O futuro: aspirações e desafios
i - As universidades e os laboratórios nacionais mantêm-se demasiado opacos, não demonstrando uma vontade clara de absorver a nova geração de investigadores, criando posições profissionais estáveis e ambientes intelectualmente estimulantes. Ademais, várias mudanças estruturais deverão ser implementadas, incluindo regulamentação do regime de evolução da carreira científica, que deve ser pautado por critérios de excelência e mérito da produção científica reconhecida, e não por métodos “de Monte Carlo”… Por outras palavras, é urgente alterar radicalmente o critério de acesso e promoção para posições de investigação e docência na universidade. Deve ser dado ênfase à criatividade, inovação e mobilidade entre instituições, de modo a evitar a mediatizada “fuga de cérebros”, a falta de competição interna e a perpetuação de maus hábitos — o chamado incesto intelectual (inbreeding).
ii – Não é claro se a comunidade cosmologista nacional conseguirá manter-se regular e continuamente, com base no financiamento adjudicado pelas instituições existentes: o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a Fundação para a Ciência e Tecnologia, entre outras — dadas as dificuldades orçamentais advindas das restrições do Fundo Monetário Europeu, performance económica, entre outros factores. Paralelamente, o apoio financeiro é muitas vezes incipiente, além de demasiado condicionado por mudanças de natureza política.
Julgo que é incontroverso afirmar que seria benéfico para a comunidade cientifica e para o país contar com a presença de um laboratório nacional devotado à Astronomia, Astrofísica e Cosmologia — especialmente se tivermos em conta a ausência de departamentos de Astronomia nas várias universidades. Claramente, uma instituição desta natureza deveria concentrar várias competências, incluindo aquelas associadas com a armazenagem de dados, instalações computacionais e suporte às actividades de instrumentação. Um laboratório nacional ajudaria também a fortalecer o espírito comunitário, bem como os laços com as instituições e indivíduos financiadores existentes. Finalmente, não posso deixar de frisar que, apesar de todas as dificuldades, a comunidade cosmologista portuguesa pode realisticamente almejar o objectivo de se estabelecer como uma das cinco mais fortes da Europa. Uma avaliação dos primeiros vinte anos de desenvolvimento indica que tal anseio está dentro do nosso alcance; no entanto, tal só poderá ser atingido se pudermos garantir, através de um esforço concertado, o sucesso a longo prazo da comunidade científica nacional em Cosmologia — e se forem criadas as condições necessárias para que a nova geração de investigadores se possa estabelecer e frutificar nas várias instituições. Será um desperdício e uma falta de visão se o país não conseguir fazer bom uso dos talentos existentes e que começam a despontar.