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"Nunca vemos o que já foi feito; vemos apenas o que está por fazer."
- Marie Curie


Um cheirinho a Marte

2016-04-14
15.Abr.- 21.Abr.2016 (Portugal)

A exploração em e com todos os sentidos imagináveis é inata ao ser humano. Agora que dominamos a tecnologia rudimentar para o efeito, explorar o sistema solar em profundidade é uma consequência inevitável. De facto, exploramos bastante desde que conseguimos lançar objetos sólidos para o ar sem que voltem cair para a terra - bem, pelo menos a nossa terra. Porém, se o que lançamos não poisar algures, terá de cair algures. Somos mestres nisso também.

De todos os corpos planetários, a lua é o mais visitado e explorado, enquanto dos planetas é Marte que goza essa atenção peculiar do espírito humano, logo a seguir vem Vénus. Como resultado das numerosas missões pelo espaço fora temos um vasto leque de dados específicos sobre cada objeto em troca de deixar, planeado ou não, um monte de tralha disfuncional nesses mesmos corpos planetários. Deixar lixo, outra especialidade humana.

Na exploração em e na terra, o ser humano aproveita-se de todos os seus cinco sentidos para formar uma imagem sobre o ambiente. As sondas espaciais infelizmente não conseguem levar de uma só vez tantos sensores como preferimos. Por isso o estudo tem de ser passo por passo, missão por missão.

No caso de Marte ainda há muita curiosidade. Já lá houve vida? Ainda há vida? Há água que possa servir para regar plantas ou vender aos visitantes futuros? A Europa começou tarde lançar mais que apenas um olhar para o espaço, aliás, no caso de Marte foram 40 anos mais tarde. Em 2003 mandamos, nós Europeus, a Mars Express. Uma sonda em órbita equipada para explorar a atmosfera e a superfície à distância, ou seja, explorar à vista, com o olho. No caminho levou ainda uma sonda de aterragem, a Beagle 2. Esta tinha um braço perfurador para analisar uma rocha no solo, portanto satisfazer o sentido de toque, bem como sensores para o vento, a temperatura etc., o que equivale ao ouvir e sentir na pele, por assim dizer, o ambiente marciano. Teve azar a sonda, poisou bem, mas falhou de conversar connosco sobre a sua experiência.



Já vimos fotos da superfície de Marte. Já houve sondas que tocaram em Marte e sentiram o vento e as tempestades de areia. Também já se ouviu quase tudo em torno de Marte, se bem, isso foi principalmente além da audição humana. Com a missão europeia ExoMars vamos obter uma snifada pormenorizada, nomeadamente com vista a explorar as condições de vida, mesmo que extinta. Crédito: NASA/JPL, GRM/NUCLIO


No passado dia 14 de março, a Agência Espacial Europeia (ESA) lançou a sonda ExoMars. Um mês decorrido confirma-se que a sonda está plenamente operacional e bem encaminhada. ExoMars vai orbitar Marte a partir de outubro próximo e está equipada com sensores avançados para tentar resolver as questões da vida acima referidas. A sonda faz isso ao procurar, entre outros, metano, um produto que sai nas traseiras dos organismos vivos. ExoMars vai, a maneira ao dispor da tecnologia, obter um cheirinho do ar marciano. Metano existe em Marte, a questão é encontrar a origem mais provável. Se for vida este deve precisar de água. Procurar bolsas de água, mesmo que geladas, bem como vapor de água na atmosfera é outra tarefa.

Se a missão ExoMars for bem-sucedida, a Europa terá explorado Marte com quase todos os sentidos; ver, ouvir, tocar e cheirar, falta apenas o paladar. Atendendo que temos algumas rochas/meteoritos vindos de Marte, talvez um dos investigadores, numa grave quebra de protocolo, tenha dado uma lambidela nas amostras. Neste caso, até o paladar de Marte já estaria resolvido.



Estudar apenas a superfície de Marte não chega para a sonda ExoMars. Por isso ela vai também penetrar o subsolo à procura de acumulações de água. O invólucro do planeta, a atmosfera, também será exaustivamente analisado quanto a existência de indicadores de vida, seja atual ou perecido há muito. Tudo isso em preparação de abrir, num futuro ainda por chegar, um dormitório simples e área de restauração para os intrépidos e destemidos desse futuro. Crédito: GRM


Nos próximos tempos, Marte vai estar tão próximo da Terra como não esteve durante toda a década passada. Objetos próximos tendem a parecer maiores do que quando longe, Marte não é exceção. Até junho Marte aumenta de tamanho aparente até quase 18,5 segundos de arco, o que ao olho nu não faz diferença nenhuma, mas num telescópio faz. Atualmente nasce pouco depois das 23 horas, mas cada duas semanas chega a nascer uma hora mais cedo. Portanto é agora a melhor altura para começar estudar Marte com telescópios e câmaras fotográficas (vídeo é melhor).

Que podemos observar da Terra? Isso depende do instrumento utilizado, mas dá, seja visual como fotográfico, para ver se haverá uma tempestade global em Marte antes ou até a sonda ExoMars chegar ao seu destino. Talvez até dê para saber onde tal eventual tempestade nasce. Existe também o desafio de tentar observar/captar as minúsculas luas de Marte. Claro, pormenores da superfície são sempre uma opção e fazer a identificação dos pormenores obtidos com base nas imagens captadas pelas sondas em órbita no local.

Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt