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"Nunca deixe o seu senso de moral impedi-lo de fazer o que é certo."- Isaac Asimov
Mantenha o ambiente (marciano) limpo!
2009-02-22
Um recente artigo de Christopher McKay, um cientista da NASA (não confundir com outro McKay, David, para sempre ligado a uma rocha em particular, o famoso ALH84001, meteorito marciano que, para alguns, trouxe até ao nosso planeta micro-fósseis marcianos…), voltou a trazer à ribalta uma questão muito importante na exploração planetária: a contaminação.
O metorito de origem marciana AHL84001. Crédito: NASA.Embora não exclusivamente relativo a Marte, este é um tema que se põe com grande acuidade quando se considera o número de sondas que pousou no planeta vermelho, as que se preparam para o fazer nos anos vindouros, e as missões que vão desempenhar. A pergunta, talvez a mais fundamental de todas as perguntas que os seres humanos se podem colocar, é: haverá vida noutras paragens? Será a Terra o único refúgio desta coisa que não sabemos definir, e que nem podemos estar certos de reconhecer se assumir formas e princípios diferentes?
Assumamos que, de facto, a conseguiremos reconhecer – se assim não for, nem vale a pena procurar. E imaginemos que há vida em Marte… Terá essa vida algo a ver com a que existe na Terra, fará parte de uma mesma árvore? Não é impossível: meteoritos marcianos chegaram à Terra e, apesar de mais difícil, é admissível que se tenha também dado trânsito interplanetário no outro sentido…
Em alternativa (e não menos aliciante) existe a possibilidade de uma vida marciana com uma origem independente. Tal facto poderia indicar que a vida é frequente no Universo, e que é uma consequência normal da química…
Seja como for, teremos nós o direito de pôr em risco o ambiente marciano? Não há quaisquer dúvidas de que já enviámos para Marte muitas bactérias terrestres. Nos anos 70 do século passado, para lá do programa americano Viking que levou duas sondas, esterilizadas por meios térmicos, à superfície do planeta vermelho, houve algumas tentativas soviéticas de colocar engenhos automáticos no solo de Marte. E elas resultaram – pelo menos, as sondas chegaram lá, embora não em condições de enviarem dados para a Terra.
Estariam elas também esterilizadas? A resposta é sim, mas até que ponto? A verdade é que se instalou, depois da suposta resposta negativa das Viking à questão da existência de micróbios marcianos, um consenso: as condições existentes na superfície de Marte são demasiado hostis, e nada lhes pode sobreviver … E assim, décadas depois, os rovers Sojourner, Spirit e Opportunity, cuja missão não era especificamente a busca de sinais de vida, e apesar de construídos num ambiente “limpo”, deram boleia a centenas de milhar de bactérias. Presumivelmente mortas já, pela radiação ultravioleta do Sol que, à falta de uma camada de ozono na atmosfera de Marte, banha a superfície do planeta. Mas… Não é preciso muito para fornecer um escudo anti-UV, basta um escudo térmico abandonado depois da descida de uma sonda pela atmosfera. Não há falta desses, espalhados pela paisagem marciana.
O escudo térmico que protegeu o rover Opportunity na sua entrada na atmosfera marciana, repousa agora no solo de Marte. Crédito: NASA/JPL/Cornell.Há portanto locais na superfície de Marte onde é perfeitamente natural que existam, nesta altura, colónias de bactérias terrestres… teoricamente pouco activas, dadas as condições áridas que prevalecem na superfície. Já sabemos porém que a vida é não apenas resistente, é oportunista: se houver qualquer possibilidade de prosperar, ela é aproveitada. E as bactérias são mestres nisso.
Voltando ao artigo de McKay, ele sugere que se considere a possibilidade de limpar um dia as zonas já contaminadas, recolhendo as peças de equipamento dispersas e expondo todo o terreno à radiação ultravioleta; e que no futuro sejam mantidas e reforçadas as medidas de rigoroso controlo do risco de contaminação, particularmente nos casos de instrumentos que, por exemplo, penetrem no solo marciano (protegido da radiação, e longe de ser árido…) – como sucedeu para o braço mecânico da Phoenix, que escavou no gelo da planície boreal de Marte, mas que foi esterilizado antes da partida da Terra.
