Superfície e Interior
Vénus é o único planeta interior do Sistema Solar (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte) em que não se consegue observar directamente a superfície: a espessa camada de nuvens cobre o planeta ocultando a superfície. A maneira mais fácil e eficaz é enviar uma sonda que penetre os longos quilómetros de atmosfera e assim, depois de uma exigente travagem, pousar na sua superfície e obter o máximo de informações e dados. Foi o que aconteceu com algumas das Venera, sondas soviéticas que nas décadas de 60 a 80 estudaram o planeta Vénus. Venera 7 (1970) foi a primeira missão a transmitir imagens da superfície de outro planeta; a Venera 9 aterrou, em 1975, num solo antigo, com rochas sob uma camada de solo fino, enquanto a Venera 14 (1982) aterrou numa região de origem vulcânica, provavelmente formada mais recentemente. Detalhes sob a composição geoquímica destes solos continua um segredo, bem como a composição do solo das camadas mais profundas. A interacção química entre os materiais que compõem a superfície e a atmosfera podem ser a chave para explicar o clima extremo de Vénus.
magens da superfície de Vénus obtidas pelas sondas soviéticas Venera 9 (em cima) e Venera 14 (em baixo). Podemos notar algumas diferenças entre os dois solos: o primeiro é constituído por rochas soltas, enquanto o local onde pousou a Venera 14 é mais plano, provavelmente formado por recentes fluxos de lava. Créditos: The Soviet Exploration of Venus
Infelizmente não é possível enviar uma sonda para todos os locais da superfície. Para estudar globalmente um planeta temos que recorrer à detecção remota: a aquisição de dados à distância, que posteriormente são interpretados e tratados com fim de caracterizar as regiões ou objectos observados. Em 1990, a missão norte-americana, Magellan fez um mapeamento extensivo da topografia do planeta. Esta missão criou mapas do planeta com uma resolução que ainda hoje são referência. A opaca atmosfera do planeta não deixa a maioria da radiação chegar até nós, mas há um particular tipo de radiação que atravessa a espessa camada de nuvens: o infravermelho. Esta radiação electromagnética está associada à temperatura do material: uma pedra durante o dia emitirá mais radiação no infravermelho que a mesma pedra durante a noite. A sua emissão permite-nos estudar remotamente algumas das características geológicas e tirar conclusões quanto à sua natureza. A missão europeia Venus Express é a primeira missão a levar a bordo instrumentos para estudar este tipo de radiação, pois, incrivelmente, esta radiação da superfície de Vénus apenas foi descoberta em 1984, já depois da missão Magellan estar a ser preparada para o lançamento.
Cerca de 90% da superfície de Vénus aparenta ser constituída por lavas basálticas solidificadas, resultado da actividade vulcânica. A pouca densidade de crateras indica que o solo é de formação recente, ou seja, que foi criado posteriormente ao período em que os grandes corpos do Sistema Solar interior eram intensamente bombardeados por pequenos corpos que vagueavam nas cercanias.
São poucas as informações que temos sobre o interior de Vénus: provavelmente será muito semelhante ao da Terra: um núcleo de ferro líquido, com um manto rochoso a preencher a maioria do seu interior.
As difíceis observações da superfície de Vénus tornam complicada a compreensão da superfície e do seu interior. A Venus Express no futuro próximo pode aumentar um pouco mais a compreensão que temos da superfície e do interior do planeta. Mas o objectivo principal da missão é o estudo atmosférico e será preciso esperar por uma missão, com uma sonda que atravesse a camada de nuvens de Vénus, pouse na superfície e estude um pouco mais as características de tão misterioso solo.
Mais Informações:
A Exploração Soviética de Vénus
Missão Magellan
Missão Venus Express