O Céu dos Homens do Mar na Época das Descobertas

Astrolábio usado para calcular as posições dos astros no céu.
Sendo a água tão importante para a Humanidade não é de estranhar que desde tempos imemoriais os espaços aquáticos tenham sido usados como vias de comunicação. Para conduzir as embarcações torna-se necessário dispor de marcas que permitam conhecer a posição. Durante séculos a navegação era feita essencialmente com terra à vista, de modo a ser sempre conhecida a posição do navio.
Embora as viagens fossem geralmente à vista de terra, acontecia muitas vezes que os navios se afastavam, pelos mais diversos motivos, perdendo então essas referências que lhes forneciam informações sobre onde se encontravam e para onde se poderiam dirigir. Perdidos esses sinais de terra firme, esses homens socorriam-se então de outros sinais: características dos ventos, cor das águas, plantas aquáticas, etc. Além destes sinais, existem umas marcas no céu, os astros, que podem ser usadas para fornecer diversas informações a quem conheça o seu comportamento. Neste texto tentar-se-á mostrar que informações os astros podem fornecer aos navegantes.
Até à Idade Média, a bússola era desconhecida. Com a difusão, junto dos marinheiros, deste instrumento passou a ser possível aumentar cada vez mais as distâncias percorridas no mar e os tempos de navegação sem terra à vista, uma vez que passou a existir uma maneira de saber a direcção em que os navios se dirigiam. Os pilotos passaram a saber a sua posição no mar, observando simplesmente as direcções em que o navio tinha navegado e estimando as distâncias percorridas, desde a última posição que tinham observado junto à costa. Este método de navegação ficou conhecido, entre os historiadores da Náutica, pelo nome de método de rumo e estima.
No entanto, conforme as distâncias percorridas, sem avistar terra, se tornavam cada vez maiores, os erros acumulados no percurso cresciam, devido a vários factores: correntes, irregularidades dos instrumentos, avaliação incorrecta das distâncias percorridas...
Tornou-se então necessário “descobrir” novas formas de conhecer a posição dos navios, no alto-mar, com um maior rigor. A solução passou pelo uso de astros, em determinadas condições, para conhecer as coordenadas geográficas do local em que o navegante se encontrava. Os portugueses foram pioneiros no desenvolvimento de processos para conhecimento de uma das coordenadas geográficas: a latitude. Quanto à longitude, a sua determinação é bastante mais complexa, aparecendo soluções práticas para este problema apenas no século XVIII, sendo os Ingleses pioneiros neste processo.
Por outro lado, era também possível, pelo menos desde a Idade Média, conhecer as horas, durante a noite, pela observação do movimento da Estrela Polar. Foram desenvolvidos diversos instrumentos, e tabelas, que permitiam, em função da época do ano, saber as horas pela posição relativa da Estrela Polar e de outra estrela da Ursa Menor, a Kochab.
Ao longo das próximas semanas vamos apresentar os seguintes temas:
Autoria:
António Canas
Subdirector do Planetário Calouste Gulbenkian
Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de, Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses. 4ª ed., Mem Martins, Publicações Europa‑América, 1989.
COSTA, Abel Fontoura da, A Marinharia dos Descobrimentos, 4ª ed., Lisboa, Edições Culturais de Marinha, 1983. MIRANDA, Alberto Pereira de, “A determinação das horas nocturnas na Península Ibérica a partir do século XIII”, Anais do Clube Militar Naval, vol. CXXI, Julho-Setembro 1991, pp. 525-552.