Considerações relevantes, numa altura em que se prepara uma reunião internacional para debater as questões éticas da exploração espacial relativamente a “potenciais biosferas indígenas”. Um tema que não poderá ser deixado de fora será também o da colonização humana. Para alguns, a descoberta de vida em Marte teria como consequência uma interdição absoluta da presença humana no planeta; mas para outros, essa vida (microbiana) não teria peso suficiente para impedir que os humanos viessem a fazer do planeta vermelho uma segunda casa – e quanto mais cedo, melhor.
O metorito de origem marciana AHL84001. Crédito: NASA.
Assumamos que, de facto, a conseguiremos reconhecer – se assim não for, nem vale a pena procurar. E imaginemos que há vida em Marte… Terá essa vida algo a ver com a que existe na Terra, fará parte de uma mesma árvore? Não é impossível: meteoritos marcianos chegaram à Terra e, apesar de mais difícil, é admissível que se tenha também dado trânsito interplanetário no outro sentido…
Em alternativa (e não menos aliciante) existe a possibilidade de uma vida marciana com uma origem independente. Tal facto poderia indicar que a vida é frequente no Universo, e que é uma consequência normal da química…
Seja como for, teremos nós o direito de pôr em risco o ambiente marciano? Não há quaisquer dúvidas de que já enviámos para Marte muitas bactérias terrestres. Nos anos 70 do século passado, para lá do programa americano Viking que levou duas sondas, esterilizadas por meios térmicos, à superfície do planeta vermelho, houve algumas tentativas soviéticas de colocar engenhos automáticos no solo de Marte. E elas resultaram – pelo menos, as sondas chegaram lá, embora não em condições de enviarem dados para a Terra.
Estariam elas também esterilizadas? A resposta é sim, mas até que ponto? A verdade é que se instalou, depois da suposta resposta negativa das Viking à questão da existência de micróbios marcianos, um consenso: as condições existentes na superfície de Marte são demasiado hostis, e nada lhes pode sobreviver … E assim, décadas depois, os rovers Sojourner, Spirit e Opportunity, cuja missão não era especificamente a busca de sinais de vida, e apesar de construídos num ambiente “limpo”, deram boleia a centenas de milhar de bactérias. Presumivelmente mortas já, pela radiação ultravioleta do Sol que, à falta de uma camada de ozono na atmosfera de Marte, banha a superfície do planeta. Mas… Não é preciso muito para fornecer um escudo anti-UV, basta um escudo térmico abandonado depois da descida de uma sonda pela atmosfera. Não há falta desses, espalhados pela paisagem marciana.
O escudo térmico que protegeu o rover Opportunity na sua entrada na atmosfera marciana, repousa agora no solo de Marte. Crédito: NASA/JPL/Cornell.
Voltando ao artigo de McKay, ele sugere que se considere a possibilidade de limpar um dia as zonas já contaminadas, recolhendo as peças de equipamento dispersas e expondo todo o terreno à radiação ultravioleta; e que no futuro sejam mantidas e reforçadas as medidas de rigoroso controlo do risco de contaminação, particularmente nos casos de instrumentos que, por exemplo, penetrem no solo marciano (protegido da radiação, e longe de ser árido…) – como sucedeu para o braço mecânico da Phoenix, que escavou no gelo da planície boreal de Marte, mas que foi esterilizado antes da partida da Terra.
Considerações relevantes, numa altura em que se prepara uma reunião internacional para debater as questões éticas da exploração espacial relativamente a “potenciais biosferas indígenas”. Um tema que não poderá ser deixado de fora será também o da colonização humana. Para alguns, a descoberta de vida em Marte teria como consequência uma interdição absoluta da presença humana no planeta; mas para outros, essa vida (microbiana) não teria peso suficiente para impedir que os humanos viessem a fazer do planeta vermelho uma segunda casa – e quanto mais cedo, melhor.