AVISO
Imagem do Dia
Sagitário A* no centro da Via Láctea
Ditos
"O mais importante é nunca parar de se questionar."- Albert Einstein
Sol à brava
2016-01-07
8.Jan.- 14.Jan.2016 (Portugal)
Já passou, enfim, é notícia de ontem, portanto, tecnicamente já nem é notícia. Todavia, não devemos ignorar que vivemos ao lado de uma estrela e não parece sensato ignorar o que isto implica. Para já, implicações a todas as escalas da existência não faltam, apesar da insistência tradicional de as menosprezar.
O Sol, a nossa estrela, varia na sua emissão da radiação, do vento solar e das partículas carregadas de energia, e todos afetam a Terra e o que esteja em cima dela.
Temos de admitir que pouco se pode fazer se o Sol decidir lançar um jato de plasma na nossa direção, estripar a nossa atmosfera e fritar tudo o que estiver na superfície terrestre. A probabilidade disso acontecer é tão remota como obter um governo que é mesmo bom para os cidadãos, mas não impossível. Aliás, numa escala ampla embora menos intensa isso acontece todos os anos uma quantidade de vezes.
Não é uma foto de Júpiter, não. Quando o interminável vento solar se transforma numa tempestade a Terra responde. Neste caso, na Antártida, as partículas e a energia eletromagnética solar direcionadas para a Terra penetram e excitam a atmosfera, provocando um espetáculo de luz em plena noite polar, uma aurora austral. A imagem foi obtida a partir da órbita com a câmara de infravermelhos (VIIRS) do satélite Suomi NPP em 24.6.2015. Crédito: Jesse Allen/EO/NASAGraças a essas variações perdemos frequentemente um ou outro dos satélites em órbita. O pessoal na estação espacial internacional (ISS) passa forçosamente momentos de alegria duvidosa na câmara de isolamento contra radiação. Nas zonas polares, os ursos polares num, os pinguins noutro, gozam o espetáculo frequente das auroras. Alguns pilotos e voadores frequentes mais sensíveis tendem sentir um certo desconforto na vida depois de voar muitas vezes a elevada altitude durante uma intensa tempestade geomagnética. Aliás, um dos meios de comunicação entre avião e o solo deixa de funcionar de todo, o que seria preocupante se não houvesse as alternativas redundantes. Os pombos não possuem alternativas e detestam voar, ou detestariam se soubessem, durante estas alturas, pois correm o risco de se desorientar e acabar longe do poleiro sem descanso para as asas.
Outros efeitos de viver ao lado de uma estrela, e ainda longe de uma enumeração completa, há os escaldões da pele, variabilidade climáticas, variação da temperatura global, interrupção dos meios de comunicação, cortes de energia em grande escala, etc.
Porquê só parece haver coisas negativas? Bem, fora do facto de sem sol nem haver vida relevante no planeta, o que sugere ser positivo, tudo o que desvia muito do padrão costuma, lamentavelmente, ser fatal para a fauna e flora. Do ponto de vista cósmico está tudo a funcionar na melhor.
Mas há também fenómenos solares do lado das coisas ligeiras para a vida terrestre. No passado dia 2, eis a tal notícia referida no início, a Terra estava mais próximo da sua estrela, o periélio. Na hora do almoço, o teu prato do dia distava uns confortáveis 146.401.449 km da superfície fervilhante do Sol. Se esse almoço ocorreu perto do equador, teriam faltado apenas 75 km da maior aproximação às 22:48h (hora portuguesa), aquecendo o Sol na altura os refrigerantes ao lado dos pratos de almoço nas ilhas Cook no Pacífico.
A Terra em órbita ao Sol no momento do periélio, a sua maior aproximação. Portugal, emergindo no bordo esquerdo, está a uma hora da meia-noite.Com um pouco de imaginação entende-se que Mercúrio, a esquerda do Sol, estava bem visível no horizonte logo após o pôr do Sol. A escala respeita diâmetros e distâncias (Terra vista a 55000 km de distância). Crédito: GRM/NUCLIOPara um encontro solar logo após o almoço, respeitando a velocidade máxima legalmente aceite, levava-se de carro uns 140 anos para chegar ao Sol.
