No entanto os historiadores parecem estar de acordo com o facto de ter sido o Infante D. Henrique (1394-1460), filho de D. João I (1357-1433), a introduzir o estudo da Astronomia com o objectivo de apoiar as campanhas de navegação.
Em 1419 o Infante D. Henrique criou um observatório/academia náutica em Sagres com o objectivo de preparar pilotos de navegação. Um dos maiores problemas de então, para o desejo marítimo dos portugueses, era a falta de mestres para a formação de pilotos. Assim durante o séc. XV vários foram os reputados cosmógrafos estrangeiros que ensinaram em Portugal. Entre eles podemos destacar Jácomo de Maiorca, Martim de Behaim e, o mais famoso de todos, Abraão Zacuto que vem para Portugal em 1492.
As descobertas marítimas do séc. XV são assim o resultado do investimento:
Mas foi a sua obra astronómica "De crepusculis" que lhe trouxe definitivamente fama internacional. "De crepusculis" foi escrita com o objectivo de resolver uma importante problema da época relacionado com a duração do crepúsculo num qualquer local da Terra e num qualquer dia do ano. Este obra, onde Pedro Nunes apresenta o Nónio, teria recebido o elogio de Tycho Brahe.
É comum fazer (simbolicamente) coincidir a morte de Pedro Nunes com o início de um período de decadência científica em Portugal que, na opinião de vários historiadores, irá atravessar todo o séc XVII e parte do séc. XVIII. O fim do período expansionista com a morte de D. Sebastião pode explicar este facto, uma vez que as descobertas foram um dos grandes motores do desenvolvimento científico em Portugal. A introdução da inquisição em Portugal em 1531, durante o reinado de D. João III, é também apresentada como uma das razões para esse período de decadência.
No entanto, é possível encontrar, no início do séc. XVII traços de uma actividade astronómica muito interessante desenvolvida no seio do colégio jesuita de Santo Antão em Lisboa onde existia uma cadeira de Astronomia e no Colégio das Artes em Coimbra. Cristovão Borro foi um dos seus mais notáveis professores. Assim, a generalização da ideia de um período de decadência do séc. XVII é actualmente algo no mínimo discutível.
Mas é claramente durante o séc XVIII que se pode detectar um considerável desenvolvimento da Astronomia em Portugal. Antes de mais pela construção de observatórios astronómicos. Segundo J. Pereira Osório, na obra já aqui citada, podem contar-se uma dezena de estabelecimentos deste tipo criados durante o séc. XVIII, embora em alguns dos casos com um tempo de vida efémero
Parece assim clara a vontade de apostar na astronomia observacional. Um bom exemplo disso pode ser encontrado nos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772) explicitamente se ordena a criação de um Observatório com uma particular relevância para as aulas práticas:
José Monteiro da Rocha (1734-1819) que, a convite do Marquês de Pombal, participou na elaboração dos estatutos da Universidade de Coimbra, foi um dos nomes maiores da ciência portuguesa. Segundo Gomes Teixeira deveu-se a Monteiro da Rocha a introdução em Portugal das novas doutrinas de Copérnico, Kepler, Galileu e Newton.
Um dos mais interessantes exemplos do valor dado à observação concerne a criação do Observatório Astronómico de Lisboa. Em meados do séc. XIX a Europa da astronomia debatia-se com várias controvérsias relacionadas com diferentes medições de um mesmo objecto. Por exemplo a distância à estrela Groombridgs 1830 medida por distintos astrónomos dava resultados muito diferentes: O. Struve, do Observatório de Pulkovo, encontrava 36 parsecs e M. Faye, do Observatório de Paris, obtinha 0.9 parsecs ! Por volta 1850, Faye teria sugerido que Lisboa seria o local da Europa ideal para fazer a observação necessária para tirar todas as dúvidas.
Este foi o mote para a construção de um novo Observatório em Lisboa em 1878 com uma dotação especial de D. Pedro V, que permitiu a aquisição de instrumentos de grande precisão. Neste processo de criação e estabelecimento do Observatório de Lisboa, tiveram importância maior pessoas como Filipe Folque, Frederico Oom e M. Campos Rodrigues.
Entre 1700 e 1900 pode registar-se uma produtividade científica extremamente relevante, apesar de uma vivência com alguns períodos conturbados como o foram a expulsão dos Jesuítas (1759) ou a transferência da coroa portuguesa para o Brasil em 1807, depois da tentativa de invasão do território nacional pelas tropas napoliónicas.
De acordo com Rudolfo Guimarães (1909, "O Instituto" da Universidade de Coimbra) pode contar-se mais de 300 publicações nos mais diferentes domínios da Astronomia. Eis alguns exemplos:
Ainda na mesma obra de Rudolfo Guimarães pode detectar-se um conjunto de artigos que podem ajudar a marcar o início do estudo da Astrofísica em Portugal. Eis alguns exemplos:
Já não é só a posição dos astros que interessa, são também as suas propriedades intrínsecas. A Astrofísica sofre em Portugal um novo incremento graças ao esforço de Francisco Costa Lobo, durante os anos 20, que instala no Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra um espectroheliógrafo destinado à obtenção de imagens do Sol, fruto de uma estreita colaboração com o Observatório de Paris.
O séc. XX é a imagem da própria História da Astronomia em Portugal: períodos de claro avanço alternam com épocas mais ou menos longas de aparente inactividade. Hoje em dia a Astronomia em Portugal é uma área em franco desenvolvimento. Mas este não é o local não o tempo para falar sobre o presente. Aqui reservemo-nos ao passado na esperança que este possa ajudar o futuro.
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