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Ditos
"Se você fosse um verdadeiro seguidor da verdade, seria necessário que pelo menos uma vez na vida você duvidasse, tanto quanto possível, de todas as coisas."- René Descartes

Alguém aí quer PHO?
2016-06-23
24.Jun.- 30.Jun.2016 (Portugal)
PHO pode chegar à mesa em duas variações. Na sua forma mais frequente, pho é uma sopa vietnamita com caldo, massa de arroz e bocados de carne. É servida quente, e o pior que pode acontecer com uma boa sopa destas é ficar com vontade de mais. Na sua forma menos frequente, PHO é um objeto potencialmente perigoso vindo do espaço. Também é servido quente, e o pior que pode acontecer com um bom PHO do espaço é a vida na Terra ser aniquilada.
Estranhamente, há muito mais gente no mundo empenhada em encontrar o melhor vendedor de rua ou restaurante servindo pho, a sopa, do que gente à procura de PHOs, objetos em rota de colisão com o nosso planeta.
Há três anos, um bólide com um tamanho de cerca de 17 m penetrou a atmosfera e explodiu por cima da cidade de Cheliabinsk/Rússia. Dos mais de um milhão de habitantes, apenas 1200 precisaram de assistência médica. Porém, se o asteroide tivesse embatido, nenhum habitante teria precisado de assistência médica... nunca mais.
Diagrama dos impactos de asteroides com a atmosfera terrestre detetados durante as últimas duas décadas (1994-2013). Os objetos desintegraram-se durante os impactos. O tamanho dos círculos indica a energia libertada medida em milhares de milhões de Joule (GJ). 1 GJ equivale à energia de um saco contendo 3 milhões de kg de batatas. Crédito: NASA.
95 anos antes, em 1908, em Tunguska, também na Rússia, ocorreu um evento idêntico, embora três vezes mais potente, arrasando tudo o que estava acima do solo num raio de 20 km. Não chegou a haver nem uma mão cheia de vítimas pois tratava-se de uma região desabitada. Se o objeto tivesse chegado apenas 2 a 3 horas mais tarde, hoje, possivelmente, faltava uma das capitais entre a Rússia, a Escandinávia e a Inglaterra.
Em ambos os casos, os objetos que penetraram a atmosfera eram pequenos. Nos dias abrangidos pela crónica da semana passada, 18 objetos cruzaram os céus perto da Terra (NEO = Near Earth Objects/objetos próximos da Terra). Desses, o mais pequeno tem sensivelmente o tamanho do objeto de Cheliabinsk e passou no dia 19 a uma distância que é 2,5 vezes a da Lua. Metade dos objetos apresenta um tamanho igual ao estimado para o objeto de Tunguska. Os restantes objetos, com 100 a 500 metros, provocariam, em caso de embate, a necessidade urgente de alterar os mapas de uma região com a área da grande Lisboa, do grande Porto ou de Paris.
O que fazer em caso de embate de um objeto vindo do espaço? Se o ponto de embate iminente previsto for próximo, talvez o melhor seja colocarmo-nos precisamente nesse local e o assunto fica arrumado. Nas áreas limítrofes à zona de embate também não ficará muita coisa de pé, mas ao menos os municípios em causa ficam com toda a liberdade para elaborarem um plano de ordenamento do território de raiz. Em áreas um pouco mais distantes ainda, será necessário consultar os planos de emergência da proteção civil.
Porém, tudo o que, segundo estes planos, poderá possivelmente ocorrer, seja natural, tecnológico ou social, ocorrerá ao mesmo tempo em caso de um embate não muito distante - desde incêndios, desabamentos, até a conflitos armados à moda dos filmes pós-apocalípticos, tudo.
Vendo os planos de emergência na transversal, nota-se claramente a dedicação à matéria em causa, nomeadamente as responsabilidades, a abundância de siglas no texto (mínimo 50 distintas por documento), o quem-reporta-a-quem e os ideais da teoria de proteção de pessoas e bens. Ler um plano de emergência da proteção civil é uma experiência semelhante à leitura de um contrato de seguros ou de abertura de conta bancária, incluindo tudo o que costuma estar em letra minúscula. O que realmente deve acontecer, depois de decifrarmos as siglas, fica por dizer. Salve-se quem puder.
Queres saber o que anda aí no espaço? A lista sempre atualizada dos objetos que passaram recentemente e irão passar perto da Terra nos próximos dias e meses pode ser acedida aqui:
http://neo.jpl.nasa.gov/ca/
Também existe uma tabela dos objetos em risco de embater, mais cedo ou mais tarde:
http://neo.jpl.nasa.gov/risk/
No entanto, esta lista de pouco serve, pois, até agora, só descobrimos uma minúscula parte das ameaças potenciais que cruzam a órbita da Terra.
Chamar a atenção para a realidade dos factos, não criar pânico, nem paranoia desnecessária, é certamente relevante. Uma das iniciativas que pretende aumentar a consciencialização sobre este tema é o Asteroid Day (dia do asteroide). Este dia ocorre a 30 de Junho de cada ano, o aniversário da queda do meteoro em Tunguska, e é uma espécie de campanha de sensibilização global. Haverá muitos eventos dedicados ao tema promovidos por inúmeras instituições e especialistas em todo o mundo.
Oxalá nunca te caia um PHO na pho!
