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Por Baixo de uma lua vermelha
2011-06-07
No dia 15 de Junho de 2011, pouco depois das 21 horas, muita gente e todos os lobos irão, de certeza, estranhar o aspecto da nossa Lua. É noite de Lua cheia. Mas ao contrário da Lua cheia habitual, grande, redonda, brilhante e branca, irá aparecer uma lua extremamente escura e provavelmente banhada num tom de vermelho acentuado.
Essa noite não é apenas noite de Lua cheia, é, antes demais, noite de eclipse total da Lua. Ou seja, a Lua, no seu caminho mensal girando em torno da Terra, atravessa a sombra da Terra. Tipicamente as sombras são pretas. Porém, a luz solar que atravessa a atmosfera envolvendo a Terra mistura-se com a sombra da Terra, tornando a sombra menos escura e, frequentemente bem colorida. Essa cor pode assumir qualquer tonalidade entre castanho escuro, vermelho ou mesmo cor de laranja.
Os sábios de tempos remotos já conheciam ou ao menos suspeitaram sobre o que provoca os eclipses lunares e solares. Mas o homem comum não educado, ou seja, quase todos, não faziam a mínima ideia sobre o que pode causar o escurecimento e a coloração da Lua.
Quando uma coisa quase imutável como a Lua de repente muda, isso deve significar que algo está a acontecer ou irá acontecer.
Plutarco (46 – 126 d.C.) escreveu “o homem encara os eclipses como (algo) monstruoso e um sinal enviado por Deus predizendo uma grande desgraça” (1).
Mesmo para os egípcios dos tempos faraónicos um eclipse total lunar era temido como um mau presságio, um medo que era também partilhado pelo antigos Persas. Os eclipses, tanto lunares como solares, supostamente anunciaram a desgraça de algum regente, o início ou o fim desfavorável de uma guerra e, mesmo para alguns sábios da altura, a causa para terramotos e erupções vulcânicas, como escreveu Plínio, o velho, ou sugere o autor do evangelho de Mateus (Mat.27,45-54).
No fim do século V antes da nossa Era, as cidades-estado de Atenas e Sparta estavam em plena guerra, batalhando entre outros, sobre o domínio de Sicília/Itália. nfelizmente, as batalhas, tanto terrestres como navais, não corriam particularmente bem para nenhum dos oponentes. Com a sua força de invasão enfraquecida, o general ateniense Nicias por fim decidiu terminar a investida. Em 27 de Agosto de 413 a.C., Nicias e sua frota estavam prestes a levantar o cerco ao porto e à cidade de Siracusa na Sicília. Infelizmente, nessa noite deu-se um eclipse total da Lua. Temendo o mau presságio, Nicias decidiu deixar a frota no porto por mais algum tempo. Porém, isso custou caro aos invasores. A frota dos defensores de Siracusa teve então tempo para bloquear a entrada do porto e, na batalha naval final, os atenienses perderam uma grande parte da sua frota e muitos milhares dos seus homens(2).
Noutra ocasião, em 386 a.C., Pelopidas de Tebas enfrentava o temido Alexandre o Grande. Todavia, devido ao mau presságio associado a um eclipse, neste caso solar, Pelopidas não conseguiu convencer todas as suas tropas de enfrentar o inimigo. Com o número reduzido de tropas Pelopidas inevitavelmente perdeu a batalha e foi feito prisioneiro.
Semelhantes acontecimentos não faltam na história humana e quase podiam ser motivo para acreditar em pleno no efeito-causa entre eclipses e desgraças.
Mas será que hoje as pessoas já estão plenamente conscientes sobre as causas dos eclipses? Que, ao contrário do que escreveu Plutarco, os homens não teimam quando algo estranho se passa na esfera celeste? Há sérias dúvidas. Apesar do ensino escolar, são inúmeros aqueles que não acreditam ou não fazem a mínima ideia sobre o que provoca diariamente algo tão simples como as marés. E quantos mais não haverá que, olhando para uma Lua cheia vermelha quase parecendo ensanguentada, não pensam em eclipses mas em catástrofes. Superstição e todos os tipos de oráculos são os principais motores para promover o medo, e o medo faz com que as pessoas tomem decisões erradas, culminando isso normalmente em algo desfavorável.
A única coisa que realmente devemos temer num eclipse é de o céu ficar encoberto e assim ficarmos impossibilitados de acompanhar o fenómeno.
(1) Nicias, por Plutarco 75 a.C. (2) Jornal da Socidade Real do Canadá V.89.1, nº 652/Fev.1995