AVISO
Imagem do Dia
Sagitário A* no centro da Via Láctea
Ditos
"Não sei com que armas a 3ª Guerra Mundial será travada, mas a 4ª Guerra Mundial será disputada com paus e pedras."- Albert Einstein
Esconder, fugir ou ignorar?
2016-03-03
4.Mar.- 10.Mar.2016 (Portugal)
Primeiro um pequeno jogo mental
Devido a algum desentendimento e uma troca de nomes tornaste-te desafortunadamente o alvo de mercenários e assassinos a soldo. Como sabes disso? Porque, certo dia ouves um silvar agudo e, a um palmo da cabeça, aparece um buraco de bala na parede. Para além de uma ou outra repetição semelhante, também notas, no meio das gentes na rua, olhares firmes de uma ou outra pessoa que pareces já ter visto noutros locais ao longo dos dias.
Que fazes?
Escondes-te em casa? Parece fútil. Fugir para os braços das autoridades? Não vale a pena, estes nem irão tentar ajudar. Ignoras? Se calhar é uma boa opção. Enfim se chega o dia do fim, chega o fim. Assunto arrumado.
É esta a resposta correta para ti?
Vamos ver a realidade.
Nestes dias parece que estamos abrangidos por este texto, vem um asteroide na nossa direção com uma velocidade relativa de quase 50.000 km/h. Em princípio vai passar ao lado da Terra a uma distância de mais de 3 milhões km, ou seja quase 8 vezes mais distante que a Lua. Infelizmente, sendo a sua órbita maioritariamente interior à nossa, portanto mais perto do Sol, este asteroide, que dá pela designação 2013 TX68, só foi observado 3 vezes no ano 2013. Portanto os dados orbitais disponíveis não são particularmente exatos. Atendendo às tolerâncias nos dados significa que existe a eventualidade, nem que seja remota, este passar a 30.000 km da Terra (contando a partir do centro, não da superfície terrestre). Com um diâmetro estimado de 30-55 m, o asteroide tem sensivelmente o dobro do tamanho do evento em Cheliabinsk/Russia em fevereiro de 2013. Em caso de embate causava uma cratera semelhante àquela bem conhecida no Arizona/EUA.
Felizmente, a realidade é um pouco como o jogo mental acima. O asteroide vai passar, figurativamente, a um palmo de distância. E como no futebol...mesmo um pouco ao lado continua ser ao lado...falhar o golo. Ainda bem para nós!
O problema é, tal como no jogo acima, este não é o único assassino à solta. Conhecemos mais de 1500 asteroides potencialmente perigosos, para não dizer potencialmente catastróficos (http://neo.jpl.nasa.gov/orbits/). Com tamanhos desde muitas dezenas de metros até bem uns km, o efeito de um embate podia ser descrito melhor pela população de dinossauros, pois eles passaram por isso, porém, saíram dessa na forma extinta.
Num caso semelhante, qual a probabilidade para a humanidade se preservar? Que podemos fazer contra, o que os dinossauros preferiam, por natureza deles, ignorar?
Para já. Procurar.
Atendendo o que, no céu, não está sob observação, estima-se que nem 50% de toda a população de asteroides que se aproximam da Terra com regularidade foram detetados. Existem alguns programas de rastreio, mas o potencial de deteção é muito limitado. Sendo a análise das imagens de rastreio feitos por computador, há também muita coisa que escapa.
É ai que entram em ação os programas de procura de asteroides com olho humano. Um desses programas tem participação portuguesa, embora o objetivo do programa seja encontrar quaisquer asteroides, não só aqueles que podem erradicar a vida numa boa parte da paisagem ou mesmo em toda a terra.
O céu e a localização do futuramente potencial assassino, por volta das 19:30, na direção do pôr-de-sol. O asteroide apenas é visível com meios fotográficos e telescópio, mesmo se, por engano nos dados, passar ainda mais perto de nós do que previsto. Causa? Vindo do lado do sol, vemos apenas o lado escuro virado para a Terra durante a aproximação. Crédito: GRM/NUCLIOQuem são estas pessoas tão dedicadas procurando não uma agulha no palheiro, mas sim, uma pedaço específico de palha no palheiro? Serão especialistas na proteção civil? Engenheiros ou entendidos bem pagos? Astrónomos? Não, nada disso.
São alunos daquelas escolas portuguesas que aderem ao programa internacional que o NUCLIO promove entre muitos outros programas envolvendo escolas, formadores ou quaisquer pessoas interessadas.
