Infante D. Henrique
O aparecimento da Astronomia em Portugal não está bem localizado no tempo. Consta que o D. Afonso IV (1291-1357), responsável pela introdução dos estudos matemáticos em Portugal, se interessava por Astronomia. É ainda possível encontrar referências a uma observação da Lua atribuída D. Duarte (1391-1438).

No entanto os historiadores parecem estar de acordo com o facto de ter sido o Infante D. Henrique (1394-1460), filho de D. João I (1357-1433), a introduzir o estudo da Astronomia com o objectivo de apoiar as campanhas de navegação.

Em 1419 o Infante D. Henrique criou um observatório/academia náutica em Sagres com o objectivo de preparar pilotos de navegação. Um dos maiores problemas de então, para o desejo marítimo dos portugueses, era a falta de mestres para a formação de pilotos. Assim durante o séc. XV vários foram os reputados cosmógrafos estrangeiros que ensinaram em Portugal. Entre eles podemos destacar Jácomo de Maiorca, Martim de Behaim e, o mais famoso de todos, Abraão Zacuto que vem para Portugal em 1492.

As descobertas marítimas do séc. XV são assim o resultado do investimento:
  • Cabo Bojador, Gil Eanes (1434)
  • Ilhas de Cabo Verde, Cadamosto (1455-56)
  • São Tomé e Príncipe, João de Santarém e Pedro Escobar (1471-72)
  • Cabo da Boa Esperança, Bartolomeu Dias (1487)
  • Gronelândia e Terra Nova, João Fernandes Lavrador e Pedro de Barcelos (1492-98)
  • Calecute (India), Vasco da Gama (1497-99)
  • Brasil, Pedro Álvares Cabral (1500)
  • etc
Pedro Nunes
E tal como diz Pedro Nunes "Não iam a acertar mas partiam os seus mareantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras (…)". Pedro Nunes foi um dos matemáticos mais reputados do seu tempo. Nasceu em Alcácer do Sal em 1502 e as suas contribuições para a cartografia e navegação são muito conhecidas.

Mas foi a sua obra astronómica "De crepusculis" que lhe trouxe definitivamente fama internacional. "De crepusculis" foi escrita com o objectivo de resolver uma importante problema da época relacionado com a duração do crepúsculo num qualquer local da Terra e num qualquer dia do ano. Este obra, onde Pedro Nunes apresenta o Nónio, teria recebido o elogio de Tycho Brahe.

O Nónio de Pedro Nunes
Em 1574 Pedro Nunes foi nomeado cosmógrafo-mor do reino por D. Sebastião (1554-1578). Pedro Nunes morre em 1579 deixando um espólio científico de enorme relevo. O presente ano comemora-se o quinto centenário do seu nascimento e têm sido várias as iniciativas para assinalar a efeméride. Algumas delas podem ser consultadas em http://www.pedronunes.pt .

É comum fazer (simbolicamente) coincidir a morte de Pedro Nunes com o início de um período de decadência científica em Portugal que, na opinião de vários historiadores, irá atravessar todo o séc XVII e parte do séc. XVIII. O fim do período expansionista com a morte de D. Sebastião pode explicar este facto, uma vez que as descobertas foram um dos grandes motores do desenvolvimento científico em Portugal. A introdução da inquisição em Portugal em 1531, durante o reinado de D. João III, é também apresentada como uma das razões para esse período de decadência.

No entanto, é possível encontrar, no início do séc. XVII traços de uma actividade astronómica muito interessante desenvolvida no seio do colégio jesuita de Santo Antão em Lisboa onde existia uma cadeira de Astronomia e no Colégio das Artes em Coimbra. Cristovão Borro foi um dos seus mais notáveis professores. Assim, a generalização da ideia de um período de decadência do séc. XVII é actualmente algo no mínimo discutível.

