A Atmosfera de Júpiter
De certeza que já viu algumas das excelentes imagens obtidas pela sonda Galileu do planeta Júpiter e das suas quatro luas. Porém, há muitas outras observações que foram feitas pelos instrumentos a bordo de Galileu. Um deles é o Near Infrared Mapping Spectrometer, ou NIMS. Nesta série de artigos vou descrever o funcionamento de NIMS, o tipo de dados que forneceu, e explicar como estão a ser utilizados para obter uma melhor compreensão do como e porquê da atmosfera do maior planeta do nosso sistema solar. A missão Galileu A sonda Galileu foi lançada no dia 18 de Outoubro de 1989 pelo vai-vem espacial americano Atlantis. Iniciou nesse dia a sua longa viagem de 6 anos, com passagens pelos planetas Vénus, Terra, o asteróide Gaspra, mais uma vez a Terra, e o asteróide Ida. As passagens de Vénus e da Terra permitiram transferir uma pequena porção da energia cinética destes planetas para a sonda, a fim de aumentar a sua velocidade de maneira a poder alcançar Júpiter. Esta técnica, chamada "gravity assist" em inglês, é comparável ao lançamento de uma pedra com uma funda. Ela é aplicada para economizar combustível, que teria de ser transportado pela própria sonda, pois cada quilo que se transporta para o espaço custa muito dinheiro. No dia 7 de Dezembro de 1995, Galileu chegou a Júpiter, e tornou-se o primeiro satélite artificial deste planeta. No mesmo dia um pequeno módulo, que tinha sido largado pela sonda mãe alguns meses antes, desceu na atmosfera de Júpiter. As medições directas feito pelo módulo durante uma hora de descida até a comunicação falhar, são únicas e de grande interesse científico, pois foi pela primeria vez que se obteve dados in situ da atmosfera dum dos planetas gigantes. A missão oficial Galileu terminou em Dezembro de 1997, depois de onze órbitas elípticas em torno de Júpiter. Cada órbita levou a sonda a passar muito perto (chegando a atingir distâncias de algumas centenas de quilómetros) dum dos quatro grandes satélites naturais de Júpiter: Io, Europa, Ganímedes e Calisto. Neste momento Galileu completou quase 7 anos de missão a volta de Júpiter, mais de 3 vezes que previsto. A missão tem sido estendida, e a sonda completou 33 orbitas a volta do planeta, os últimos dos quais passaram muito perto do objecto mais vulcânico do Sistema Solar, Io ! A hidrazina esta a acabar, a Galileu vai ser lançada dentro da atmosfera de Júpiter em Setembro de 2003, para evitar que choque contra um dos satélites, e quer-se evitar todas os hipóteses de contaminação. Por exemplo, o satélite Europa chamou a atenção dos cientistas, porque há indicações de que, por baixo da espessa camada de gelo que cobre a superfície desta lua, poderá existir uma camada de água líquida. Se tal for confirmado seria a primeira descoberta de água líquida em grandes quantidades no sistema solar, com excepção da Terra. Agora, muitos dos instrumentos já estão desligados, após de 12 anos de serviço no espaço. Espectroscopia O tema principal desta série de artigos será a espectroscopia. Este é um dos principais métodos que se utiliza para adquirir informação sobre astros longínquos, incluindo os planetas, embora estes tenham sido visitados por sondas espaciais enviados nas últimas décadas. A bordo da sonda Galileu encontra-se uma plataforma com quatro instrumentos: O UltraViolet Spectrometer (UVS), o Solid State Imager (SSI), o PhotoPolarimeter-Radiometer (PPR), e o Near Infrared Mapping Spectrometer (NIMS). As maioria das imagens que foram publicados em jornais, revistas, e que podem ser vistas na Internet, foram obtidas pela câmera SSI, que é sensível à luz visível, como os nossos olhos. Porém, uma grande quantidade de informação sobre um planeta encontra-se na parte infravermelho do espectro electromagnético. É lá que os planetas, devido às baixas temperaturas que têm, emitem a maioria da sua energia. Pelo contrário, as estrelas, pelas altas temperaturas que reinam nas superfícies, emitem a maioria da energia na parte visível do espectro. NIMS, que é sensível à radiação infravermelha, é o instrumento indicado para o estudo da composição da atmosfera joviana, e da superfície dos seus satélites.
Autoria: Maarten Roos-Serote Investigador do Observatório Astronómico de Lisboa Investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa Associado do NÚCLIO |