Embora haja algo de mórbido em ser o descobridor do tal objeto que possa igualar a história dos seres humanos com a dos dinossauros, a descoberta em si não precisa ser necessariamente o fim. Tudo depende do tempo que temos entre a descoberta e o impacto previsto. Atualmente, com os programas existentes, qualquer ameaça real terá um aviso de no máximo uns dias. Adeus gente, viva as baratas, pois elas ficam.
Para escrutinar o céu como deve ser e fazer o levantamento de todos os objetos perigosos para a Terra, é preciso investir em equipamentos, gente que os opera e gente que analisa os resultados, 24h por dia, 7 dias por semana. Sabias que o número que representa o valor da verba nacional, atribuída à contribuição no esforço global de rastreio de asteroides perigosos só foi introduzido na Europa a meio da era medieval?
Prevenção
Infelizmente, ainda existem muitas incógnitas e entraves técnicos (leia-se: financeiros) que permitem uma resposta a uma ameaça de asteroide. Tudo que conhecemos dos filmes de ficção científica não funciona, pelo menos não da forma apresentada. Os poucos meios que temos para eventualmente evitar um embate requerem uma descoberta com anos de antecedência. Por isso é tão importante descobrir o que anda por ai.
Esconder, fugir ou ignorar?
O pequeno jogo mental inicial existe, portanto, na realidade, embora numa escala bem mais preocupante e maior.
Que fazes? Que fazemos?>br> Esconder? ...fútil.
Fugir? ...não há para onde ir.
Ignorar? ...os nossos dirigentes eleitos escolherem esta via. E tu?
Possíveis localizações do asteroide 2013 TX68 no sábado, dia 5.3, aquando da sua maior aproximação a Terra. Por enquanto, parece que estamos safos deste.Sábado, dia 5, é o dia da maior aproximação do asteroide 2013 TX68. Não há perigo, parece. O objeto apenas é fotografável com telescópios e pouco depois do pôr-do-sol.
Porém, não devemos esquecer Cheliabinsk e os estragos que houve mesmo sem um impacto na superfície terrestre. Naquele mesmo dia, todos os telescópios olharam para outro lado e outro asteroide a passar perto da Terra. Fomos apanhados por detrás, de surpresa e, felizmente, por um objeto pequeno. Oxalá não haja outra coincidência igual durante esta semana.
Última chamada
O atual ciclo de crónicas sobre as atualidades e o envolvimento do céu estrelado sobre a nossa vida chega ao fim. Para que o ciclo seguinte da crónica tenha o efeito desejado, isto é servir para alguma coisa, é preciso a tua opinião. É fácil: basta clicar neste endereço ceu@astronomia.pt e escrever/enviar umas palavras de crítica, gostos, desgostos, opinião, sugestão, necessidades tuas de informação ou de leitura nesta rubrica do Portal do Astrónomo.
Primeiro um pequeno jogo mental
Devido a algum desentendimento e uma troca de nomes tornaste-te desafortunadamente o alvo de mercenários e assassinos a soldo. Como sabes disso? Porque, certo dia ouves um silvar agudo e, a um palmo da cabeça, aparece um buraco de bala na parede. Para além de uma ou outra repetição semelhante, também notas, no meio das gentes na rua, olhares firmes de uma ou outra pessoa que pareces já ter visto noutros locais ao longo dos dias.
Que fazes?
Escondes-te em casa? Parece fútil. Fugir para os braços das autoridades? Não vale a pena, estes nem irão tentar ajudar. Ignoras? Se calhar é uma boa opção. Enfim se chega o dia do fim, chega o fim. Assunto arrumado.
É esta a resposta correta para ti?
Vamos ver a realidade.
Nestes dias parece que estamos abrangidos por este texto, vem um asteroide na nossa direção com uma velocidade relativa de quase 50.000 km/h. Em princípio vai passar ao lado da Terra a uma distância de mais de 3 milhões km, ou seja quase 8 vezes mais distante que a Lua. Infelizmente, sendo a sua órbita maioritariamente interior à nossa, portanto mais perto do Sol, este asteroide, que dá pela designação 2013 TX68, só foi observado 3 vezes no ano 2013. Portanto os dados orbitais disponíveis não são particularmente exatos. Atendendo às tolerâncias nos dados significa que existe a eventualidade, nem que seja remota, este passar a 30.000 km da Terra (contando a partir do centro, não da superfície terrestre). Com um diâmetro estimado de 30-55 m, o asteroide tem sensivelmente o dobro do tamanho do evento em Cheliabinsk/Russia em fevereiro de 2013. Em caso de embate causava uma cratera semelhante àquela bem conhecida no Arizona/EUA.