Ainda bem que é tão distante, pois se fosse mais perto, os 5700 °C (6000 K), que reinam na face da nossa estrela, fariam mais do que um bronzeado acentuado.
Por exemplo, um restaurante em Mercúrio, na parte iluminada do planeta, nem precisa de cozinha. Os pratos vinham confecionados crus e, graças a temperatura ambiente de 430 °C, grelhavam a si próprios diretamente frente do cliente, aliás, cliente incluído. Mais saudável seria comer fora ao fim da tarde mercuriana. Sendo a temperatura mais amena possível cerca de 35 °C, seria até bastante agradável em comparação, se não fosse a falta total de ar.
No almoço seguinte, dia 3, tanto faz o local na Terra, a sopa já distava 790 km mais do Sol do que no dia anterior e 1500 km no dia seguinte. O afastamento entre a Terra em órbita e o Sol abranda atualmente até chegar ao mínimo de 540 km de diferença por dia na próxima terça-feira, dia 12. Depois acelera, ou seja afastamo-nos mais rápido cada dia. O maior progresso diário ocorre no início de abril e início de outubro, estando o Sol bem uns 43.000 km mais afastado (abril) ou mais perto (outubro) de um dia para outro.
Isto é para gente memorizar? Não, claro que não. Porém, da mesma forma que é essencial criar imagens mentais sobre nós e aquilo que nos rodeia e afeta diretamente, como o ambiente, a gente e a conta bancária, da mesma forma é algo importante alimentar uma imagem mais ampla. Por um lado, imagens dessas podem evitar perguntas, tais como ser possível que quando mais perto do Sol mais frio fica lá fora. Numa escala mais abrangente permite ter uma ideia, uma imagem sobre nós, a Terra e como nós nos inserimos no ambiente chamado Universo. Seguindo esta via de entendimento, mesmo que apenas e meramente superficial, é uma forma de encarar o mundo com olhos abertos, e perceber quão banal ou triste por vezes se comporta o ser humano, apenas porque não sabe melhor. Talvez a curiosidade mate o gato, como diz a voz popular, mas aos homens e mulheres a curiosidade até faz bem.
Pergunta do mês
Porquê o dia da maior aproximação ao Sol, 2 de janeiro, não corresponde ao dia mais curto, ou seja com menos sol sobre o horizonte, que era no dia 22 de dezembro, onze dias antes?
Envie a sua resposta, mesmo se tentativa, para jan2016@astronomia.pt. Entre todas as respostas razoavelmente corretas é sorteado um conjunto de postais com imagens de objetos do céu profundo. (data limite 1.Fev.2016 Todas as nossas decisões são finais).
Já passou, enfim, é notícia de ontem, portanto, tecnicamente já nem é notícia. Todavia, não devemos ignorar que vivemos ao lado de uma estrela e não parece sensato ignorar o que isto implica. Para já, implicações a todas as escalas da existência não faltam, apesar da insistência tradicional de as menosprezar.
O Sol, a nossa estrela, varia na sua emissão da radiação, do vento solar e das partículas carregadas de energia, e todos afetam a Terra e o que esteja em cima dela.
Temos de admitir que pouco se pode fazer se o Sol decidir lançar um jato de plasma na nossa direção, estripar a nossa atmosfera e fritar tudo o que estiver na superfície terrestre. A probabilidade disso acontecer é tão remota como obter um governo que é mesmo bom para os cidadãos, mas não impossível. Aliás, numa escala ampla embora menos intensa isso acontece todos os anos uma quantidade de vezes.
Não é uma foto de Júpiter, não. Quando o interminável vento solar se transforma numa tempestade a Terra responde. Neste caso, na Antártida, as partículas e a energia eletromagnética solar direcionadas para a Terra penetram e excitam a atmosfera, provocando um espetáculo de luz em plena noite polar, uma aurora austral. A imagem foi obtida a partir da órbita com a câmara de infravermelhos (VIIRS) do satélite Suomi NPP em 24.6.2015. Crédito: Jesse Allen/EO/NASA
Outros efeitos de viver ao lado de uma estrela, e ainda longe de uma enumeração completa, há os escaldões da pele, variabilidade climáticas, variação da temperatura global, interrupção dos meios de comunicação, cortes de energia em grande escala, etc.
