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- Arthur C. Clarke


A cratera roubada

2006-03-23


Cratera Kebira no Egipto. Crédito: NASA, Robert Simmon, Landsat-7, UMD Global Land Cover Facility.


Em 2001, o satélite de observação terrestre Landsat7 tirou esta fotografia do Egipto. Agora, o círculo ponteado (e o título da crónica) tornam bastante óbvio o que se passa aqui, mas por um momento olhe para a fotografia e faça de conta que o círculo não está lá. Agora jure dizer a verdade: nunca veria aqui uma cratera pois não? Eu sei que eu não veria.

E é assim que uma cratera com 31 quilómetros de diâmetro permanece escondida: à vista de todos. É tão estupidamente grande que nunca ninguém reparou nela. Farouk El-Baz identificou-a, mas é preciso ver que, ele tem experiência. Ele ensinou geologia da superfície lunar aos astronautas das Apollo (e se o seu nome lhe é familiar, um vaivém do Star Trek: The Next Generation foi baptizado em honra dele).

El-Baz sabia que existia um vidro esverdeado que se encontrava no Egipto chamado “vidro de impacto”. Normalmente é formado com um grande meteorito bate no solo; o calor e a pressão tremenda fundem em vidro a areia por debaixo (um grande impacto pode obnubilar uma bomba nuclear em termos de energia produzida, apesar da temperatura ser muito inferior). Então El-Baz usou imagens de satélite para procurar, e voilà.

Obviamente que ele tem bom olho para isto. Lembre-se, ele não tinha um círculo ponteado para o guiar.

A borda levantada é bastante clara depois de a ver. O meteorito deve ter sido enorme, provavelmente com um quilómetro de comprimento. Qualquer coisa dentro de um raio de milhares de quilómetros deve ter tido um dia não – calculo que a energia libertada fosse aproximadamente igual a 200 000 megatoneladas, apesar de poder estar errado num factor de dois ou três. Como comparação, a maior arma nuclear alguma vez detonada tinha cerca de 60 megatoneladas. O bólide (n.d.t.: o “calhau” em forma de meteoro quando ainda estava na atmosfera) terá sido tão quente como a superfície do Sol, e apenas o calor do impacto terá causado danos numa escala inimaginável. Depois a onda de impacto ter-se-á expandido em forma de círculo, e a verdadeira destruição terá aí começado…

A cratera era gigantesca, mas centenas de milhões de anos de erosão desgastaram-na até um cadeia de encostas difíceis de ver a olho. Mesmo assim, estava lá o tempo todo, à espera que alguém reparasse. Nós nunca a vimos, e está aqui mesmo na Terra! O que nos esperará nos outros planetas?


Tradução de José Raeiro. Link para o artigo original.