Novo planeta é maior do que Plutão

2006-02-07

Em cima: O diâmetro de 2003 UB313 comparado com os de Plutão, de Caronte, da Terra e da Lua. Crédito: Max Planck Institute for Radio Astronomy. Em baixo: À esquerda, o telescópio de 30 metros IRAM, em Pico Veleta, no Sul de Espanha; à direita, o sensor MAMBO-2, desenvolvido e construído pelo MPIfR, em Bona. Crédito: Max Planck Institute for Radio Astronomy.
Tal como Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
, 2003 UB313 é um dos corpos gelados existentes na Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
, para lá de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
. É o mais distante objecto alguma vez observado no Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. A sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de grande excentricidade
excentricidade
A excentricidade de uma elipse é a razão entre a distância de um foco ao centro da elipse (c) e o seu semi-eixo maior (a): e=c/a. A circunferência tem excentricidade nula, e=0.
coloca-o a uma distância do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
97 vezes superior à da Terra – quase duas vezes mais distante que o ponto mais distante da órbita de Plutão – pelo que demora duas vezes mais que Plutão a realizar uma volta em torno do Sol.

Quando foi observado pela primeira vez, UB313 parecia ter um tamanho semelhante ao de Plutão, mas não foi possível determinar com precisão as suas dimensões sem se conhecer o seu albedo
albedo
O albedo é uma medida da reflectividade de um astro, definida como a razão entre a quantidade de luz reflectida pelo astro e a quantidade de luz recebida. A reflexão total corresponde a um albedo de 1.
(ver notícia 02/08/2005. Agora, uma equipa liderada por Frank Bertoldi (Universidade de Bona e MPIfR - Instituto Max Planck para a Radioastronomia) e Wilhelm Altenhoff (MPIfR) conseguiu resolver o problema. Para isso, utilizaram os resultados das medições da quantidade de calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
que UB313 irradia para determinar o seu tamanho, resultados estes que, combinados com as observações no visível, também permitiram determinar a sua reflectividade. O diâmetro encontrado foi de 3000±300±100 quilómetros, onde o primeiro factor de erro se deve à incerteza de medida e o segundo ao facto de ser desconhecida a orientação do objecto. Este valor converte UB313 no maior objecto que se conhece no Sistema Solar, para lá de Neptuno, decididamente maior do que Plutão. Se o estatuto de planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
é atribuído a Plutão, então parece haver razões para que UB313 também o mereça.

UB313 foi descoberto em Janeiro de 2005, por Mike Brown e por outros colegas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, durante um levantamento do céu efectuado com uma câmara digital de campo aberto para procurar pequenos planetas distantes em comprimentos de onda do visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
. A equipa descobriu uma fonte não resolvida que se movia lentamente; através da velocidade aparente da fonte foi determinada a distância a que ela se encontrava e a forma da sua órbita. Não foi, contudo, possível determinar o tamanho do objecto, embora pelo seu brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
óptico parecesse ser maior do que Plutão.

Os astrónomos têm vindo a descobrir pequenos objectos planetários para lá da órbita de Neptuno e de Plutão, desde 1992. A chamada Cintura de Kuiper contém objectos que restaram da formação do nosso sistema planetário, há 4,5 mil milhões de anos, e que, nas suas órbitas distantes, têm conseguido sobreviver à atracção gravitacional dos grandes planetas do interior do Sistema Solar. Alguns objectos desta Cintura são ocasionalmente deflectidos, entrando no interior do Sistema, onde surgem como cometas de curto período
cometa de curto período
Designam-se por cometas de curto período aqueles cujo período orbital é inferior a 200 anos.
.

Os objectos do Sistema Solar são observados, no visível, através da luz solar que reflectem. Em consequência, o seu brilho aparente depende do seu tamanho assim como da reflectividade da sua superfície (albedo). O albedo tem um valor de 4% para a maior parte dos cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
e ultrapassa os 50% para o caso de Plutão, o que mostra como é impossível determinar exactamente o tamanho do objecto apenas com base nos dados da luz visível.

A equipa de Bona utilizou o telescópio de 30 metros IRAM, em Espanha, equipado com o detector MAMBO (Max-Planck Millimeter Bolometer), desenvolvido pelo MPIfR, para medir a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
de calor de UB313 num comprimento de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
de 1,2 milímetros, onde a luz solar reflectida é desprezável e o brilho do objecto depende apenas da sua temperatura de superfície e do seu tamanho. A temperatura pôde ser estimada convenientemente a partir da distância ao Sol e desta forma o brilho observado para os 1,2 milímetros permitiu uma boa determinação do tamanho do objecto. Foi possível depois concluir que a superfície de UB313 reflecte cerca de 60% da luz solar incidente, um valor que é muito semelhante ao albedo de Plutão.

Considerando Plutão como um objecto da Cintura de Kuiper, esta descoberta alerta os cientistas para o facto de Plutão não ser, afinal, assim tão fora do vulgar . É provável que futuramente se descubram outros pequenos planetas nesta região, uma região onde se encontram os restos da nebulosa
nebulosa
Uma nebulosa é uma nuvem de gás e poeira interestelares.
a partir da qual o Sol e os restantes planetas se formaram. A descoberta de novos planetas poderá vir a ensinar-nos muito mais sobre a formação e evolução do Sistema Solar.

Os resultados obtidos por esta equipa foram publicados no número de 2 de Fevereiro de 2006 da revista Nature.

Fonte da notícia: http://www.mpg.de/english/illustrationsDocumentation/documentation/pressReleases/2006/pressRelease20060130/presselogin/