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Nebulosa NGC 604
Ditos
"Se estás a trabalhar em algo novo, então és necessariamente um amador."- John Wheeler
Orografia de um mundo exótico
2007-08-23
Depois de realizadas múltiplas passagens da sonda Cassini na vizinhança de Titã, várias peças do puzzle começam a encaixar-se... outras nem tanto. Desta vez abordamos algumas características da superfície que, embora menos mediáticas, podem revelar informação preciosa sobre a evolução da maior lua de Saturno.
As montanhas de Titã são formadas por água gelada, embora possam ter uma contribuição apreciável de amoníaco, mas esse facto não está ainda completamente esclarecido. Ao contrário do que sucede na Terra, as montanhas não são muito elevadas devido à sua composição. Uma vez que a força gravítica é inferior à da Terra, seria de esperar que pudessem existir montanhas maiores. Veja-se o caso dos asteróides que possuem uma forma geralmente irregular dada a sua baixa gravidade. Marte é outro exemplo sugestivo. Porém, há outros factores a ter em conta, como por exemplo a actividade geológica e as propriedades termodinâmicas do gelo. De facto, o gelo é mais frágil do que estruturas à base de materiais ferrosos ou silicatos. Como consequência, é expectável que a actividade geológica seja diferente e muitos fenómenos estão ainda por estudar.
Imagem de infravermelho de uma das estruturas da superfície de Titã. A região esbranquiçada, em forma de caracol, é possivelmente causada por actividade vulcânica. Crédito – Cassini-Huygens Mission – NASA-JPLAlguns instrumentos da missão Cassini-Huygens fornecem informação para estudar a geologia de Titã. Não se sabe se existem placas tectónicas no sentido em que nós as conhecemos, mas suspeita-se fortemente da existência de vulcões, que expelem lava fria, à base de água e amoníaco. É importante, apesar de tudo, referir que estas misturas de amoníaco hidratado, ou água com amónia, dependendo do ponto de vista da abordagem, não foram ainda confirmadas. Algumas da imagens enviadas pela Cassini sugerem a presença de caldeiras, estruturas típicas de vulcões, bem como fluxos radiais de material, que indiciam origem diversa da causada por impactos.
As actividades sísmica e vulcânica induzem o recobrimento da superfície por material expelido do interior, escondendo ou destruindo as crateras provocadas por impactos exteriores. De facto, o número de crateras em Titã é incomparavelmente menor do que aquele que existe na Lua, por exemplo. Existem duas razões principais para esse facto: atmosfera espessa e actividade geológica. No primeiro caso, somente os objectos de maiores dimensões não são destruídos por atrito durante a entrada na atmosfera. No segundo, as estruturas sofrem erosão devido a actividade geológica. Esta é também a razão para o baixo número de crateras existentes na Terra, quando comparado com Marte. Finalmente, e de acordo com modelos teóricos, pois ainda não existem provas conclusivas sobre o assunto, pensa-se que Titã terá, à semelhança de Europa - lua de Júpiter -, um oceano subterrâneo. Este oceano interior, à base de água e amoníaco, é o análogo da camada magmática líquida na Terra. Iremos, em crónicas futuras, também procurar assinaturas da sua existência e implicações para a evolução de Titã.
As semelhanças, que também podem ser interpretadas como diferenças, não acabam por aqui. Um outro tipo de estruturas interessantes presente na superfície de Titã é provocado pelo vento: dunas! Não se tratam de dunas propriamente de areia, mas de outro material. Talvez grãos de gelo ou tolinas, ou uma mistura dos dois. Todavia, embora seja necessário vento para a sua formação, não são conhecidos os processo pelos quais as dunas se formam. Em princípio, a turbulência à superfície provocada pelos ventos é inferior em Titã, pelo que a formação deste tipo de estruturas não é bem compreendida. Vários cientistas afirmam que estes processos podem estar relacionados com o efeito de maré provocado por Saturno, tanto mais que as dunas são maioritariamente vistas próximo do equador, mas não há certezas... Somente clara evidência da sua existência.
