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- Albert Einstein


Notícia de última hora – Plutão não é um planeta

2006-08-25
A UAI votou uma série de resoluções acerca do que um planeta é ou não é, e o veredicto é…

Plutão não é um planeta.

Pelo menos não um dos principais.

Esta foi um grande reviravolta em relação à resolução inicial, que poderia ter dado ao nosso Sistema Solar pelo menos 12 planetas, e potencialmente muitos, muitos mais. Esta foi a primeira resolução a ser aprovada:

RESOLUÇÃO 5A
A UAI decide portanto que os planetas e outros corpos no nosso Sistema Solar sejam definidos em três categorias distintas da seguinte forma:

(1) Um planeta é um corpo celeste que (a) está em órbita à volta do Sol, (b) tem massa suficiente para que a própria gravidade consiga superar as forças do corpo rígido de maneira a que este assuma uma forma de equilíbrio hidrostático (aproximadamente esférica), e (c) ter esvaziado a vizinhança à volta da sua órbita.

(2) Um planeta anão é um corpo celeste que (a) está em órbita à volta do Sol, (b) ) tem massa suficiente para que a própria gravidade consiga superar as forças do corpo rígido de maneira a que este assuma uma forma de equilíbrio hidrostático (aproximadamente esférica), (c) não esvaziou a vizinhança à volta da sua órbita, e (d) não é um satélite.


Ignorando por um momento, mais uma vez, que é ridículo tentar definir cientificamente uma classe de objectos que na realidade têm apenas uma definição cultural, estas definições ainda não são para mim satisfatórias. Um objecto entre estrelas do tamanho de um planeta não é um planeta? O quão esférico quer dizer esférico? Como é que se define a “vizinhança”? Estas são as mesmas objecções que eu fiz num comentário anterior acerca deste assunto.

Mas suponho que o que as pessoas querem saber é como é que Plutão se encaixa nisto. Plutão é esférico e orbita o Sol, mas não esvaziou a sua vizinhança local. Objectos mais pequenos que orbitam o Sol praticamente na mesma órbita serão absorvidos ou ejectados por objectos maiores. À medida que os planetas se formam, a sua gravidade ou puxa pedaços mais pequenos de entulho cósmico, fazendo com estes colidam, tornando o planeta maior, ou então catapulta estes objectos mais pequenos para longe, dando-lhes uma nova órbita. É por essa razão que os objectos maiores no Sistema Solar tendem a não ter nada por perto (excepto as luas).

Plutão falha nisto. Do meu ponto de vista (as novidades do encontro da UAI ainda são vagas) existem outros objectos com órbitas semelhantes à de Plutão, e por isso Plutão ainda não esvaziou a sua vizinhança. Não tenho a certeza se Caronte, a lua de Plutão, está incluída na lista de objectos por esvaziar. Portanto, isto é um bocado confuso: montes de planetas têm luas, e por isso ter uma lua não é sinónimo de um planeta não ter esvaziado a sua zona (visto que a lua está presa graviticamente pelo planeta). Mas Caronte orbita Plutão a uma distância suficiente para que o centro de massa do sistema fiquei fora da superfície de Plutão (mais uma vez, veja o meu comentário anterior acerca deste assunto. Ironicamente, com a resolução original, isto fazia de Plutão e de Caronte ambos um planeta. Agora, com as novas regras, isto poderá querer dizer que nenhum deles é.

Então: segundo as novas regras, aprovadas pela UAI, Plutão já não é um planeta. Acho que o Neil Tyson terá que ir outra vez ao Colbert.

A UAI tornou isto praticamente oficial com outra resolução:

RESOLUÇÃO 6A
A UAI determina ainda que:
Plutão é um planeta anão através da definição acima mencionada e é reconhecido como o protótipo de uma nova categoria de objectos transneptunianos.


Na realidade, acho que isto faz mais sentido do que chamar planeta a Plutão, mas muitas pessoas não vão gostar.

A propósito, houve duas resoluções que foram reprovadas:

Inserir a palavra “clássico” depois da palavra “planeta” na resolução 5A, Secção (1)


e então se esta passasse chamaríamos “clássicos” aos 8 planetas principais. A outra resolução teria sido adicionada à 6A que tratava dos planetas anões:

Esta categoria deverá ser chamada “objectos plutonianos”


Visto que este último bocado foi reprovado (por pouco, 187 contra 183!), a UAI irá decidir o que chamar a esta classe de objectos no próximo encontro, no Rio de Janeiro em 2009. Rio de Janeiro, hmmmm… se calhar é melhor eu ir a esse.

Deixem-me mais uma vez reiterar que tentar definir o que é um planeta é muito, muito ridículo. O próprio facto de tudo isto ser tão estranhamente confuso é uma boa prova disso.

Querem outra razão para que seja ridículo? Se a razão pela qual Plutão não é um planeta é por causa de Caronte, então temos problemas: como eu disse no meu outro post, dentro de cerca de mil milhões de anos a Lua estará suficientemente longe para que o centro de massa do sistema Terra-Lua esteja fora da Terra. Portanto, nessa altura, se eu percebi correctamente (pode não ter sido o caso), a Terra deixará de ser um planeta. Preciso de descobrir mais acerca do assunto, mas como disse, os detalhes acerca da razão pela qual Plutão já não é um planeta ainda são esboços. Farei outro post quando descobrir mais.

E ainda há outra questão. Plutão atravessa a órbita de Neptuno. Devido à delicada dança da gravidade entre os dois, estes nunca chegam a estar próximos um do outro; Plutão está sempre do lado oposto do Sol em relação a Neptuno quando cruza a órbita do planeta maior. Logo, se a órbita de Plutão na realidade sobrepõem-se à de Neptuno, não quer isso dizer que Neptuno ainda não esvaziou a sua vizinhança? Acho que é possível argumentar isso. Então porque é que não temos apenas 7 planetas?

Estou realmente agastado em relação a isto. Cientificamente, todo este debate é uma tempestade num copo de água. É ridículo, e não tem qualquer utilidade. Como é que o conhecimento científico lucra de qualquer maneira ao debater e resolver esta questão?

Por outro lado, ganhou muito atenção pública, e tem sido um interesse positivo até agora. As pessoas estão a falar acerca do que quer dizer algo ser um planeta, e dado o nível abismal da educação da ciência nos EUA, é óptimo que as pessoas estejam realmente a falar de astronomia. Talvez faça com que algumas delas explorem ainda mais, e isso é bom.

Finalmente, talvez, poderemos voltar a estudar estes objectos em vez de discutir acerca dos que lhes chamar. Existe muito para aprender acerca destes, coisas reais, coisas interessantes. Os planetas – por muitos ou poucos que se pense haver – estão à espera. Vamos indo.


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