Deep Impact detecta núcleo do cometa Tempel 1

2005-06-21

Em cima e à esquerda: imagem em falsa cor do cometa Tempel 1, obtida a 30 de Maio pela sonda Deep Impact. Em cima e à direita: um modelo matemático da atmosfera do cometa (a cabeleira). Em baixo e à esquerda: a imagem resultante da diferença das imagens de cima mostra-nos o núlceo do cometa. Em baixo e à direita: o gráfico mostra a intensidade da imagem resultante da diferença entre as imagens de cima; o pico no gráfico representa o brilho do núcleo. Crédito: Deep Impact/JPL/NASA/U. Maryland.
A missão Deep Impact (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), lançada em Janeiro (ver notícia de 17/01/2005), está a aproximar-se do seu alvo, o cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
Tempel 1. A missão é constituída por duas sondas: a principal, do tamanho de um pequeno carro, que está munida de câmaras do visível e do infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
; e a segunda sonda, do tamanho de uma máquina de lavar a roupa, leva uma única câmara e é um "impactor", que será dirigido contra o núcleo do cometa
núcleo de um cometa
O núcleo de um cometa é a parte sólida e gelada, localizada no centro da cabeça do cometa e é constituído por poeiras e gases gelados. O diâmetro dos núcleos cometários tem tipicamente entre 10 e 20 km.
. A missão está concebida de forma a se obterem imagens antes, durante e após o impacto, que ocorrerá a 4 de Julho.

Imagens obtidas pela sonda nos finais de Maio, à distância de 30 milhões de quilómetros do cometa, foram processadas e apresentadas ao público ontem. Antes de serem processadas, as imagens são dominadas pela nuvem de gás e poeira a que os astrónomos chamam de cabeleira do cometa
cabeleira de um cometa
A cabeleira (ou coma) de um cometa é uma nuvem de gás e poeira que circunda o núcleo do cometa e cujo diâmetro pode atingir os milhões de quilómetros. A cabeleira só se forma quando o cometa se aproxima do Sol, a distâncias inferiores à órbita de Júpiter, pois é quando o calor do Sol é suficiente para sublimar parte do gelo do núcleo. A cabeleira e o núcleo formam a cabeça do cometa.
. Contudo, um truque de fotometria permitiu isolar o pequeno núcleo, com 4,5 por 13,5 km de dimensão, da cabeleira. A densa atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
que constitui a cabeleira foi matematicamente simulada e depois subtraída das imagens originais. A imagem resultante mostra o núcleo - o ponto brilhante no centro da cabeleira.

A detecção atempada do núcleo conseguida nestas imagens ajuda a estabelecer os tempos de exposição finais para as observações do impacto. O facto de se conseguir distinguir o núcleo da cabeleira permite estudar melhor o eixo de rotação do núcleo do cometa, o que ajudará a determinar em que parte do núcleo o impactador colidirá a 4 de Julho.

As imagens obtidas entre 29 e 31 de Maio contêm uma cabeleira bem formada com uma fonte pontual detectável na posição do pixel mais brilhante - o núcleo. O brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
do núcleo determinado a partir destas imagens é próximo do previsto pelas observações anteriores realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) e pelo Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA). Presentemente, o núcleo contribui com cerca de 20% para o brilho total perto do centro do cometa.

No início de Julho, a Deep Impact alcançará o cometa Tempel 1, após uma viagem de cerca de 430 milhões de quilómetros. Cerca de 24 horas antes do impacto previsto para as sete da manhã do dia 4 de Julho, o impactor será lançado a caminho do cometa e a colisão ocorrerá a uma velocidade de 37000 km/h. Espera-se que a colisão crie uma cratera de vários metros de diâmetro, ejectando gelo, poeira e gás, e deixando a descoberto o material primitivo que se encontra por baixo.

Fonte da notícia: http://www.newsdesk.umd.edu/scitech/release.cfm?ArticleID=1087