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Ditos

"Eu nunca penso no futuro - ele virá muito em breve."
- Albert Einstein


O Astronauta da Catedral de Salamanca

2006-11-16

Encontro-me no planeta Hatzes, trata-se de um pequeno planeta com dois oceanos, um azul e outro verde, que orbita a cerca de 0,5 UA da estrela Épsilon Erídano. A civilização que aqui encontrei associa de uma forma radical o muito antigo com a mais recente tecnologia. As mais recentes invenções dos Hatzianos são integradas na paisagem meticulosamente histórico-artística das suas urbes de uma forma discreta, sem as descaracterizar. As suas cidades são simultaneamente seculares e tecnológicas.

O exemplo terrestre que me vem logo à cabeça é o astronauta catedral de Salamanca. Durante o restauro da Porta de Ramos da Catedral Nova de Salamanca realizado em 1992, foram integrados motivos contemporâneos e modernos, entre os quais uma figura esculpida de um astronauta. A inserção deste motivo deve-se à tradição dos antigos restauradores e construtores de catedrais que consistia em utilizar um motivo contemporâneo, dissimulado entre os motivos mais antigos, com o intuito de assinar as suas obras. O responsável pelo restauro, Jerónimo Garcia, escolheu um astronauta como símbolo do século XX.

A própria silhueta da cidade de Salamanca foi completamente restaurada alguns anos mais tarde, em 2002, ano em que foi Capital Europeia da Cultura. Os edifícios modernos construídos situados no centro da cidade foram todos cobertos com finas lajes cuja coloração é semelhante à pedra original utilizada na construção da Catedral e dos restantes edifícios históricos. Salamanca voltou a ser a Cidade Dourada - qualificativo secular de Salamanca há muito perdido, que se devia à cor dourada que adquiria a cidade quando as pedras dos seus edifícios eram banhadas pela luz solar.

Infelizmente, em Portugal ainda se estraga muito do que é antigo, do que é património, e simultaneamente despreza-se o moderno. Seria impensável para a esmagadora maioria dos nossos responsáveis pelo património incluir elementos modernos quando se reconstroem ou se restauram os numerosos edifícios degradados do nosso país. Existe um alheamento geral pela ciência, pela tecnologia e uma grande dificuldade em lidar com matérias como a matemática, a química ou a física. Arriscamo-nos a deixar um legado cultural efémero e desinteressante para as gerações futuras e para os que nos visitam, o contrário deste Hatzes que contemplo.