Planeamento



Diagrama representando as órbitas da Terra e Marte durante a oposição. Créditos: ESA.
Ambos os elementos da missão, mas sobretudo a Beagle2, foram sofrendo consecutivas alterações ao longo do projecto, ao ponto de ainda em 2002 se colocar a questão, nos corredores dos centros de investigação da ESA, de se poder vir a lançar a Mars Express sem a Beagle a bordo, dados os inúmeros problemas de desenvolvimento que o projecto teve.

Da mesma forma, o lançador escolhido para a Mars Express tinha, inicialmente, um limite de 1200kg de carga, incluindo os interfaces necessários para acomodar a sonda a bordo. Os cálculos feitos pelos analistas do Centro de Operações da ESA, na Alemanha, foram sendo consecutivamente mais alarmantes: com o aumento da massa da sonda, não programado mas expectável num projecto desta magnitude, foi-se tornando evidente que a janela de lançamento da Mars Express (o período dentro do qual o lançador Soyuz-Fregat teria capacidade para acelerar a sonda a caminho de Marte) se estava a reduzir demasiado. Pôs-se, entre outras hipóteses, a da utilização dos painéis solares da sonda como travões aerodinâmicos para ajudar na colocação da sonda na órbita correcta em volta de Marte.

Depois de alguma negociação, foi acordado com a empresa responsável pelo lançador, a russo-europeia Starsem, alterar a inclinação da órbita inicial em volta da Terra de forma a permitir o lançamento de uma maior massa para Marte.

A janela foi então definida como tendo 4 semanas de extensão (de 23 de Maio a 21 de Junho), com a data para a primeira tentativa colocada logo no dia 23 de Maio, por razões ligadas à rigidez do sistema russo (a nave tem que partir no dia, hora, minuto e segundo certos, caso contrário só poderá haver nova tentativa aproximadamente 24 horas depois, após o que a sonda tem que ser retirada da plataforma de lançamento e todo o sistema revisto, com nova possibilidade apenas cerca de um mês depois).

Já nos primeiros meses de 2002, os responsáveis pela definição da trajectória da Mars Express continuavam a receber números para o peso da sonda que se alteravam de semana para semana, à medida que se procedia à montagem da missão para testes, tornando difícil a revisão sucessiva da trajectória de toda a missão em tempo útil. Com o terminar deste tipo de actividades, foi possível finalmente definir uma "trajectória-base" que a equipa de investigadores da ESA, com os engenheiros encarregados dos cálculos de trajectórias, optou por fixar na sua fase operacional. Como resultado, é possível neste momento identificar os locais por cima dos quais a Mars Express vai passar em determinado minuto de um dia pré-definido, dado que a ESA se comprometeu a tomar as medidas necessárias (nomeadamente a utilização dos foguetes propulsores a bordo da sonda) para manter a missão em conformidade com a trajectória planeada.

Encontros entre a Terra e Marte

Tanto a órbita marciana como a terrestre são ligeiramente elípticas, efectuando Marte uma revolução em torno do Sol a cada 687 dias. Isto faz com que os dois planetas apenas se encontrem próximo um do outro todos os 26 meses, altura em que tradicionalmente são enviadas as missões espaciais para o planeta vermelho. Os eixos maiores das órbitas dos dois planetas não estão, no entanto, alinhados. De 17 em 17 anos, o ponto das órbitas da Terra e de Marte em que os dois planetas mais se aproximam leva a que a Terra e Marte fiquem mais próximo que nas outras ocasiões, e seja particularmente barato, do ponto de vista do gasto de combustível, enviar uma sonda para Marte, o que acontece em 2003. Como tudo no Universo, no entanto, a orientação dos eixos maiores das órbitas da Terra e de Marte também se movimenta, embora muito lentamente, em torno do Sol. Este ano, o ponto da órbita de Marte em que este se encontra mais próximo do Sol está extraordinariamente próximo do ponto da órbita da Terra em que esta se encontra mais longe do Sol, que é sensivelmente a meio do verão no nosso hemisfério. Aproveitando esta ocasião, única nos últimos 73000 anos, seguirá assim uma verdadeira armada de missões para Marte, podendo-se encontrar, se tudo correr bem como o esperado, 7 missões em torno ou na superfície de Marte no início de 2004.