Buracos negros “mini” e “super”
Crédito: NASA. Esta imagem mostra a correlação entre a massa do buraco negro e a massa do bojo central de uma galáxia. Estudos realizados na última década sugerem que todas as galáxias deverão ter um buraco negro central com massas que podem atingir milhares de milhões de vezes a massa do nosso Sol.
Alguns marcam a sua presença por serem protagonistas de fenómenos extremamente energéticos associados aos quasares (núcleos galácticos activos que se encontram a uma grande distância e portanto num passado bastante longínquo - consulte o Tema do Mês sobre Núcleos Galácticos Activos). Outros preferem o anonimato como por exemplo o buraco negro no centro da nossa galáxia, que deverá ter apenas 3 milhões de vezes a massa do Sol e aparenta estar numa fase de acalmia. Sua presença é denunciada pelo estudo da trajectória de algumas estrelas que só pode ser explicada pela presença de um objecto de grande massa naquela região.
Crédito: ESO. O desenho mostra a trajectória de uma estrela em torno do que deverá ser um buraco negro na região central da nossa galáxia .
Crédito: NASA / HST. A galáxia conhecida como M87 alberga um dos primeiros buracos negros descobertos no centro de uma galáxia, que deverá ter uma massa de milhares de milhões de vezes a massa do Sol. Na imagem podemos ver um zoom da região central onde deverá estar escondido este gigantesco buraco negro e a emissão de um jacto que tem uma extensão de pelo menos 5.000 anos-luz.
Crédito: Keck, S.G. Djorgovski, A. Mahabal, e M. Bogosavljevic, Caltech. O quasar J1148+525, assinalado com uma seta, é o mais longínquo encontrado até hoje no Universo observável. As suas linhas espectrais apresentam um desvio para o vermelho da ordem de 6,4 o que significa que encontra-se a uma distância de cerca de 13 mil milhões de anos-luz. No quadro pequeno mostra-se o espectro do quasar a partir do qual foi possível determinar a sua distância.
Alguns binários de raios-X de pequena massa também apresentam um comportamento semelhante e por isso recebem o nome de microquasares. Em ambos os casos, mas novamente com escalas diferentes, existe um objecto compacto central que acredita-se ser um buraco negro em rotação, um disco de acreção e são observadas emissão de jactos relativistas, ou seja, em que as partículas viajam com uma velocidade próxima da velocidade da luz. Os jactos presentes nos microquasares podem apresentar uma extensão de alguns anos luz; nos quasares esse valor pode ascender aos milhões de anos-luz. A radiação proveniente do disco de acreção em torno de um quasar ou de um núcleo galáctico activo é maioritariamente na banda do ultra-violeta ou no óptico. No caso dos microquasares a radiação predominante é na banda dos raios-X.
Existe mais um processo no Universo cujo comportamento é semelhante ao dos quasares e microquasares, são as hipernovas. Trata-se de um processo semelhante à explosão de uma supernova, em que provavelmente a estrela progenitora teria uma grande massa. Neste caso, observam-se fortes emissões na banda dos raios gama associadas à fase final de vida destas estrelas. O remanescente da estrela será um buraco negro que estará rodeado pela matéria da estrela, recentemente ejectada. No disco de acreção e por razões ainda não bem conhecidas pode ter origem um jacto de partículas muito energéticas que ao interagir com as camadas expelidas pela estrela vai dar origem a um fenómeno conhecido como “explosões de raios gama”.
O leitor já descobriu como são encontrados os bons candidatos a buracos negros estelares e como surgem as evidências da existência de buracos negros no centro das galáxias. Os primeiros com massas de algumas vezes a massa do Sol e os últimos podendo atingir milhares de milhões de vezes esse valor. Será que isso é tudo? Será que não existem buracos negros com massas intermédias. Bem a verdade é que a teoria que prevê a existência de buracos negros não estabelece qualquer limite com relação ao seu tamanho. Tanto podem ser gigantescos como aqueles que encontramos nos centros das galáxias como podem ser tão pequenos quanto uma partícula. Não há portanto nenhuma razão para que eles não existam em todos os tamanhos, o problema está em conseguirmos detectá-los Bem, a tarefa é difícil mas não impossível.
Crédito: NASA. Um buraco negro ao passar entre o observador e um objecto distante vai dar origem a um efeito a que damos o nome de lente gravitacional. O buraco negro age como uma lente provocando um aumento na luminosidade do objecto, neste caso uma estrela.
Até o momento já foram detectados por este método pelo menos 3 candidatos a buracos negros com massas que variam entre 3 a 6 Msol. Bem, mas estes enquadram-se bem na classe de buracos negros estelares. Falta ainda resolver o enigma, e buracos negros com massas intermédias?
A partir dos anos 90 também estes começaram a ser encontrados. Alguns em enxames globulares como foi o caso do enxame M15 que deverá albergar um buraco negro com uma massa da ordem de 4000 Msol. Outros a partir da sua emissão em raios-X, detectada em outras galáxias, que sugere a presença buracos negros com centenas ou até mesmo milhares de vezes a massa do Sol
Os buracos negros que têm sido encontrados em enxames globulares também aparentam ter uma relação directa com a massa do seu hospedeiro. Parece haver um mecanismo ainda não descoberto que liga o buraco negro ao seu hospedeiro por um processo que ainda temos que compreender.
Crédito: NASA, A. Feild, e R. Van Der Marel (STScI). A existência de um buraco negro pode ser evidenciada a partir do estudo do comportamento das estrelas em torno do núcleo central.
Mas a história não acaba aqui, existem ainda os mini buracos negros. São os chamados buracos negros primordiais, previstos por Stephen Hawking e Brandon Carter nos anos 70 e teriam surgido no Universo primordial devido a flutuações na densidades da matéria que preenchia o espaço-tempo. Alguns autores chegam mesmo a fazer estudos comparativos entre estes mini buracos negros e algumas partículas mais exóticas, encontrando interessantes factores comuns entre ambos. Não existem contudo evidências experimentais sobre a existência destas entidades.
Crédito: NASA. Relação entre a massa do buraco negro e a massa do enxame de estrelas. Os enxames globulares contêm as estrelas mais antigas do Universo. Se ficar comprovado que possuem buracos negros na sua região central, então muito provavelmente já o teriam quando se formaram. Este seria um importante passo para a compreensão da sua formação.
Na outra ponta da escala está o limite da nossa imaginação, os “buracos negros universais”. Alguns cientistas acreditam mesmo que o nosso Universo pode estar no interior de um deles, ou de forma mais correcta, no interior de um buraco branco que é exactamente a mesma coisa que um buraco negro, mas neste caso, do seu horizonte de eventos tudo pode sair e nada pode entrar. Mas este assunto fica reservado para um tema futuro.
Chegámos à última parte deste tema do mês. Alguns aspectos fascinantes destes incríveis objectos foram revelados ao longo das últimas semanas, mas muito ainda resta por descobrir Com diferentes explicações e formas de detecção estamos sempre a falar do mesmo objecto, os buracos negros, o objecto que melhor exemplifica a Teoria da Relatividade Geral. Pequenos, médios, intermédios e grandes, eles estão em todo lado. Como surgiram, qual será a sua evolução, que peças do puzzle ainda nos falta para finalmente percebermos estes inexplicavelmente simples e enigmáticos objectos – Os Buracos Negros.