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"Nunca vemos o que já foi feito; vemos apenas o que está por fazer."
- Marie Curie


O Hubble a caranguejar

2005-12-22
Quando se vai lá fora e se olha para o céu nocturno, este parece imutável. Contudo, lá fora existem energias e movimentos espantosos, obnubilados pela fraca percepção humana da distância, perpectiva e proporção.

Como neste caso: A Nebulosa do Caranguejo.





Podes já ter visto esta imagem; está por toda a blogosfera, visto que as imagens maravilhosas do Hubble tendem a propagar-se rapidamente. De facto, é mesmo espectacular (na realidade a imagem é uma combinação de imagens do Hubble com as do Very Large Telescope ). Eu observei a Nebulosa do Caranguejo durante toda a minha vida e nunca a tinha visto com um aspecto tão tridimensional. Mas existe algo para além de apenas uma imagem bonita.

A Nebulosa do Caranguejo é um resto de supernova em expansão; literalmente os restos gasosos de uma estrela que explodiu há quase mil anos atrás. O gás está mesmo a mover-se a uma velocidade alucinante: 1400 quilómetros por segundo. Dada a quantidade de gás envolvida (a estrela explodiu), a energia que foi precisa para mover toda esta matéria aquela velocidade é inimaginável – mais energia que o Sol emite em milhões de anos.

Yikes. Toda aquela energia foi despejada de assentada no gás quando a estrela progenitora explodiu. E a do Caranguejo é considerada relativamente de baixa energia quando comparada com outros restos de supernova!

A uma distância de cerca de 6500 anos-luz, a perspectiva faz com que esse ritmo de expansão seja aparentemente em camâra lenta. Da mesma maneira que um carro ou um avião distante parece que quase não sai do sítio, mesmo a expansão feroz da Nebulosa do Caranguejo parece ser mais reminiscente de uma tartaruga do que de um crustáceo. Mas mesmo assim é possível observá-la.

Se se pegar numa imagem antiga, e compará-la com uma mais recente, a expansão é bastante fácil de detectar. Aqui está um bom exemplo de uma animação assim. As duas imagens, tiradas com um intervalo de 28 anos, foram cuidadosamente alinhadas, e consegue-se ver a deslocação do gás à medida que este se expande a partir do centro da nebulosa. Outra boa animação encontra-se aqui.

Além disto, existe mais do que apenas uma fotografia espantosa. Ao medir a velocidade da expansão, é possível rebobinar o gás para calcular há quanto tempo se está a expandir. Isso dá-nos a idade da nebulosa! Quando calculada, o resultado é cerca de 1000 anos – de facto, a data da explosão é provavelmente 1054 a.C., em Julho. Já ouvi rumores de a data exacta ser 4 de Julho, suficientemente apropriada (nota do tradutor: no dia 4 de Julho festeja-se o Dia da Independência nos EUA).

No meu emprego das 9 às 5, ao desenvolver actividades educacionais para estudantes, reescrevi e reformulei totalmente um antigo trabalho de laboratório onde se calculava este número (um esboço preliminar está online aqui; é a segunda activade da lista). Foi muito porreiro brincar com as imagens da Caranguejo e ver por mim próprio a sua idade. Este trabalho deverá ser completado e estará pronto daqui a dois meses. Poderá ser realizado online, e assim quem ler este blog será capaz de o fazer por si próprio. Imagina! Com as ferramentas literalmente nas pontas dos teus dedos, poderás compreender algumas das forças mais incríveis que a natureza tem para oferecer, e usar alguma matemática simples para determinar quando uma estrela morreu, e quando uma nebulosa mítica nasceu.

Adoro estas cenas.


Tradução de José Raeiro Artigo Original: http://www.badastronomy.com/bablog/2005/12/06/crabby-hubble/