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NGC 6888 - Nebulosa do Crescente

Ditos

"A questão de as leis da matemática estarem relacionadas com a realidade não é uma certeza; o estarem correctas não faz com que estejam necessariamente relacionadas com a realidade."
- Albert Einstein


Dança com gigantes

2016-01-21
22.Jan.- 28.Jan.2016 (Portugal)

Nos próximos dias o brilho da face lunar aumenta até ser lua cheia no domingo, dia 24 ás 1:46h. Nestas alturas a luminosidade do fundo do céu abafa a luz das estrelas em todo o redor, dificultando as observações com telescópios, inviabiliza medições científicas exatas e obriga os profissionais que dependem dessas medições a tratar de papelada pendente ou entreter-se com outras coisas.

Quem, depois do jantar, sai do conforto do lar para espreitar o céu vê o repertorio estelar bastante reduzido. Bem alto no céu, conforme a hora, entre o este e o sul, há algumas estrelas que nem a lua consegue dominar. Entre estas há, facilmente detetável e mais perto do horizonte que as outras, a estrela mais brilhante em todo o céu, Sírio (Sirius, alfa CMa).

Antigamente pensava-se que todas as estrelas eram iguais, o que significaria que quanto mais brilhante uma estrela for, mais perto ela devia estar da Terra. Pensaram errados, como se veio comprovar. No entanto, Sírio é uma ligeira exceção, pois na verdade é uma estrela bastante perto do sistema solar. A luz que vemos dela hoje saiu de Sírio há apenas 8 anos e 7 meses. Porém, Sírio consta apenas no sexto lugar na lista de proximidade ao Sol. Um dos motivos que a torna mais brilhante do que as estrelas mais próximas é o facto, dela ser mais de duas vezes maior que a nossa própria estrela. Imagina-se o calor que reinava cá se a Terra orbitasse Sírio.

Há, bem por cima de Sírio, uma fila direita de três estrelas equidistantes com brilho quase igual (ver ilustração) que na voz popular dão pelo nome de 3 Marias. Estas pertencem à constelação de Orionte, o caçador.

Por baixo destas 3 Marias há uma estrela branca muito brilhante chamada Rigel, cuja luz leva quase 800 anos para cá chegar. Como é possível ela ser tão distante e mesmo assim concorre no oitavo lugar das estrelas mais brilhantes em todo o céu? A resposta é simples. Sendo pelo menos 79 vezes maior, com 21 vezes mais massa e uma superfície duas vezes mais quente que o Sol é uma estrela gigante em pleno gozo da vida estelar.



Comparação das estrelas gigantes do texto. A gigante vermelha Betelgeuse faz o fundo da imagem no estado inchado (esquerda) e desinchado (direita). A gigante azulada é Rigel e Aldebarã alaranjada no bordo esquerdo. O Sol branco, cujo tamanho foi 2vezes exagerado para ser visível, encontra-se na ponta da seta. Sírio teria sensivelmente este tamanho. Crédito: GRM/NUCLIO


Por cima das 3 Marias há uma estrela de cor avermelhada mesmo notória. Esta dá pelo nome de Betelgeuse e é outra estrela gigante. Porém, Betelgeuse está perto do fim da vida apesar de nem ser particularmente mais velha e, por sinal, um pouco mais perto que Rigel. Ambas têm cerca de 7 milhões de anos de idade, o que, comparado com os 4,6 mil milhões de anos do Sol, é um piscar de olho na vida da nossa estrela.

Se Rigel é uma estrela gigante 79 vezes maior que o Sol, o que há de dizer de Betelgeuse com um raio 500 vezes maior que o Sol. Ainda por cima Betelgeuse incha e desincha com regularidade e chega a ser 1000 vezes maior que o sol. Nessa fase inchada, se esta fosse a nossa estrela, chegaria bem à órbita de Saturno e vaporizava todos os planetas a meio do caminho.

Na escala de tempo cósmico Betelgeuse em breve vai rebentar como supernova e Rigel irá certamente seguir o mesmo caminho pouco depois. Este tipo de estrelas de massa elevada segue a filosofia humana, algo questionável, de viver pouco mas intensamente.


A zona celeste sudeste, bem alta sobre o horizonte, por volta das 21 horas. Para se orientar basta procurar a estrela mais brilhante, Sírio. A fila das 3 Marias é o acesso rápido para alguns dos gigantes na esfera celeste.
Aldebarã, da qual se falou na semana passada, encontra-se por cima de Betelgeuse e é uma estrela alaranjada brilhante que a lua cheia também não consegue apagar. Para quem faz anos e entrar na reforma pós-laboral agora aos 66 anos, terá para meditar sobre a vida, a luz de Aldebarã que saiu dessa estrela no dia do seu nascimento. Sendo 44 vezes maior que o Sol também é uma estrela gigante perto do fim da vida, mas com uma massa semelhante ao da nossa estrela. Portanto o que acontece a Aldebarã será o que espera o nosso Sol daqui a uns 4 mil milhões de anos.

As estrelas facilmente visíveis mesmo sob a luz lunar intensa são, aparentemente, estrelas muito próximas do Sistema Solar ou estrelas distantes mas gigantescas. Felizmente não há estrelas gigantes de idade elevada nas imediações do Sol, pois, quando for altura delas rebentarem seria muito problemático para o Sistema Solar.

Já agora, na noite de quarta-feira, dia 27 por volta das 23 horas, a lua, ainda três quartos cheia e emagrecendo, irá encontrar-se com Júpiter, outra luz potente do céu que teima em não ser apagada.




Pergunta do mês
Porquê o dia da maior aproximação ao Sol, 2 de janeiro, não corresponde ao dia mais curto, ou seja com menos sol sobre o horizonte, que era no dia 22 de dezembro, onze dias antes?
Envie a tua resposta, mesmo se tentativa, para jan2016@astronomia.pt. Entre todas as respostas razoavelmente corretas é sorteado um conjunto de postais com imagens de objetos do céu profundo. (data limite 1.Fev.2016 Todas as nossas decisões são finais).