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"Os homens sábios falam porque têm algo a dizer; os tolos porque têm que dizer algo. "
- Platão


Drama no Touro, Aldebarã desaparece. Ursa gigante com três caudas domina o norte

2016-01-14
15.Jan.- 21.Jan.2016 (Portugal)

Na noite de quinta para sexta-feira, dia 15 às 0:01 horas, a ponta da cauda da Ursa Maior é visitada pelo cometa C/2013 US10 Catalina, ganhando mais duas caudas temporárias. Será necessário utilizar um binóculo.

A Ursa Maior é certamente a constelação mais reconhecida neste hemisfério. O arco grande formado pelas três/quatro estrelas da sua cauda não tem par na esfera celeste. Às vezes o asterismo é também comparado com uma frigideira ou um tacho. Seja qual for, o que interessa é a pega, a cauda, a ponta final do asterismo.

A partir das 22 horas (ainda no dia 14) já é possível detetar o cometa e as duas caudas que emanam do seu núcleo perto da estrela de ponta, chamada Alkaid (Eta UMa). Nessa hora está tudo ainda muito perto do horizonte, mas conforme avança a hora, a visibilidade melhora. Para ver as caudas do cometa será preciso um telescópio e, preferencialmente meios fotográficos digitais. Com binóculo talvez só a cauda dominante se destaque da imagem difusa geral do cometa. O cometa terá apenas magnitude 5, portanto é necessário procurar um objeto difuso de baixa luminosidade.


O cometa Catalina com as suas duas caudas (canto esquerdo superior imagem de 8.12.2015) vai visitar a ponta da cauda da Ursa Maior na noite de 14 para 15 de janeiro. O circulo vermelho assinala a zona de procura desde das 22h, dia 14, até o nascer do Sol, dia 15. Para binóculo: deixar a estrela da ponta da cauda percorrer ao longo do bordo do campo de visão do binóculo, o que coloca o cometa, a certa altura, no centro da vista. Crédito: F.H.Hemmerich/GRM
Sem grande alteração do brilho, ou a falta dela, o cometa aproxima-se nos dias vindouros do Dragão. No início de fevereiro estará nas proximidades do polo norte celeste.

Um drama ocorre no horizonte oeste, na noite de terça-feira para quarta-feira, dia 20 às 3:31 horas, e envolve o pilar mais fácil de encontrar do portal dourado e a lua. O fenómeno é observável a olho nu, embora qualquer binóculo ou luneta torne a vista mais divertida. Convém estar preparado, agasalhado e identificar a estrela principal do Touro, Aldebarã, uns 10 minutos antes, melhor meia hora antes.

A hora exata varia conforme o local de observação, cerca 3 minutos mais cedo no norte, 3 minutos mais tarde no sul de Portugal.

Eis o que vai acontecer (spoiler):

Silenciosa, como quase tudo na esfera celeste, calma e progressivamente a nossa lua aproxima-se da estrela Aldebarã. Na dita hora, sem cerimónia nem aviso, o bordo escuro (esquerda) da Lua corta a luz brilhante da principal estrela do Touro tal como a EDP o faz a quem se esquecer de pagar a fatura de eletricidade.



Quando uma estrela desaparece trata-se normalmente de uma ocultação. Ocultações totais e rasantes por parte da lua serviam em tempos para determinar o perfil do bordo lunar e a altitude do relevo da superfície. Atualmente, apenas as ocultações de estrelas por asteroides ou por objetos nos confins do sistema solar conseguem acordar algum interesse científico. Crédito: GRM/NUCLIO


Há algo de ligeiramente desconcertante ao ver uma estrela desaparecer instantaneamente assim sem mais nem menos. Felizmente para a validade dos mapas de estrelas e atlas celestes, às 4:22 horas a estrela volta, embora nessa altura já estará por baixo do horizonte. Fim do programa!

Não sabemos o que acontece no tempo entre des- e reaparecimento da estrela, tal como o gato, na casa dos Schrödinger, enquanto este não faz parte de uma experiência de mecânica quântica. Provavelmente não acontece nada.




Pergunta do mês
Porquê o dia da maior aproximação ao Sol, 2 de janeiro, não corresponde ao dia mais curto, ou seja com menos sol sobre o horizonte, que era no dia 22 de dezembro, onze dias antes?
Envie a sua resposta, mesmo se tentativa, para jan2016@astronomia.pt. Entre todas as respostas razoavelmente corretas é sorteado um conjunto de postais com imagens de objetos do céu profundo. (data limite 1.Fev.2016 Todas as nossas decisões são finais).