Porquê só parece haver coisas negativas? Bem, fora do facto de sem sol nem haver vida relevante no planeta, o que sugere ser positivo, tudo o que desvia muito do padrão costuma, lamentavelmente, ser fatal para a fauna e flora. Do ponto de vista cósmico está tudo a funcionar na melhor.
Mas há também fenómenos solares do lado das coisas ligeiras para a vida terrestre. No passado dia 2, eis a tal notícia referida no início, a Terra estava mais próximo da sua estrela, o periélio. Na hora do almoço, o teu prato do dia distava uns confortáveis 146.401.449 km da superfície fervilhante do Sol. Se esse almoço ocorreu perto do equador, teriam faltado apenas 75 km da maior aproximação às 22:48h (hora portuguesa), aquecendo o Sol na altura os refrigerantes ao lado dos pratos de almoço nas ilhas Cook no Pacífico.
A Terra em órbita ao Sol no momento do periélio, a sua maior aproximação. Portugal, emergindo no bordo esquerdo, está a uma hora da meia-noite.Com um pouco de imaginação entende-se que Mercúrio, a esquerda do Sol, estava bem visível no horizonte logo após o pôr do Sol. A escala respeita diâmetros e distâncias (Terra vista a 55000 km de distância). Crédito: GRM/NUCLIO
Ainda bem que é tão distante, pois se fosse mais perto, os 5700 °C (6000 K), que reinam na face da nossa estrela, fariam mais do que um bronzeado acentuado.
Por exemplo, um restaurante em Mercúrio, na parte iluminada do planeta, nem precisa de cozinha. Os pratos vinham confecionados crus e, graças a temperatura ambiente de 430 °C, grelhavam a si próprios diretamente frente do cliente, aliás, cliente incluído. Mais saudável seria comer fora ao fim da tarde mercuriana. Sendo a temperatura mais amena possível cerca de 35 °C, seria até bastante agradável em comparação, se não fosse a falta total de ar.
No almoço seguinte, dia 3, tanto faz o local na Terra, a sopa já distava 790 km mais do Sol do que no dia anterior e 1500 km no dia seguinte. O afastamento entre a Terra em órbita e o Sol abranda atualmente até chegar ao mínimo de 540 km de diferença por dia na próxima terça-feira, dia 12. Depois acelera, ou seja afastamo-nos mais rápido cada dia. O maior progresso diário ocorre no início de abril e início de outubro, estando o Sol bem uns 43.000 km mais afastado (abril) ou mais perto (outubro) de um dia para outro.
Isto é para gente memorizar? Não, claro que não. Porém, da mesma forma que é essencial criar imagens mentais sobre nós e aquilo que nos rodeia e afeta diretamente, como o ambiente, a gente e a conta bancária, da mesma forma é algo importante alimentar uma imagem mais ampla. Por um lado, imagens dessas podem evitar perguntas, tais como ser possível que quando mais perto do Sol mais frio fica lá fora. Numa escala mais abrangente permite ter uma ideia, uma imagem sobre nós, a Terra e como nós nos inserimos no ambiente chamado Universo. Seguindo esta via de entendimento, mesmo que apenas e meramente superficial, é uma forma de encarar o mundo com olhos abertos, e perceber quão banal ou triste por vezes se comporta o ser humano, apenas porque não sabe melhor. Talvez a curiosidade mate o gato, como diz a voz popular, mas aos homens e mulheres a curiosidade até faz bem.
Pergunta do mês
Porquê o dia da maior aproximação ao Sol, 2 de janeiro, não corresponde ao dia mais curto, ou seja com menos sol sobre o horizonte, que era no dia 22 de dezembro, onze dias antes?
Envie a sua resposta, mesmo se tentativa, para jan2016@astronomia.pt. Entre todas as respostas razoavelmente corretas é sorteado um conjunto de postais com imagens de objetos do céu profundo. (data limite 1.Fev.2016 Todas as nossas decisões são finais).