Os Cometas: O Passado e o Futuro



Fotografia do Cometa Hale-Boop em 1997. São visíveis as componentes essenciais de um cometa: a coma, a cauda de poeiras e a cauda de iões ou plasma. Créditos: Wally Pacholka / AstroPics.com
De vez em quando o nosso céu é iluminado por uma grande mancha difusa e brilhante que parece mover-se entre as estrelas. Essa mancha quase esférica a que chamamos coma ou auréola tem normalmente um diâmetro de algumas dezenas de milhares de quilómetros. Na maioria dos casos, saem da coma duas grandes caudas em sentido oposto ao do Sol, que se estendem no céu ao longo de milhões de quilómetros. Uma das caudas é rectilínea e de cor ligeiramente azulada. A outra é curvada e pode apresentar tons brancos ou amarelados.

Hoje sabemos que os cometas são pequenos corpos celestes, com um tamanho de alguns quilómetros, formados, principalmente, por uma mistura de gelos e poeiras. Há milhões de cometas no nosso Sistema Solar e pelo menos uma dúzia visitam-nos todos os anos. No entanto, a maior parte não é suficientemente brilhante e por isso, não são visíveis sem o recurso a telescópios.

Nos anos cinquenta, Jan Oort propôs que os cometas seriam condensações da nebulosa primitiva que deu origem ao Sistema Solar e que, muitos deles, ao serem soprados para os seus confins originaram uma imensa nuvem primordial. Oort estimou que entre as 50 000 U.A. e as 150 000 U.A. existissem cometas separados por uma distância média de 20 U.A. Recorde-se que Plutão está a cerca de 40 U.A. no semi-eixo maior da sua órbita e que a estrela mais próxima situa-se a 210 000 U.A. do Sol. Esse "depósito" de cometas a que se chamou depois, nuvem de Oort, circunda o nosso Sistema Solar e presume-se que se estenda até meio caminho da estrela mais próxima. Não há, no entanto, registos absolutamente seguros de observações dessa estrutura.

É a aproximação da zona central mais quente do Sistema Solar que evidencia o carácter activo que os cometas apresentam. O que os torna tão interessantes são as interacções a que estão sujeitos. Interagem com a radiação e vento solar e gravitacionalmente com o Sol, planetas e talvez mesmo, nalgum estágio da sua existência, sofram a influência de uma outra estrela ou nuvem interestelar densa. Passando a maior parte do tempo longe do Sol, os cometas evoluíram pouco e, por isso, contêm informação sobre o que foi a nebulosa inicial que formou o Sistema Solar. A recolha de amostras dos seus núcleos é importante para conhecermos qual era a constituição do Sistema Solar há 4,6 mil milhões de anos.

No passado, os cometas foram considerados mensageiros de desgraças e o mistério dos seus aparecimentos aguçou a curiosidade daqueles que os observavam. Figuras ilustres, como Aristóteles, Séneca, Kepler ou Newton dedicaram o seu tempo aos cometas, e estudá-los permitiu, entre muitas coisas, confirmar a Lei da Gravitação Universal e compreender a natureza do vento solar. Quantos deles terão sonhado, um dia, ir a um cometa ?

Recentemente a humanidade deu mais um passo para estudar cometas in situ. O foguetão Ariane 5 G, levou para o espaço, na madrugada do dia 2 de Março de 2004, o primeiro engenho humano que irá pousar num cometa. Depois de duas tentativas, a sonda Rosetta da Agência Espacial Europeia (ESA), partiu finalmente da base espacial de Kourou na Guiana Francesa, iniciando uma viagem de dez anos ao encontro do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.



Ao longo das próximas semanas vamos apresentar os seguintes temas:


Autoria:

Vasco Teixeira
Observatório Astronómico de Lisboa