Portugal constrói câmara para o telescópio VLT do ESO

2005-07-29

A CAMCAO durante testes de levantamento e manuseamento. Crédito: Rui Barros.
Numa cerimónia decorrida na terça-feira na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), foi apresentada a câmara de infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
de alta-resolução CAMCAO, encomendada pelo Observatório Europeu do Sul
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
(ESO) e construída em Portugal. A câmara destina-se a ser operada em conjunto com um novo demonstrador de óptica adaptativa
óptica adaptativa
A técnica de óptica adaptativa é um sistema óptico que se instala nos telescópios terrestres por forma a corrigir, em tempo real, os efeitos da turbulência atmosférica.
, o MAD, no Very Large Telescope
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
- VLT, no Observatório do Paranal (Chile).

A CAMCAO (Camera for Multi Conjugate Adaptive Optics) foi construída pelo Grupo CAMCAO da FCUL com a colaboração do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas de Coimbra (LIP-Coimbra) e o Laboratório de Apoio às Actividades Aeroespaciais do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (LAAA-INETI). O projecto, iniciado em 2001 e concluído após quatro anos de operações, foi financiado pela FCT através dos programas do POCTI e FEDER.

As observações no infravermelho representam um papel fundamental na astrofísica moderna. Quando observado neste comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
, o Universo revela-nos segredos sobre os processos químicos que nele ocorrem, sobre a formação de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, sobre a formação de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
, etc… Mas apesar da importância da astronomia no infravermelho, este é ainda um domínio recente, com um longo caminho pela frente, avançando principalmente com o desenvolvimento de novas tecnologias.

O projecto CAMCAO surge com a necessidade de criar e testar uma câmara de infravermelhos que funcione em conjunto com um novo demonstrador de óptica adaptativa, o MAD (Multi-conjugate Adaptive optics Demonstrator, que será intergrado no telescópio UT3 do VLT. O MAD é um protótipo dum sistema que utiliza a mais recente técnica de óptica adaptativa, a MCAO (Multi-Conjugate Adaptive Optics), que tem como finalidade corrigir a turbulência atmosférica em campos de visão largos. Esta técnica, ainda em desenvolvimento, é essencial para a segunda geração de instrumentos do VLT, já em construção, e para a nova geração de telescópios como o OWL (ESO) (um telescópio de 100 m).

A CAMCAO será assim a primeira câmara de infravermelhos de alta resolução e de largo campo de visão a ser usada com óptica adaptativa. O objectivo do MAD e da CAMCAO é demonstrarem, no céu, que é possível utilizar a técnica de MCAO. A CAMCAO foi concebida de forma a também poder ser utilizada simplesmente como uma câmara de infravermelhos de alta-resolução.

Para Portugal este tipo de projecto é extremamente importante pois permite a especialização em áreas de tecnologia de ponta. E do ponto de vista científico, a comunidade astronómica portuguesa ganha noites de observação, essencial para validar a câmara e simultaneamente conduzir a sua própria investigação.