Perpetuar um eclipse lunar
Um eclipse lunar completo demora habitualmente algumas horas, e mesmo a fase da totalidade dura bem mais que uma hora. Por experiência própria do autor, olhar sozinho horas a fio para a Lua pode ser um pouco desconcertante. Assim, para evitar o tédio, um eclipse lunar é um evento indicado para ser partilhado com outras pessoas, juntando ao que se passa no céu, uma tertúlia caseira, um petisco nocturno, ou outra actividade ao gosto de cada um para tornar o momento memorável.
No entanto, ao longo do tempo, a nossa memória não só sofre do inevitável esquecimento como também tende alterar certos pormenores. Portanto, para complementar a imagem do eclipse que fica nas nossas mentes e almas, poder-se-á considerar registar o eclipse por meios fotográficos, perpetuando este dia para tempos no futuro mais distante.
Fotografar um eclipse
Fotografias em película
Fotografar a Lua cheia é fácil e, devido ao seu brilho, os tempos de exposição devem ser bastante curtos (1/1000 até 1/250 s). No entanto, quando metade ou mais da Lua está mergulhada na sombra da Terra, os tempos de exposição devem ser aumentados para que a Lua menos brilhante deixe as suas marcas na película (1 até 20 s, conforme a sensibilidade do filme).
As câmaras reflex (SLR) são praticamente as únicas que permitem controlar o ajuste do tempo de exposição. Portanto, para registar um eclipse da Lua em película recomenda-se utilizar uma câmara reflex montada num simples tripé para evitar que a imagem fique tremida.
As objectivas padrão de uma câmara reflex têm tipicamente uma distância focal de 50 mm. A imagem da Lua, tirada com uma objectiva de 28 até 50 mm de distância focal, fica extremamente pequena, inadequada para grandes ampliações da face lunar. Por outro lado, usando uma teleobjectiva pode ser mais favorável no que respeita os pormenores visíveis na Lua, mas implica também um aumento substancial do tempo de exposição. Para evitar que os movimentos da Terra e da Lua se manifestem na imagem com a câmara apoiada num tripé simples (a Lua ficaria como uma elipse), a teleobjectiva não deverá ter mais de 120 mm de distância focal e o tempo de exposição não deverá ultrapassar cerca de 30 segundos. Para objectivas de grande campo recomenda-se um filme com uma sensibilidade de 100 até 200 ASA, para tele-objectivas de 400 até 800 ASA.
Um eclipse, uma só imagem
No caso de objectivas de grande campo (até 50 mm) é aconselhável registar as várias fases do eclipse numa única imagem. Para isso precisará de um cabo de disparo (disponível nas boas lojas de material fotográfico) e colocar a câmara no modo B (bulb), o que deixa o obturador aberto durante todo o tempo que for premido o botão de disparo (o cabo de disparo tem um travão para manter o obturador aberto).
Convém, numa noite anterior, verificar no visor da câmara o percurso que a Lua tem no céu e como melhor enquadrar a imagem numa exposição que pode durar quase 4 horas. No dia do eclipse, basta colocar a Lua, pouco antes da fase parcial, perto do bordo esquerdo do visor da câmara, fechar o diafragma para 1:11 e iniciar a exposição (modo B). No fim do eclipse basta soltar o travão do cabo de disparo e a imagem está pronta para ser revelada. Com uma objectiva de 50 mm não é possível enquadrar todo o eclipse. Neste caso convém começar a exposição com 1/3 da Lua já mergulhada na sombra central.
Este tipo de imagem fará com que a Lua e as estrelas fiquem um traço longo na fotografia. Se preferir fotografar as várias fases do eclipse na mesma imagem, precisará ainda um pano grosso opaco (preferencialmente preto) ou um chapéu/boné muito leve para tapar a objectiva durante a maior parte do tempo.
Ao usar um pano para tapar a objectiva, deverá fechar o diafragma na posição 1:5,6 e usar um filme com uma sensibilidade de 200 ASA. Antes de activar o cabo de disparo, tape a objectiva com o pano. Com a máquina ajustada para a posição B accione o cabo de disparo. Como a Lua inicialmente ainda está muito brilhante, deverá levantar o pano apenas um instante (fracção de um segundo). Depois da primeira exposição, espere 15 minutos e repita o processo, levantando o pano por um instante. A partir da 4 exposição (passado 45 minutos) deverá aumentar o tempo que a objectiva deve ficar aberta:
Levante o pano e começa contar os segundos neste momento e tape a objectiva no instante em que chega ao último segundo a contar.Para o resto do eclipse prossiga exactamente pela ordem inversa. Aponte todos os tempos de exposição num papel. Se a imagem não sair perfeita, terá um registo adequado para planear a fotografia de um próximo eclipse da Lua.
Importante: Ao levantar o pano, deverá assegurar-se que a câmara não treme ou sai da sua posição.
Fotografar em película com teleobjectiva
Usando uma teleobjectiva é necessário realizar fotografias individuais, pois é impossível captar todo o eclipse numa única imagem. A vantagem das fotografias individuais é de poder fazer várias exposições do mesmo momento, usando uma gama de tempos de exposição. Desta forma pode ter quase a certeza, de que cada fase do eclipse tenha pelo menos uma imagem com o melhor tempo de exposição. Com um filme de 400 até 800 ASA e uma teleobjectiva com uma distância focal de no máximo 120 mm (diafragma na posição 1:5,6) faça exposições individuais com a seguinte gama de tempos (precisará 2 filmes para todo o eclipse):
Faça a sequência de fotografias em intervalos de 10 a 20 minutos, mantendo o intervalo entre as sequência sempre iguais (a excepção pode ser o momento exacto da totalidade central).
Fotografias com câmara digital
Ao usar uma câmara digital é imediatamente possível verificar o resultado da imagem obtida. Como tal é relativamente fácil experimentar e estipular o tempo certo de exposição durante cada fase do eclipse. Porém, as máquinas digitais são grandes comedoras de energia. Tenha pelo menos 2 conjuntos de baterias de reserva disponíveis ou, caso possível, ligue a máquina a uma fonte de alimentação adequada (veja o manual da máquina). Desaconselha-se o uso do zoom digital. Tente fotografar apenas com o zoom óptico da máquina. Configure a máquina para uma sensibilidade não superior a 400 ASA e mantenha-a sobre um tripé. Algumas câmaras digitais não dispõem de tempos acima de 1 segundo. Neste caso pode ser necessário aumentar a sensibilidade (ISO/ASA) para um valor mais elevado durante a fase da totalidade. Tente usar uma compressão mínima, para poder ampliar as imagens sem perder muita qualidade.
É evidente, que tanto na fotografia convencional como digital, as fotografias devem ser a cores para captar e sublinhar toda a beleza do registo do evento.
Boa sorte!