Mas é claramente durante o séc XVIII que se pode detectar um considerável desenvolvimento da Astronomia em Portugal. Antes de mais pela construção de observatórios astronómicos. Segundo J. Pereira Osório, na obra já aqui citada, podem contar-se uma dezena de estabelecimentos deste tipo criados durante o séc. XVIII, embora em alguns dos casos com um tempo de vida efémero

Parece assim clara a vontade de apostar na astronomia observacional. Um bom exemplo disso pode ser encontrado nos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772) explicitamente se ordena a criação de um Observatório com uma particular relevância para as aulas práticas:

Estatutos da Universidade de Coimbra

José Monteiro da Rocha (1734-1819) que, a convite do Marquês de Pombal, participou na elaboração dos estatutos da Universidade de Coimbra, foi um dos nomes maiores da ciência portuguesa. Segundo Gomes Teixeira deveu-se a Monteiro da Rocha a introdução em Portugal das novas doutrinas de Copérnico, Kepler, Galileu e Newton.

Um dos mais interessantes exemplos do valor dado à observação concerne a criação do Observatório Astronómico de Lisboa. Em meados do séc. XIX a Europa da astronomia debatia-se com várias controvérsias relacionadas com diferentes medições de um mesmo objecto. Por exemplo a distância à estrela Groombridgs 1830 medida por distintos astrónomos dava resultados muito diferentes: O. Struve, do Observatório de Pulkovo, encontrava 36 parsecs e M. Faye, do Observatório de Paris, obtinha 0.9 parsecs ! Por volta 1850, Faye teria sugerido que Lisboa seria o local da Europa ideal para fazer a observação necessária para tirar todas as dúvidas.

Este foi o mote para a construção de um novo Observatório em Lisboa em 1878 com uma dotação especial de D. Pedro V, que permitiu a aquisição de instrumentos de grande precisão. Neste processo de criação e estabelecimento do Observatório de Lisboa, tiveram importância maior pessoas como Filipe Folque, Frederico Oom e M. Campos Rodrigues.

Entre 1700 e 1900 pode registar-se uma produtividade científica extremamente relevante, apesar de uma vivência com alguns períodos conturbados como o foram a expulsão dos Jesuítas (1759) ou a transferência da coroa portuguesa para o Brasil em 1807, depois da tentativa de invasão do território nacional pelas tropas napoliónicas.

De acordo com Rudolfo Guimarães (1909, "O Instituto" da Universidade de Coimbra) pode contar-se mais de 300 publicações nos mais diferentes domínios da Astronomia. Eis alguns exemplos:
  • "Observations des Léonides 1898", Campos Rodrigues, 1899
  • "Observations et explications de quelques phénomenes du disque du Soleil observé à l'Hotel de Cluny, à Paris, le 6 mai 1753 et leur application pour la perfection de l'astronomie", Soares de Barros e Vasconcellos, 1753
  • "O novo planeta Eros e a distância do Sol à Terra", Real Observatório Astronómico de Lisboa, 1901
  • "A questão dos planetas intramercurianos", D'Almeida Garrett, 1869
  • "Habitantes do planeta Saturno", Peixoto do Amaral, 1886

Ainda na mesma obra de Rudolfo Guimarães pode detectar-se um conjunto de artigos que podem ajudar a marcar o início do estudo da Astrofísica em Portugal. Eis alguns exemplos:
  • "The alleged changes of colours in Sirius", F. Oom, 1902
  • "Photometric measurment of star near Rigel", Morais Pereira, 1901
  • "Observations of variables stars from january 1894 to january 1896", Morais Pereira, 1894
  • "Dr. Schwabe's algol variable", Morais Pereira, 1901
  • "Observations of Sun spots. Drawings and measurements of position and surface every available day from 1893 to 1898", Morais Pereira, 1894-1900

Já não é só a posição dos astros que interessa, são também as suas propriedades intrínsecas. A Astrofísica sofre em Portugal um novo incremento graças ao esforço de Francisco Costa Lobo, durante os anos 20, que instala no Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra um espectroheliógrafo destinado à obtenção de imagens do Sol, fruto de uma estreita colaboração com o Observatório de Paris.

O séc. XX é a imagem da própria História da Astronomia em Portugal: períodos de claro avanço alternam com épocas mais ou menos longas de aparente inactividade. Hoje em dia a Astronomia em Portugal é uma área em franco desenvolvimento. Mas este não é o local não o tempo para falar sobre o presente. Aqui reservemo-nos ao passado na esperança que este possa ajudar o futuro.