida.