Dinâmica


Em 1960, quando o planeta Vénus foi estudado por radar descobriu-se algo totalmente inesperado: Vénus tem um período de rotação próprio de 243 dias e não tem mesma direcção de rotação que a Terra ou a maioria dos corpos do Sistema Solar. A sua rotação retrógrada é de este para oeste ao contrário da Terra que tem uma rotação de oeste para este. O planeta Terra demora cerca de 365 dias a completar uma órbita em torno do Sol, Vénus por sua vez demora um pouco mais de 224 dias. É interessante reparar que um dia em Vénus, 243 dias, é mais longo que um ano, 224 dias.

Como resultado desta lenta rotação, da sua órbita quase circular e da pequena inclinação do seu eixo, a circulação atmosférica do planeta é relativamente simples. O Sol encontra-se sempre sobre o equador, o que faz com que o ar seja aquecido nas baixas latitudes (perto do equador) subindo na atmosfera e movendo-se em direcção aos pólos onde arrefece e desce antes de se deslocar para latitudes inferiores.


Estas imagens no ultravioleta foram obtidas com intervalo de um dia. É de notar o movimento das estruturas em torno do equador. Crédito: Missão Pioneer Venus da NASA.
Mas este cenário simplista é de facto bem mais complexo. Um das questões mais complicadas de explicar na atmosfera de Vénus é a chamada Super Rotação. O planeta Vénus quando observado com um filtro ultravioleta revela-nos diferentes estruturas nas nuvens com altitudes entre os 50 e 60 km acima da superfície. Estas estruturas deslocam-se paralelamente ao equador com um período entre 4 a 5 dias, indicando velocidades na ordem de 100 metros por segundo. Cerca de 50 vezes mais rápido que a velocidade de rotação da superfície.

Esta dualidade entre a dinâmica atmosfera e a dinâmica do corpo sólido é uma das questões mais intrigantes do planeta Vénus. Está a super rotação intrincada na interacção superfície – atmosfera? Qual é o “motor” desta super rotação? E porque é que o planeta tem uma rotação retrógrada? A explicação, para esta última pergunta, parece estar na colisão de um corpo de grandes dimensões com o planeta Vénus, durante o seu processo de formação. Mas não há indícios actuais da ocorrência de tal colisão, levando a que outras teorias sejam apontadas para esta peculiar rotação (ver Tema do Mês Junho 2004: A Rotação Retrógrada de Vénus).

Em 2006, com a chegada a Vénus da missão Venus Express, começou uma nova época para a investigação deste planeta. Os dados que agora começam a ser estudados pelas diversas equipas científicas podem conter as respostas para as diversas perguntas, mas claro também vão levantar muitas mais questões. Mas a ciência vive dessa forte ligação pergunta – resposta.