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Cosmic Vision : o futuro da ESA até 2025

2007-03-23
Atravesso uma zona do espaço onde posso contemplar de muito perto o que resta da Supernova de Kepler, uma estrela que explodiu na nossa galáxia em 1604 e que foi amplamente estudada pelo astrónomo alemão Johannes Kepler. O que resta desta supernova pode ser facilmente observado da Terra, mas os restos de supernovas mais antigas que explodiram noutras galáxias são mais difíceis de observar. Para descobrir e estudar estes verdadeiros objectos arqueológicos do Universo recorre-se a telescópios sensíveis a radiação invisível aos nossos olhos (ex: raios X ou raios gama) emitida com muita intensidade durante certas fases da propagação dos restos da estrela após a explosão. São fenómenos como estes que os futuros telescópios da ESA poderão observar, muito para lá do poder de observação dos actuais observatórios espaciais europeus de raios X e de raios gama, os telescópios XMM e INTEGRAL respectivamente.

Os futuros telescópios espaciais, bem como as futuras missões planetárias da Agência Espacial Europeia (ESA), serão definidas através do programa Cosmic Vision, programa esse que engloba todas as missões espaciais a lançar entre 2015 e 2025. Há cerca de um mês, a ESA lançou o primeiro concurso para missões do programa Cosmic Vision. O tempo de preparação de uma missão pode ser da ordem dos 10 anos, por isso as missões espaciais a lançar a partir de 2015 devem começar a ser preparadas agora. Concorrem aos programas da ESA consórcios internacionais que propõem diferentes tipos de missões. Cada consórcio é composto por várias equipas especializadas, sendo cada uma destas equipas responsável por uma parte da missão: os corpos celestes a estudar (planetas, estrelas, galáxias, etc.), os instrumentos científicos da missão, a estrutura da nave espacial, os foguetões para o lançamento, a electrónica e sistemas de controlo, o envio e recessão de dados na Terra e a análise dos dados resultantes da missão. Estes consórcios são constituídos por equipas cujo o número de elementos que podem ir de uma a duas centenas investigadores e engenheiros de diferentes instituições e de diferentes países - na minha última crónica escrevi-vos a missão proposta pelo consórcio Gamma-Ray Imager do qual fazem parte a Universidade de Coimbra e Universidade de Évora. Dentro de cada consórcio produz-se um debate científico até se chegar a um consenso sobre as componentes técnicas e científicas da missão. A seguir, o consórcio envia a sua proposta final para a ESA que a avaliará juntamente com as propostas concorrentes, recorrendo para isso a um júri especializado que escolherá as melhores missões. As missões aprovadas passam depois por várias fazes de estudo e de avaliação até a ESA decidir que a missão está pronta a passar à fase de lançamento. Até esse momento, ardentemente desejado pelos cientistas do consórcio, podem decorrer mais de 10 anos de árduo trabalho. Não é pois de estranhar que durante o lançamento de missões espaciais se assista a manifestações efusivas dos cientistas nas salas de controlo assim que vislumbram o foguetão que transporta os seus instrumentos científicos a entrar em órbita com sucesso. São muitos anos de trabalho que se podem perder na breve e arriscada operação de lançamento do satélite.

O Programa Cosmic Vision 2015-2025 da ESA divide a exploração espacial futura em quatro áreas diferentes consoante a pergunta científica a que devem responder. As missões a lançar entre 2015 e 2025 devem responder às seguintes questões:

  1. Quais são as condições para a formação de planetas e para o aparecimento de vida?
  2. Como funciona o sistema solar?
  3. Quais são as leis fundamentais da física que regem o Universo?
  4. Como se formou o Universo e qual a sua constituição?


A observação de restos de supernovas, como esta esplêndida supernova de Kepler que preenche o ecrã da minha nave imaginária, faz parte da exploração do Universo ligada à quarta questão, sobre a constituição do Universo.

Apesar do orçamento modesto definido pelos governos dos países membros para o período entre 2015 e 2025, oxalá a visão da ESA sobre o futuro da exploração espacial se venha a revelar, de facto, de dimensão cósmica.