Imagem radar da sonda Cassini onde se observam riscas longitudinais, as quais são interpretadas como dunas geladas formadas por pequenos grãos. Crédito – Cassini-Huygens Mission – NASA-JPL
Este mundo de Peter Pan ou Alice no País das Maravilhas revela-se, simultaneamente, familiar e desconhecido, normal e único. Nas próximas edições descreveremos o ambiente da atmosfera e da ionosfera, porque o exotismo de Titã parece ser infindável.
Referências Úteis:
As montanhas de Titã são formadas por água gelada, embora possam ter uma contribuição apreciável de amoníaco, mas esse facto não está ainda completamente esclarecido. Ao contrário do que sucede na Terra, as montanhas não são muito elevadas devido à sua composição. Uma vez que a força gravítica é inferior à da Terra, seria de esperar que pudessem existir montanhas maiores. Veja-se o caso dos asteróides que possuem uma forma geralmente irregular dada a sua baixa gravidade. Marte é outro exemplo sugestivo. Porém, há outros factores a ter em conta, como por exemplo a actividade geológica e as propriedades termodinâmicas do gelo. De facto, o gelo é mais frágil do que estruturas à base de materiais ferrosos ou silicatos. Como consequência, é expectável que a actividade geológica seja diferente e muitos fenómenos estão ainda por estudar.
Imagem de infravermelho de uma das estruturas da superfície de Titã. A região esbranquiçada, em forma de caracol, é possivelmente causada por actividade vulcânica. Crédito – Cassini-Huygens Mission – NASA-JPL
As actividades sísmica e vulcânica induzem o recobrimento da superfície por material expelido do interior, escondendo ou destruindo as crateras provocadas por impactos exteriores. De facto, o número de crateras em Titã é incomparavelmente menor do que aquele que existe na Lua, por exemplo. Existem duas razões principais para esse facto: atmosfera espessa e actividade geológica. No primeiro caso, somente os objectos de maiores dimensões não são destruídos por atrito durante a entrada na atmosfera. No segundo, as estruturas sofrem erosão devido a actividade geológica. Esta é também a razão para o baixo número de crateras existentes na Terra, quando comparado com Marte. Finalmente, e de acordo com modelos teóricos, pois ainda não existem provas conclusivas sobre o assunto, pensa-se que Titã terá, à semelhança de Europa - lua de Júpiter -, um oceano subterrâneo. Este oceano interior, à base de água e amoníaco, é o análogo da camada magmática líquida na Terra. Iremos, em crónicas futuras, também procurar assinaturas da sua existência e implicações para a evolução de Titã.
As semelhanças, que também podem ser interpretadas como diferenças, não acabam por aqui. Um outro tipo de estruturas interessantes presente na superfície de Titã é provocado pelo vento: dunas! Não se tratam de dunas propriamente de areia, mas de outro material. Talvez grãos de gelo ou tolinas, ou uma mistura dos dois. Todavia, embora seja necessário vento para a sua formação, não são conhecidos os processo pelos quais as dunas se formam. Em princípio, a turbulência à superfície provocada pelos ventos é inferior em Titã, pelo que a formação deste tipo de estruturas não é bem compreendida. Vários cientistas afirmam que estes processos podem estar relacionados com o efeito de maré provocado por Saturno, tanto mais que as dunas são maioritariamente vistas próximo do equador, mas não há certezas... Somente clara evidência da sua existência.
Imagem radar da sonda Cassini onde se observam riscas longitudinais, as quais são interpretadas como dunas geladas formadas por pequenos grãos. Crédito – Cassini-Huygens Mission – NASA-JPL
Este mundo de Peter Pan ou Alice no País das Maravilhas revela-se, simultaneamente, familiar e desconhecido, normal e único. Nas próximas edições descreveremos o ambiente da atmosfera e da ionosfera, porque o exotismo de Titã parece ser infindável.
Referências Úteis:
- R.D. Lorenz et al. The sand seas of Titan: Cassini RADAR observation of longitudinal dunes. Science 312, 724-727 (2006).
- C. Sotin et al. Release of volatiles from a possible cryovolcano from near-infrared imaging of Titan. Nature 435, 786-789 (2005).