O conhecimento do espaço e do tempo, e a sobrevivência do Homem
O primeiro período da história da Astronomia tem o seu início há dezenas, ou mesmo centenas de milhares de anos. A Astronomia, juntamente com a aritmética, é talvez a mais antiga de todas as áreas do conhecimento. De certa forma ligada à Astronomia, encontramos também, em todas as épocas, e não importa em que região da Terra, nem qual o nível de evolução das civilizações, a preocupação do Homem relativamente às suas origens e ao seu destino final.
Pintura rupestre, “Cueva de Los Caballos”, Castellón-Espanha. Crédito: Centro Nacional de Información y Comunicación Educativa.
Desde a Pré-História que a observação do céu deve ter inquietado o espírito humano; por um lado, a revelação da existência de leis naturais imutáveis, por outro, a tentação de colocar no céu seres sobrenaturais todo poderosos. Percebemos, nessa época, a origem dos primeiros mitos e cultos astrais, que tiveram um papel importante nas diversas religiões primitivas. Ao observar o mundo, o Homem acreditava poder explicá-lo como uma consequência da actividade de espíritos motivados por emoções semelhantes às dos seres humanos. Vivia-se uma época em que o universo era completamente antropomórfico - a Época da Magia. É a época dos espíritos bons, mas também dos demoníacos, aos quais era atribuída a forma de animais e de plantas, e que tinham o poder de governar o mundo. Tudo o que era observado podia ser explicado de forma simples pela vontade e pelas acções desses espíritos.
Inicialmente, o Homem não tinha qualquer actividade, para além das que estavam relacionadas com a sua própria sobrevivência. Muito antes de se colocar certas questões sobre os fenómenos observados, ou até de tentar encontrar explicações para os justificar, o Homem primitivo pretenderia apenas sobreviver, no meio hostil que o rodeava. mas desde muito cedo a sua atenção terá sido atraída para diversos fenómenos astronómicos, sendo que o mais marcante terá sido, naturalmente, a sucessão dos dias e das noites.
Calendário lunar primitivo. Crédito: Calvin J. Hamilton (Science Views)
A Astronomia nasce com a aprendizagem deste tipo de conhecimentos, simples mas essenciais. As actividades necessárias à sobrevivência da espécie humana estão pois na origem das primeiras atitudes directamente ligadas à Astronomia, a qual, por esse motivo, se encontra intimamente relacionada com a evolução do Homem desde os tempos mais primitivos.
Calendário lunar primitivo (pormenor). Crédito: Calvin J. Hamilton (Science Views)
Calendário Maia. A imagem representa uma pequena secção da "La Mojarra Stela 1". Crédito:Wikipedia.
Mais tarde a Época da Magia acabará por dar lugar à Época da Mitologia. Os espíritos, que eram omnipresentes e omnipotentes, “transformaram-se” em deuses que personificavam abstracções do pensamento. O Homem adquire então consciência da sua pequenez perante o mundo, mas, paradoxalmente, acredita que desempenha o principal papel no palco universal. Vive-se uma época em que o universo é perfeitamente antropocêntrico, na qual as diversas mitologias podem ser hoje interpretadas como modelos cosmológicos pré-científicos. Na verdade, a mitologia não é mais do que a expressão figurativa de certas cosmologias, sobretudo as que se desenvolveram utilizando complexas redes de mitos, que na época preenchiam o imaginário de todos. Estes modelos representam talvez as primeiras tentativas para explicar o Universo através de uma utilização sistemática do raciocínio. Podemos citar, por exemplo, mitologias criadas por civilizações importantes, como a civilização maia ou a egípcia, a judaica ou a grega, e mais a oriente, as que foram construídas pela civilização babilónica, a indiana ou a chinesa. Na verdade, todas elas constituem os mais primitivos modelos, conhecidos, que o Homem construiu para explicar o Universo.
Bibliografia:
- A. Berry, A short history of astronomy
- A. Pannekoek, A history of astronomy
- H. Thurston, Early astronomy