Câmara de infravermelhos portuguesa integra um dos maiores telescópios do mundo

2007-05-04

Região central do enxame globular de Omega Centauri, observado com diferentes técnicas de óptica adaptativa. A imagem de cima foi obtida com a CAMCAO, com uma exposição total de 5 minutos. O campo tem 2 minutos de arco de lado e as estrelas têm um FWHM de 0,08 e 0,1 segundos de arco! As estrelas utilizadas pela técnica MCAO estão identificadas com uma cruz. Em baixo, uma região da imagem de cima, com 14 segundos de arco, observada com diferentes técnicas de óptica adaptativa. Da esquerda para a direita: sem óptica adaptativa, com sistema tradicional de óptica adaptativa, e com o novo sistema MCAO. O sistema tradicional não melhora significativamente a imagem, mas o efeito da MCAO é impressionante. Crédito: ESO.
A CAMCAO é uma câmara de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
próximos concebida para ser usada num dos telescópios do VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
) conjuntamente com um inovador sistema de óptica adaptativa
óptica adaptativa
A técnica de óptica adaptativa é um sistema óptico que se instala nos telescópios terrestres por forma a corrigir, em tempo real, os efeitos da turbulência atmosférica.
designada por MCAO (Multi-Conjugate Adaptive Optics). Esta é a primeira câmara de alta resolução e campo de visão largo a utilizar esta técnica de correcção da turbulência atmosférica.

A construção da câmara e a sua validação ficou a cargo de uma equipa portuguesa, liderada pelo Laboratório SIM da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com participação do LIP-Coimbra e INETI, e foi financiada pela FCT.

Pronta em 2005 (ver notícia 25/07/2005), a câmara foi entregue no final desse ano ao ESO para ser integrada no sistema MAD (Multi-Conjugate Adaptive Optics Demonstrator) . Em Janeiro deste ano, o demonstrador foi enviado para o Observatório do Paranal (Chile) para ser instalado no telescópio Melipal do VLT.

O MAD e a CAMCAO observaram a primeira luz no VLT no dia 25 de Março, confirmando-se em condições de observação reais os valores de desempenho do sistema que já haviam sido verificados em ambiente laboratorial.

A utilização de técnicas de correcção das perturbações atmosféricas é fundamental para poder recuperar (pelo menos parte) da resolução teórica possível com telescópios de grandes dimensões. A Óptica Adaptativa faz essa correcção, contrabalançando a distorção da imagem provocada pela atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
através de deformações no espelho, controladas por computador. As correcções são em tempo real e são calculadas através da imagem de uma câmara especial.

Há 20 anos que se utilizam técnicas de óptica adaptativa. Mas até agora, só se conseguia corrigir o efeito em pequenas regiões do céu, tipicamente de 15 segundos de arco
segundo de arco (")
O segundo de arco (") é uma unidade de medida de ângulos, ou arcos de circunferência, correspondente a 1/60 de minuto de arco, ou seja, 1/3600 de grau.
. A nova técnica MCAO vem ultrapassar essa limitação, pois utiliza como referência o sinal de várias estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, e não apenas uma, como sucede com as técnicas de óptica adaptativa tradicionais. Torna-se assim possível corrigir um campo de visão muito maior.

O MAD e a CAMCAO foram especialmente concebidos para testar a MCAO. A MCAO é considerada uma técnica chave para a instrumentação de 2ª geração do VLT, bem como do futuro ELT (Extremely Large Telescope).

Fonte da notícia: http://sim.fc.ul.pt/sim_pt/Camcao_noticias_2007_1