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"Eu não temo os computadores, temo não possuí-los."
- Isaac Asimov


A Era Espacial

2007-10-04
Celebra-se no dia 4 de Outubro o início da Era Espacial; há 50 anos atrás, foi lançado o Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra. Foi também o começo de uma verdadeira competição entre as duas superpotências da época, a União Soviética e os Estados Unidos. Essa corrida, pela afirmação de uma supremacia tecnológica e científica que supostamente reflectiria a superioridade de um sistema político-económico sobre outro, levou os primeiros homens à Lua, e sondas automáticas à vizinhança de todos os planetas do Sistema Solar.



Modelo da Sputnik 1. Crédito: NSSDC Master Catalog by NASA.


De facto, estes 50 anos representam um riquíssimo período de descobertas sobre o nosso cantinho do Universo. A começar pelo nosso próprio planeta, hoje em dia vigiado por uma vasta panóplia de satélites que nos dão informações sobre o clima e o tempo (meteorológico), vigiam as convulsões vulcânicas e outros desastres naturais, controlam o crescimento das culturas, asseguram as nossas comunicações, e realizam uma enorme gama de outras tarefas, sempre ilustrando o facto de que, visto do espaço, o nosso mundo é um sistema único, sem fronteiras. Torna-se difícil imaginar que há 50 anos atrás a consciência dessa globalidade era pouco mais do que um sonho na ideia de um punhado de cientistas que ergueram o Ano Geofísico Internacional (1957-1958). Sob o lema “Uma volta em torno do Sol”, a ideia era, pela primeira vez, utilizar todos os instrumentos e técnicas que tinham sido desenvolvidos desde a II Guerra Mundial, e integrar as observações de inúmeras equipas espalhadas pelo globo, dando um passo decisivo no conhecimento sobre a Terra. E foi desta iniciativa, por exemplo, que surgiram as provas inequívocas que levaram à aceitação da Tectónica de Placas na década seguinte.

Nos Estados Unidos, planeava-se para aquele período o lançamento de um satélite capaz de realizar observações geofísicas. Tinha sido a Marinha a ganhar a corrida interna para a construção do engenho, mas os preparativos para o grande momento decorriam sem pressas. Tudo mudou com o lançamento do Sputnik. E pouco tempo depois, a 6 de Dezembro, em directo na televisão americana, o foguetão que devia colocar em órbita o Vanguard TV3 explodia... dois segundos após o lançamento. Apesar deste mau começo e de terem passado os primeiros anos da Era Espacial a assistir a uma série de êxitos soviéticos, a criação da NASA e a fortíssima vontade política de corrigir a situação acabaram por levar os Estados Unidos a uma posição de liderança na exploração do Sistema Solar. Eram americanos os únicos homens que até hoje pisaram o solo lunar, eram-no as sondas que nos deram as primeiras imagens de Marte visto de perto, e as que até hoje desceram com sucesso na superfície do planeta, era americana a única sonda a visitar Mercúrio – e a próxima, já no fim deste ano, também o é –, e americanas também as sondas que na última década visitaram os sistemas de Júpiter e Saturno. Felizmente, outros actores surgiram na cena, e temos de destacar aqui, evidentemente, a Europa. Se é certo que a ESA não prima pela imaginação na divulgação do seu trabalho, é importante reconhecer que as missões europeias têm demonstrado uma capacidade científica e tecnológica fantástica. Era europeia a sonda Giotto, que se aproximou e fotografou o cometa de Halley, e neste momento a ESA tem sondas automáticas em torno de Marte e Vénus, uma outra (Rosetta) a caminho de um cometa longínquo – onde vai fazer pousar um pequeno módulo; sem esquecer um cilindro de pequenas dimensões, baptizado com o nome de Huygens, agora para sempre silencioso na superfície de Titã, mas que realizou uma extraordinária façanha, descendo através da atmosfera de um satélite de um gigante gasoso, a muitos e muitos milhões de quilómetros, e transmitindo dados da sua superfície.


Voyager 1. Crédito: NASA.
Mas a Humanidade tem também já os seus mensageiros a caminho das estrelas. Primeiro foram as duas Pioneer, 10 e 11, lançadas em 1972 e 1973, as primeiras sondas a atravessarem a cintura de asteróides. E depois, há 30 anos, foram as Voyager, 1 e 2. Como os seus próprios nomes indicam, estas pequenas naves partiram numa viagem sem regresso, primeiro percorrendo as distantes regiões do Sistema Solar onde reinam os gigantes gasosos com os seus cortejos de satélites gelados, e depois lançando-se em direcção ao espaço - já não interplanetário, mas sim interestelar. Cada uma delas tem a bordo uma mensagem dos habitantes do terceiro planeta deste Sistema – uma placa nas Pioneer, um disco dourado, contendo sons e imagens da Terra, nas Voyager. Afastando-se do Sol em direcções divergentes, estas sondas avançam a velocidades que nos parecem enormes (da ordem da dezena e meia de quilómetros por segundo), mas que, à escala do Universo, são quase ridículas. Serão milhões de anos até se aproximarem de uma outra estrela... Talvez nessa altura a Humanidade já tenha desaparecido. Mas sejamos optimistas: também pode ser que nessa era longínqua o Sistema Solar fervilhe de actividade humana, e que nos tenhamos aventurado pelo Cosmos, usando novas tecnologias, por agora ainda do domínio da Ficção Científica. Há (sempre) quem sonhe com essa possibilidade.

Há 50 anos atrás, começámos a cumprir o velho sonho de Tsiolkovsky, e demos o primeiro passo para fora do berço. As estrelas continuam à nossa espera...