Introdução


Vénus, “a estrela da manhã”, o segundo planeta mais próximo do Sol, e o nosso vizinho planetário mais próximo, sempre fascinou a Humanidade desde os seus primórdios. O seu brilho apenas é excedido pelo Sol e Lua, e é fácil compreender o domínio que exercia nos céus e na importância para a compreensão. Desde cedo que teve uma dupla identidade, Hesperos e Phosphoros para os Gregos ou Vesper e Lúcifer para os Romanos, dependendo se era visto antes do pôr do Sol, ao final da tarde ou antes do nascer do Sol no amanhecer. Ainda hoje a seu duplo carácter é tido com um dos maiores mistérios.

Desde o inicio da era espacial que Vénus é um atractivo alvo para as ciências planetárias e foi um dos primeiros corpos do Sistema Solar a ser explorado, devido ao facto de estar tão próximo da Terra (metade da distância a Marte, na sua distância mais próxima).

No início da década de 60, quando as primeiras missões soviéticas e americanas começaram a estudar este planeta, esperava-se que fosse muito semelhante à Terra. Mas quando os primeiros dados começaram a chegar, rapidamente se percebeu que estávamos perante um mundo muito mais exótico e inóspito que se esperava. Andar na superfície de Vénus seria uma tarefa impossível, para além da sua temperatura de 460 ºC, seria como andar debaixo de água a 900 metros de profundidade (a pressão atmosférica de Vénus é 90 vezes mais elevada que a da Terra). Só recentemente, com a missão Magellan na primeira metade da década de 90, se conseguiu mapear a superfície e perceber melhor qual é o seu aspecto e descobri algumas das suas formas e características.

Sabemos que Vénus e a Terra têm a mesma idade e evoluíram ao longo do mesmo período de tempo (cerca de 4,5 mil milhões de anos) mas em percursos bastante distintos, Que percursos são esses, de que forma estão relacionados, como são tão diferentes ainda são mistérios sem resposta.



Comparação entre o Planeta Terra e Vénus. Créditos: Walter Myers (2000).


Outra das questões que intriga os astrofísicos é a sua rotação retrógrada. Quase todos planetas do Sistema Solar têm uma rotação no mesmo sentido directo, isto é o sentido contrário ao ponteiro dos relógios tal como o Sol. Mas o planeta Vénus (tal como Úrano e Plutão) efectua a sua rotação própria no sentido contrário. A colisão de um corpo de grandes dimensões com o planeta Vénus, na história inicial do Sistema Solar, pode explicar a alteração da sua rotação. Mas não há indícios actuais da ocorrência de tal colisão.

O conhecimento adquirido pelas mais de 20 missões espaciais que estudaram este planeta permitiram responder a algumas questões, mas foram muito mais as perguntas que surgiram. Vénus é hoje um planeta cheio de mistérios, e passada mais de uma década voltou a ser alvo de uma missão desenhada para estudar e tentar responder a algumas questões levantadas pelas missões anteriores. A Venus Express, que orbita o planeta desde meados do mês de Abril de 2006, vai estudar com detalhe a complexa dinâmica da atmosfera do planeta Vénus e tentar lançar pistas para compreender o passado, presente e futuro de Vénus.