Chegada à Lua



Aldrin desce do módulo lunar. Crédito: NASA.
J. F. Kennedy ganhou a presidência dos EUA em parte por atacar a política doméstica e externa de Eisenhower, com ênfase na defesa e no espaço. Kennedy via o cosmos como uma área de conflito e no seu discurso de tomada de posse fez questão de salientar os feitos norte-americanos no espaço apesar do avanço soviético na área.

No Verão de 1964 estavam a decorrer, de facto, duas corridas espaciais: uma para colocar seres humanos no espaço e alcançar o desenvolvimento tecnológico que o espaço implicava, outra para satisfazer o desejo de colocar em órbita meios que permitissem obter superioridade militar.

A propaganda dos triunfos soviéticos baseava-se numa série de “primeiras vezes” que se sucediam desde o tempo do Sputnik. Portanto, era inconcebível para Khrushchev ver Kennedy em 1962 a encaminhar os americanos para a Lua e ver o seu país a atrasar-se na corrida espacial. Khrushchev incentivou por isso Korolev e outros que desenvolviam planos para ir à Lua e a Marte, já que o que parecia necessário era um nível de coordenação que não existia no aparelho científico e tecnológico soviético.

Porém, em Julho de 1969, a Apollo 11 levou uma tripulação de três homens à Lua. Levavam consigo uma bandeira e uma placa comemorativa para colocar no Mar da Tranquilidade dizendo:

“HERE MEN FROM THE PLANET EARTH
FIRST SET FOOT UPON THE MOON
JULY 1969 D.C
WE CAME IN PEACE FOR ALL MANKIND”1


Aldrin junto à bandeira dos estados Unidos da América colocada na Lua. Crédito: NASA.
A bandeira que levavam era o estandarte nacional dos Estados Unidos e não representava o mundo inteiro.

Na União Soviética, os líderes do Partido Comunista não fizeram nenhum comentário público acerca do feito americano, embora tenham enviado uma carta de congratulação aos EUA. Tendo o Partido Comunista como exemplo, a imprensa soviética deu pouca cobertura à missão. O Pravda mal noticiou o lançamento da Apollo, e a alunagem apenas foi noticiada numa página interior. De facto, na URSS a comunicação social deu mais ênfase ao facto de Richard Nixon ter anunciado a retirada das tropas do Vietname do que à chegada à Lua.

Cerca de 600 milhões de pessoas (um quinto da população mundial na altura) assistiram em directo à alunagem do Eagle e aos primeiros passos de Neil Amstrong na Lua. O mundo seguiu o evento estarrecido: o primeiro Homem na Lua. Os gestos e as palavras de Neil Armstrong ficaram imortalizadas pela caixinha mágica.

A televisão teve um papel fulcral nesta época porque as transmissões dos lançamentos com a presença de comentadores fizeram com que o interesse da opinião pública aumentasse e dessa forma aceitasse de forma mais tranquila os desaires que este tipo de aventura por vezes tem. Porém, o papel da televisão teve outra face, com a percepção criada no público da rotina com que se desenrolava uma missão espacial. O crescente desinteresse adoptado pela imprensa depois de perdida a sensação de novidade foi aumentando também a visão da ciência como algo sem relevância e induziu, inclusive, ao abandono do programa Apollo.

Um exemplo do crescente desapego da imprensa foi o que aconteceu com a resposta soviética à chegada à Lua dos americanos. Durante anos os soviéticos fizeram passar a mensagem de que o seu objectivo nunca tinha passado por enviar homens à superfície lunar. Para o demonstrar, um ano depois da chegada à Lua da Apollo 11, a URSS prosseguiu com a investigação lunar utilizando sondas automáticas. A 12 de Setembro de 1970, após cuidadosas preparações, a sonda Luna 16 foi enviada ao Mar da Fertilidade para recolher amostras do solo lunar e enviá-las de volta à Terra. Esta missão foi a primeira que trouxe para a Terra amostras de rochas de outro corpo celeste sem presença humana no espaço exterior. Apesar de ter sido um feito importante, uma vez que não colocava em risco vidas humanas, a imprensa não lhe deu qualquer relevo.


1 “Aqui Homens do planeta Terra chegaram pela primeira vez à Lua. Vimos em Paz por toda a Humanidade”.