Figura 4: Os quatro estados finais de Vénus (Correia e Laskar, 2001).
A questão restante que se coloca é de saber quais são as condições iniciais (período de rotação e inclinação do eixo após a formação do planeta, há mais de quatro mil e quinhentos milhões de anos) que encaminham o planeta para cada um dos estados finais possíveis. Foi possível demonstrar que, sob a acção dos diversos efeitos de maré e também com a ajuda da dissipação de energia entre o núcleo e o manto do planeta, independentemente da inclinação inicial do eixo do planeta, este irá evoluir ao longo do tempo estabilizando apenas quando o eixo for perpendicular ao plano da órbita, i.e., para inclinações do eixo iguais a 0 ou 180 graus (a inclinação da Terra actualmente é de 23,5 graus). O período de rotação de Vénus evolui lentamente sob a acção das marés para um dos dois estados descritos anteriormente. Para cada inclinação final do eixo, temos dois períodos de rotação possíveis, logo obtém-se um total de quatro estados finais (Fig. 4), dois prógrados (F
0+,F
π+) e dois retrógrados (F
0-,F
π-). Sabe-se a partir das observações que Vénus se encontra num dos estados retrógrados e que possui um período de rotação de equilíbrio de 243,0 dias. Conhecendo este estado final é possível deduzir as condições finais dos outros. Assim, caso Vénus tivesse evoluído para um estado prógrado, o seu período de rotação final seria de 76,8 dias (Correia e Laskar, 2001)
Os dois estados prógrados e os dois estados retrógrados são equivalentes entre si, apenas podendo ser diferenciados se se conhecer a evolução do planeta para cada um deles (um observador no presente não é capaz de os destinguir). Assim, os estados F
0- e F
π- representam ambos a observação actual de Vénus, mas correspondem a histórias totalmente diferentes: no primeiro caso (F
0-), a rotação do planeta vai diminuindo por efeito de maré, enquanto que a inclinação do seu eixo evolui para 0 graus. A rotação do planeta vai diminuindo sempre até que o planeta pára de rodar e em seguida começa a rodar no sentido contrário, estabilizando na velocidade de rotação de −243 dias. No segundo cenário (F
π-), a rotação do planeta diminui igualmente até atingir os 243 dias de período (nunca há inversão do sentido de rotação), sendo a inclinação do seu eixo que aumenta até estabilizar nos 180 graus (neste caso é o eixo do planeta que se vira ao contrário).