As primeiras imagens de Titã pela Huygens

2005-01-17

Imagens de Titã obtidas pela Huygens com o instrumento DISR. Em cima: composição de imagens obtidas durante a descida, a 8 km de altitude, mostram uma vista de 360° com uma resolução de 20 metros por pixel. No centro: composição de imagens, também obtidas a 8 km de altitude, mostra detalhes da fronteira entre o terreno elevado, mais claro, e o terreno mais baixo e escuro. Em baixo: a mesma imagem da superfície de Titã, obtida pela sonda já pousada, é apresentada à direita sem processamento e à esquerda, já colorida e processada. Crédito: ESA/NASA/University of Arizona.
No dia 14 de Janeiro, após uma viagem de sete anos pelo Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
a bordo da Cassini (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), a sonda Huygens
Cassini-Huygens (NASA/ESA)
A missão Cassini-Huygens é uma missão conjunta da NASA e da ESA dedicada a Saturno que foi lançada no dia 13 de Outubro de 1997. Esta missão é composta por duas sondas: a sonda Cassini cujo objectivo principal é o estudo de Saturno, da sua atmosfera e do seu campo magnético, e a sonda Huygens cujo objectivo é o estudo da atmosfera do maior satélite de Saturno, Titã. O ponto alto desta missão será sem dúvida o pouso da sonda Huygens na superfície de Titã.
, da ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
, desceu através da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
de Titã e pousou, com sucesso, na sua superfície. A Huygens é a primeira sonda a pousar num objecto do Sistema Solar exterior.

A Huygens foi libertada pela nave-mãe Cassini no dia de Natal (ver notícia 26/12/2004) e, 20 dias depois, alcançou a atmosfera superior de Titã, após percorrer sozinha 4 milhões de quilómetros. A descida da sonda através das camadas de nuvens e bruma de Titã, a partir de uma altitude de 1270 km, teve início às 10:13 (hora de Lisboa). Durante os três minutos que se seguiram, a Huygens teve de desacelerar de 18000 para 1400 km/h.

Uma sequência de pára-quedas diminuiu a velocidade da sonda para menos de 300 km/h. À altitude de cerca de 160 km, os instrumentos científicos ficaram expostos à atmosfera de Titã. A cerca de 120 km de altitude, o pára-quedas principal foi substituído por um menor, que completou a descida pousando a sonda à hora esperada, 12:34 (hora de Lisboa).

Quatro minutos após o começo da descida, a Huygens deu início à transmissão de dados para a Cassini, continuando a fazê-lo mesmo depois de ter pousado, enquanto a Cassini estava acima do horizonte de Titã.

A primeira certeza de que a Huygens estava bem veio através de dados de rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
, capturados pelo radiotelescópio Green Bank
Green Bank Telescope (GBT)
O Robert C. Byrd Green Bank Telescope (GBT) é o maior radiotelescópio de uma só antena totalmente dirigível. O prato da antena do GBT mede 100 por 110 metros. O observatório em Green Bank é operado pela NRAO (National Radio Astronomy Observatory).
(NRAO
National Radio Astronomy Observatory (NRAO)
O NRAO é o Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA e opera vários radiotelescópios, como o VLA, o VLBA, o GBT, o EVLA e o ALMA.
), nos EUA, às 10h25. Mais tarde, os dados da Huygens enviados pela Cassini foram recebidos pela rede Deep Space Network (NASA) e de imediato enviados para o Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC), em Darmstadt (Alemanha), onde a análise científica está a decorrer.

A missão Cassini-Huygens é uma cooperação entre a NASA, a ESA e a ASI (Agência Espacial Italiana). Na nossa página de Missões, pode encontrar mais informação sobre a Cassini-Huygens e os seus objectivos científicos. Pode ainda consultar os Temas do Mês "Titã" e "Saturno: um gigante com estilo" .

Na imagem ao lado, apresentamos algumas das primeiras imagens de Titã que a Huygens obteve com a sua câmara DISR ( Descent Imager/Spectral Radiometer). Em cima, uma composição de imagens obtidas durante a descida de Huygens mostra uma vista de 360° à volta da sonda. O lado esquerdo apresenta uma fronteira entre áreas claras e escuras. Os traços brancos próximos dessa fronteira podem ser nevoeiro muito baixo, dado que não se observa a outras altitudes. À medida que a sonda desceu, passou por cima do planalto do centro da imagem, e encaminhou-se para o seu local de poiso, na área escura à direita. Estimou-se que a velocidade do vento era cerca de 6 a 7 km/h. Estas imagens foram obtidas a aproximadamente 8 km de altitude, com uma resolução de cerca de 20 metros por pixel.

A segunda imagem é também uma composição de imagens obtidas durante a descida da sonda, à mesma altitude que a composição de cima. Vê-se claramente a fronteira entre o terreno elevado e claro, marcado com o que parece serem canais de drenagem, e as áreas mais baixas e escuras.

Em baixo, uma imagem obtida com a Huygens já no solo de Titã é apresentada, à direita, tal como foi obtida, sem nenhum processamento, e à esquerda, após ter sido processada e com dados extra dos espectros de reflexão. A imagem mostra a superfície de Titã com o que parecem ser blocos de gelo, mas que afinal, são apenas pedrinhas – a imagem depois de processada permite inferir as dimensões e as distâncias, que estão indicadas na imagem da direita. A superfície é mais escura do que se pensava e consiste numa mistura de água e gelo de hidrocarbonetos. Há também evidência de erosão na base destes objectos indicando possível actividade fluvial.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/SPECIALS/Cassini-Huygens/SEMC8Q71Y3E_0.html
e http://www.esa.int/SPECIALS/Cassini-Huygens/index.html