Depois de 7 anos de viagem e após percorrer mais de 3,2 mil milhões de quilómetros, a sonda Huygens (ESA) separou-se da “nave mãe” Cassini (NASA), para sozinha se dirigir até Titã, a maior lua de Saturno. Às 2:00 (hora de Lisboa) do dia 25 de Dezembro, dispositivos pirotécnicos, molas, rampas e rolamentos empurraram a sonda Huygens suavemente da Cassini, com uma velocidade relativa de 0,3 m/s, e colocaram-na numa trajectória de 4 milhões de quilómetros até Titã. Uns minutos depois da separação, a Cassini voltou-se para a Terra e enviou informação sobre a separação – o sinal levou então 1 hora e 8 minutos para atravessar os 1,2 mil milhões de quilómetros que separam a Cassini da Terra.

A Huygens encontra-se num estado inactivo e assim permanecerá até pouco antes de entrar na atmosfera de Titã. A 14 de Janeiro, a Huygens atravessará a atmosfera de Titã em menos de 2 horas e meia e, se a sonda sobreviver ao impacto com a superfície, viverá mais duas horas até as suas baterias se esgotarem.

A cerca de 1200 km da superfície de Titã, a Huygens iniciará uma travessia dramática através do espesso nevoeiro de Titã, com a tarefa de ir analisando a composição química da atmosfera da lua à medida que desce, até tocar na superfície. Os dados recolhidos durante a descida e à superfície serão transmitidos continuamente pela sonda para a Cassini, que estará a escutá-la durante 4,5 horas.

Após a recepção dos dados, a Cassini apontará a sua antena para a Terra e enviará os dados recolhidos pela Huygens através da Deep Space Network (NASA) para o Laboratório de Propulsão a Jacto (Caltech) e para o Centro de Operações Espaciais da ESA, em Darmstadt (Alemanha), onde os dados da Huygens serão analisados pelos cientistas.

Após a separação da Huygens, a Cassini, a 28 de Dezembro, realizará uma manobra de deflexão para não seguir a sonda até Titã e para estabelecer a geometria requerida entre a sonda e o orbitador para comunicações rádio durante a descida da sonda.

A missão Cassini-Huygens é uma cooperação entre a NASA, a ESA e a ASI (Agência Espacial Italiana) para o envio de uma nave robótica altamente sofisticada para a órbita de Saturno e aí estudar este sistema detalhadamente durante 4 anos. Lançada em 1997, a Cassini levou a bordo a sonda científica Huygens, libertada agora para seguir o seu rumo até Titã.

O Laboratório de Propulsão a Jacto concebeu, montou e opera o orbitador Cassini; a sonda Huygens é operada pela ESTEC (European Space Technology and Research Centre), da ESA. A ASI é responsável pela antena de alto ganho e por outros instrumentos. Muitos países europeus e os EUA forneceram o equipamento e instrumentos da missão. Centenas de cientistas e engenheiros de 16 países europeus e dos EUA constituem a equipa responsável por desenhar, construir, voar e colher os dados do orbitador Cassini e da sonda Huygens.

A Huygens foi construída com uma camada exterior muito dura para proteger o seu delicado interior das temperaturas extremas que experimentará durante a descida através da atmosfera de Titã. A sonda é constituída por duas partes: o módulo de entrada e o módulo de descida. O primeiro comporta o equipamento para controlar a Huygens depois de esta se separar da Cassini e possui um escudo que actua como um travão, além de constituir uma protecção térmica. O módulo de descida contém os instrumentos científicos.

A Huygens entrará na atmosfera de Titã com uma ângulo de 65° e uma velocidade de 6 km/s. Protegido com um escudo térmico, a sonda desacelerará até 400 m/s em 3 minutos. Três pára-quedas serão utilizados sequencialmente durante a descida e a sonda alcançará a superfície com uma velocidade de 6 m/s.

Titã, a segunda maior lua do Sistema Solar, é talvez a mais interessante de todas. A sua espessa atmosfera de azoto é rica em compostos orgânicos que reagem constantemente. Se fossem descobertos num planeta como a Terra, a sua presença poderia ser interpretada como um sinal de Vida. Muito pouco se sabe sobre a superfície de Titã, embora os cientistas desconfiem que a Huygens descobrirá lagos, ou mesmo oceanos, de uma mistura líquida de etano, metano e azoto. Se existir água em Titã, não poderá ser sob a forma líquida, pois a sua superfície é demasiado fria (-180°C).

Os seis instrumentos da sonda Huygens providenciarão a primeira amostra directa da química da atmosfera de Titã e as primeiras fotografias da sua superfície escondida. Além de ir estudando a atmosfera de Titã durante a descida, a Huygens também irá caracterizar a superfície ao longo da descida. O estudo da química orgânica em Titã poderá dar-nos pistas de como começou a vida na Terra. Algumas perguntas que os cientistas pretendem responder com os dados da Huygens são: quais as reacções químicas a ocorrerem na atmosfera de Titã? qual a fonte do abundante metano, um composto orgânico que na Terra está associado a actividade biológica? há oceanos em Titã? existem compostos orgânicos mais complexos e moléculas pré-bióticas em Titã?

Na nossa página de Missões, pode encontrar mais informação sobre a missão Cassini-Huygens.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/esaCP/SEMWRK3AR2E_index_0.html
e http://www.esa.int/SPECIALS/Cassini-Huygens/index.html