Felizmente, a realidade é um pouco como o jogo mental acima. O asteroide vai passar, figurativamente, a um palmo de distância. E como no futebol...mesmo um pouco ao lado continua ser ao lado...falhar o golo. Ainda bem para nós!
O problema é, tal como no jogo acima, este não é o único assassino à solta. Conhecemos mais de 1500 asteroides potencialmente perigosos, para não dizer potencialmente catastróficos (http://neo.jpl.nasa.gov/orbits/). Com tamanhos desde muitas dezenas de metros até bem uns km, o efeito de um embate podia ser descrito melhor pela população de dinossauros, pois eles passaram por isso, porém, saíram dessa na forma extinta.
Num caso semelhante, qual a probabilidade para a humanidade se preservar? Que podemos fazer contra, o que os dinossauros preferiam, por natureza deles, ignorar?
Para já. Procurar.
Atendendo o que, no céu, não está sob observação, estima-se que nem 50% de toda a população de asteroides que se aproximam da Terra com regularidade foram detetados. Existem alguns programas de rastreio, mas o potencial de deteção é muito limitado. Sendo a análise das imagens de rastreio feitos por computador, há também muita coisa que escapa.
É ai que entram em ação os programas de procura de asteroides com olho humano. Um desses programas tem participação portuguesa, embora o objetivo do programa seja encontrar quaisquer asteroides, não só aqueles que podem erradicar a vida numa boa parte da paisagem ou mesmo em toda a terra.
O céu e a localização do futuramente potencial assassino, por volta das 19:30, na direção do pôr-de-sol. O asteroide apenas é visível com meios fotográficos e telescópio, mesmo se, por engano nos dados, passar ainda mais perto de nós do que previsto. Causa? Vindo do lado do sol, vemos apenas o lado escuro virado para a Terra durante a aproximação. Crédito: GRM/NUCLIO
Embora haja algo de mórbido em ser o descobridor do tal objeto que possa igualar a história dos seres humanos com a dos dinossauros, a descoberta em si não precisa ser necessariamente o fim. Tudo depende do tempo que temos entre a descoberta e o impacto previsto. Atualmente, com os programas existentes, qualquer ameaça real terá um aviso de no máximo uns dias. Adeus gente, viva as baratas, pois elas ficam.
Para escrutinar o céu como deve ser e fazer o levantamento de todos os objetos perigosos para a Terra, é preciso investir em equipamentos, gente que os opera e gente que analisa os resultados, 24h por dia, 7 dias por semana. Sabias que o número que representa o valor da verba nacional, atribuída à contribuição no esforço global de rastreio de asteroides perigosos só foi introduzido na Europa a meio da era medieval?
Prevenção
Infelizmente, ainda existem muitas incógnitas e entraves técnicos (leia-se: financeiros) que permitem uma resposta a uma ameaça de asteroide. Tudo que conhecemos dos filmes de ficção científica não funciona, pelo menos não da forma apresentada. Os poucos meios que temos para eventualmente evitar um embate requerem uma descoberta com anos de antecedência. Por isso é tão importante descobrir o que anda por ai.
Esconder, fugir ou ignorar?
O pequeno jogo mental inicial existe, portanto, na realidade, embora numa escala bem mais preocupante e maior.
Que fazes? Que fazemos?>br> Esconder? ...fútil.
Fugir? ...não há para onde ir.
Ignorar? ...os nossos dirigentes eleitos escolherem esta via. E tu?
Possíveis localizações do asteroide 2013 TX68 no sábado, dia 5.3, aquando da sua maior aproximação a Terra. Por enquanto, parece que estamos safos deste.
Porém, não devemos esquecer Cheliabinsk e os estragos que houve mesmo sem um impacto na superfície terrestre. Naquele mesmo dia, todos os telescópios olharam para outro lado e outro asteroide a passar perto da Terra. Fomos apanhados por detrás, de surpresa e, felizmente, por um objeto pequeno. Oxalá não haja outra coincidência igual durante esta semana.
Última chamada
O atual ciclo de crónicas sobre as atualidades e o envolvimento do céu estrelado sobre a nossa vida chega ao fim. Para que o ciclo seguinte da crónica tenha o efeito desejado, isto é servir para alguma coisa, é preciso a tua opinião. É fácil: basta clicar neste endereço ceu@astronomia.pt e escrever/enviar umas palavras de crítica, gostos, desgostos, opinião, sugestão, necessidades tuas de informação ou de leitura nesta rubrica do Portal do Astrónomo.