Fenómenos da semana
27.6. 19:20 Lua em quarto minguante
29.6. 00:57 Lua perto de Úrano (2,5° S) Lua nasce às 2:20
30.6. —.— Global Asteroid Day
Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt
PHO pode chegar à mesa em duas variações. Na sua forma mais frequente, pho é uma sopa vietnamita com caldo, massa de arroz e bocados de carne. É servida quente, e o pior que pode acontecer com uma boa sopa destas é ficar com vontade de mais. Na sua forma menos frequente, PHO é um objeto potencialmente perigoso vindo do espaço. Também é servido quente, e o pior que pode acontecer com um bom PHO do espaço é a vida na Terra ser aniquilada.
Estranhamente, há muito mais gente no mundo empenhada em encontrar o melhor vendedor de rua ou restaurante servindo pho, a sopa, do que gente à procura de PHOs, objetos em rota de colisão com o nosso planeta.
Há três anos, um bólide com um tamanho de cerca de 17 m penetrou a atmosfera e explodiu por cima da cidade de Cheliabinsk/Rússia. Dos mais de um milhão de habitantes, apenas 1200 precisaram de assistência médica. Porém, se o asteroide tivesse embatido, nenhum habitante teria precisado de assistência médica... nunca mais.

Diagrama dos impactos de asteroides com a atmosfera terrestre detetados durante as últimas duas décadas (1994-2013). Os objetos desintegraram-se durante os impactos. O tamanho dos círculos indica a energia libertada medida em milhares de milhões de Joule (GJ). 1 GJ equivale à energia de um saco contendo 3 milhões de kg de batatas. Crédito: NASA.
95 anos antes, em 1908, em Tunguska, também na Rússia, ocorreu um evento idêntico, embora três vezes mais potente, arrasando tudo o que estava acima do solo num raio de 20 km. Não chegou a haver nem uma mão cheia de vítimas pois tratava-se de uma região desabitada. Se o objeto tivesse chegado apenas 2 a 3 horas mais tarde, hoje, possivelmente, faltava uma das capitais entre a Rússia, a Escandinávia e a Inglaterra.
Em ambos os casos, os objetos que penetraram a atmosfera eram pequenos. Nos dias abrangidos pela crónica da semana passada, 18 objetos cruzaram os céus perto da Terra (NEO = Near Earth Objects/objetos próximos da Terra). Desses, o mais pequeno tem sensivelmente o tamanho do objeto de Cheliabinsk e passou no dia 19 a uma distância que é 2,5 vezes a da Lua. Metade dos objetos apresenta um tamanho igual ao estimado para o objeto de Tunguska. Os restantes objetos, com 100 a 500 metros, provocariam, em caso de embate, a necessidade urgente de alterar os mapas de uma região com a área da grande Lisboa, do grande Porto ou de Paris.
O que fazer em caso de embate de um objeto vindo do espaço? Se o ponto de embate iminente previsto for próximo, talvez o melhor seja colocarmo-nos precisamente nesse local e o assunto fica arrumado. Nas áreas limítrofes à zona de embate também não ficará muita coisa de pé, mas ao menos os municípios em causa ficam com toda a liberdade para elaborarem um plano de ordenamento do território de raiz. Em áreas um pouco mais distantes ainda, será necessário consultar os planos de emergência da proteção civil.
Porém, tudo o que, segundo estes planos, poderá possivelmente ocorrer, seja natural, tecnológico ou social, ocorrerá ao mesmo tempo em caso de um embate não muito distante - desde incêndios, desabamentos, até a conflitos armados à moda dos filmes pós-apocalípticos, tudo.
Vendo os planos de emergência na transversal, nota-se claramente a dedicação à matéria em causa, nomeadamente as responsabilidades, a abundância de siglas no texto (mínimo 50 distintas por documento), o quem-reporta-a-quem e os ideais da teoria de proteção de pessoas e bens. Ler um plano de emergência da proteção civil é uma experiência semelhante à leitura de um contrato de seguros ou de abertura de conta bancária, incluindo tudo o que costuma estar em letra minúscula. O que realmente deve acontecer, depois de decifrarmos as siglas, fica por dizer. Salve-se quem puder.
Queres saber o que anda aí no espaço? A lista sempre atualizada dos objetos que passaram recentemente e irão passar perto da Terra nos próximos dias e meses pode ser acedida aqui:
http://neo.jpl.nasa.gov/ca/
Também existe uma tabela dos objetos em risco de embater, mais cedo ou mais tarde:
http://neo.jpl.nasa.gov/risk/
No entanto, esta lista de pouco serve, pois, até agora, só descobrimos uma minúscula parte das ameaças potenciais que cruzam a órbita da Terra.
Chamar a atenção para a realidade dos factos, não criar pânico, nem paranoia desnecessária, é certamente relevante. Uma das iniciativas que pretende aumentar a consciencialização sobre este tema é o Asteroid Day (dia do asteroide). Este dia ocorre a 30 de Junho de cada ano, o aniversário da queda do meteoro em Tunguska, e é uma espécie de campanha de sensibilização global. Haverá muitos eventos dedicados ao tema promovidos por inúmeras instituições e especialistas em todo o mundo.
Oxalá nunca te caia um PHO na pho!
Fenómenos da semana
27.6. 19:20 Lua em quarto minguante
29.6. 00:57 Lua perto de Úrano (2,5° S) Lua nasce às 2:20
30.6. —.— Global Asteroid Day
Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt