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Uma carta aberta à NASA

2006-02-23
Como referi num post anterior, o orçamento da NASA para o ano fiscal de 2007 inclui cortes devastadores para a ciência. O novo Programa de Exploração (ir à Lua e a Marte) vai custar uma fortuna.

Esse dinheiro tem que vir de algum lado, e apesar desta ideia ter sido atiçada pelo Presidente, ele não atribuiu fundos adicionais para este programa. Esse dinheiro tem que vir de algum lado, e de certeza que não vem do Shuttle ou da Estação Espacial Internacional (apesar de derrapagens orçamentais enormes, atrasos longos, e ausência de qualquer meta claramente definida para ambos). Isto implica que o dinheiro tem que vir do orçamento da NASA para a ciência, que irá pagar um preço muito caro, muito caro mesmo. Missões inteiras estão a ser canceladas, e outras estão a ser adiadas indefinidamente ou a sofrer cortes incapacitantes.

Astrónomos de todo o país enviaram cartas a Griffin, exprimindo a sua preocupação em vários graus de nível emocional. Existem alguns modelos de cartas por aí, mas eu achei que estas não se adequavam àquilo que eu queria dizer. Então escrevi uma eu mesmo, e enviei-a por fax ao Dr. Griffin há algumas horas atrás. Pelo que eu percebi, as cartas enviadas hoje à noite serão recolhidas e entregues ao Congresso, que irá depois ter duas semanas para debater esta situação. Eu não estou à espera que os membros do House Science Committee se dêem ao trabalho de as ler (apesar de um grupo do staff o poder fazer, para depois transmitir alguns resumos). O mais provável é que eles simplesmente contem quantas são para saber quantos astrónomos estão realmente irritados. Pista: Eu sou um deles.

Em baixo está a minha carta. Depois disso, inseri links para o que outros astrónomos estão a dizer ou a fazer.

21 de Fevereiro de 2006

Dr. Michael Griffin
Administrator
National Aeronautics and Space Administration
300 E ST, SW
Washington, DC 20546


Caro Dr. Griffin:

Quando foi publicado o orçamento da NASA para o ano fiscal de 2007, fiquei chocado por ver os danos extraordinários infligidos ao programa de ciência.

O impacto mais forte da NASA no senso-comum do público passa tanto pela exploração como pela ciência, principalmente quando ambas são combinadas. A missão Cassini, os Rovers de Marte, o Hubble, o Spitzer, a New Horizons - estes conquistaram a imaginação das pessoas por todo o país, por todo o mundo, e fizeram com que gerações de estudantes olhassem para o céu maravilhados.

As missões tripuladas também fazem parte disto. As missões Apollo uniram este país como nenhum programa espacial fez. E na comunidade de ciências espaciais, não irá encontrar um apoiante mais entusiástico e divulgador do nosso regresso à Lua que eu próprio. Mas isso não pode acontecer às custas das ciências do espaço. Fiquei profundamente perturbado ao ver tais cortes devastadores, atrasos, e cancelamentos de missões científicas no orçamento de 2007. A lista de missões ameaçadas é espantosa:

A missão WISE MIDEX é insuficientemente financiada, a SOFIA está em stand-by, a Dawn (adiada indefinidamente) está sentada num armazém pronta para ser lançada, a TPF foi adiada, o Astrobiology Institute sofreu um corte quase total dos seus fundos nos próximos dois anos, cortes tremendos foram feitos nas duas missões Mars Scout, a sonda Europa foi indefinidamente adiada, e a SMEX NuSTAR foi cancelada poucas semanas antes da proposta estar completa; cortadas em actos e palavras do orçamento.

O Dr. Griffin foi citado por ter dito que atrasar o programa de exploração seria mais nefasto que atrasar o científico. Eu discordo veementemente: os atrasos na ciência não serão simples atrasos; os cientistas terão que encontrar outros programas onde trabalhar entretanto, e as missões perderão rapidamente especialistas. Isto levará quase de certeza a mais atrasos, mais derrapes orçamentais, e eventuais cancelamentos.

O programa Explorer foi concebido para fornecer acesso rápido e frequente ao espaço, contudo passaram quatro anos desde o último Annoucement of Opportunity (que incluía a proposta vencedora para o NuSTAR, actualmente cancelado), e apesar de outra AO estar agendada para o próximo ano, sinceramente até isso parece dúbio. Dado que tantas missões excelentes fizeram parte do Explorer (incluindo as missões fabulosamente bem sucedidas Swift gamma-ray burst e a Wilkinson Microwave Anisotropy Probe), e que as NRC Decadal Surveys enalteceram consistentemente a importância crítica do programa Explorer para as ciências do espaço, estes cortes demonstram falta de visão para não dizer mais.

Todos conhecemos as pressões orçamentais sob as quais a NASA se encontra, que tem que tomar decisões orçamentais muito difíceis, mas cortar na ciência de tal maneira devastadora não será o melhor de todos os cenários possíveis. Uma solução simples para tudo isto é a NASA pedir mais dinheiro para suportar o Programa de Exploração; dado que este empurrão foi dado pela actual Administração Presidencial, esta parece ser a maneira mais adequada de proceder. Claro que seria ingénuo partir do princípio que daria resultados. Excluindo isso, posteriormente, seria racional virarmo-nos para a descontinuação gradual do Shuttle e da ISS, e ver se o dinheiro poderia vir daí. Os fundos necessários para a ciência são relativamente pequenos comparados com o que é preciso para esses.

A comunidade científica está a distanciar-se daquilo que está a ser proposto pela NASA. Tem mesmo de haver outra forma de financiar o Programa de Exploração - o qual, eu relembro, suporto veementemente - em vez de roubar ao Pedro para pagar ao Paulo.

Peço-lhe que suporte a ciência: descubra uma forma de reactivar as missões atrasadas ou canceladas, e permita que uma nova geração de cientistas descubra o caminho das estrelas.

Com os melhores cumprimentos,

Dr. Philip Plait
BadAstronomy.com e Sonoma State University

Cc:
NASA Associate Administrator, Science Mission Directorate, Dr. Mary Cleave
United States Senate Appropriations Subcommittee on Commerce, Justice, Science
House of Representatives Appropriations Subcommittee on Science, State, Justice, Commerce
United States Senate Committee on Commerce, Science and Transportation
House of Representatives Committee on Science


Aqui fica o que outros astrónomos disseram:

Acho que se alguém quiser escrever uma carta, poderá ser tarde demais para as fazer chegar ao HSC, mas cartas para a NASA ainda poderão ajudar. Se for o caso, use as suas próprias palavras, e não as minhas! Além disso, precisará de as enviar por fax. Envie as cartas, como eu fiz, ao cuidado de Mike Griffin, e envie por fax uma cópia de cada para:
  1. NASA Administrator Mike Griffin: 202-358-2810
  2. Lewis-Burke Associates LLC: 202-289-7454
  3. NASA Associate Administrator, Science Mission Directorate, Mary Cleave: 202-358-4118
Nota: se quer enviar um fax e não está nos Estados Unidos da América terá de acrescentar aos números referidos os códigos de acesso internacional.

Como disse, poderá ser tarde demais para as fazer chegar ao Congresso, mas espero que ainda não seja tarde demais para a NASA, e é uma contribuição única para a ciência.


Tradução de José Raeiro. Link para o artigo original.