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O projecto Dédalo

2005-02-08

Protótipo da nave Dédalo. Créditos: BIS
Viajar até às estrelas não será uma tarefa fácil. Existem problemas tecnológicos e leis físicas que dificultam imenso a possibilidade de nos deslocarmos no espaço interestelar. Essas dificuldades estão ligadas ao facto de no Universo nada se poder mover a uma velocidade superior à da luz: 300 mil quilómetros por segundo. Mesmo que um dia venha a ser possível aproximarmo-nos daquela velocidade, o que não parece poder vir a acontecer em tempos previsíveis, as estrelas, mesmo as mais próximas, ficarão sempre a muitos anos de percurso da Terra.

Isto não impede porém que os cientistas se ocupem com o desenho das primeiras naves interestelares. A maioria dos projectos de naves interestelares feitos até agora baseia-se no uso de energia nuclear como meio de propulsão. Naves colossais movidas à força de explosões atómicas, conforme foi sugerido pelo físico Freeman Dyson no seu projecto Orion, levariam centenas de pessoas para uma odisseia de mais de 100 anos até à estrela mais próxima, a Alfa do Centauro 1.

Uma proposta bem mais interessante foi apresentada há uns anos pela prestigiada Sociedade Interplanetária Britânica. Trata-se do projecto Dédalo e teria por destino o sistema de Barnard, uma estrela que os astrónomos até há pouco supunham ser acompanhada de planetas. Note-se que foi esta mesma Sociedade que em 1929 propôs um minucioso estudo sobre uma nave capaz de pousar na Lua. Na época, o estudo foi olhado com o maior desprezo e cepticismo, mas ninguém dúvida hoje que ele foi preponderante na construção do módulo lunar Apollo.

No essencial, a nave Dédalo admite a existência de um reactor de fusão nuclear. Apesar de ainda não existirem reactores deste tipo, os físicos e a engenharia nuclear não parecem estar muito distantes da sua construção. O sistema de propulsão da Dédalo seria acelerado por microexplosões, detonadas 250 vezes por segundo com potentes raios laser, uma tecnologia bem semelhante à que experimentalmente é usada em laboratórios de fusão nuclear 2.

A Dédalo foi projectada para ser lançada em meados deste século em direcção à estrela de Barnard. Esta é a segunda estrela mais próxima do Sol, a cerca de 5,9 anos-luz de distância. Situada na constelação de Ofiúco, esta estrela anã-vermelha foi descoberta pelo astrónomo norte-americano Edward Barnard e mostrou ser a estrela com maior movimento próprio: em 180 anos, deve ter percorrido no céu uma distância equivalente ao diâmetro aparente da Lua. Em meados do século passado o astrónomo Peter Van de Kamp, que estudou ao longo de 40 anos a estrela, pensava que ela deveria possuir pelo menos dois planetas com as dimensões de Júpiter, tendo sido esta a razão de ela ser o alvo do projecto Dédalo. Hoje sabe-se que a observação de Van de Kamp correspondeu a um erro instrumental, mas o projecto pode ser lançado a qualquer outra estrela.

Totalmente automática e sem tripulação, a nave poderia consumir todo o seu combustível nos primeiros anos da viagem, acelerando até cerca de 20% da velocidade da luz. Quando consumisse todo o combustível (uma mistura de deutério e hélio-3) os tanques seriam ejectados e a nave deslizaria pelo resto da viagem de aproximadamente cinquenta anos até ao sistema de Barnard.

Ao chegar às proximidades da estrela, a Dédalo lançaria algumas sondas encarregadas de efectuar um estudo intensivo do ambiente da Barnard e dos seus prováveis planetas.

Aqui, na Terra, seriam necessárias duas gerações de controladores da nave e o sucesso da missão só seria possível graças à completa automatização de todos os sistemas e tarefas que a Dédalo teria de executar. Como o tempo de comunicação entre a nave e a Terra seria de ano, o computador de bordo, responsável por todas as operações, precisaria de ser suficientemente "esperto" para tomar todas as decisões. Depois de chegar à estrela de Barnard, teríamos de aguardar mais de 6 anos para recebermos todas as fotografias e informações dos novos mundos descobertos.

Não se sabe se alguma vez a Dédalo será construída mas o projecto em si constitui uma verdadeira porta para as estrelas…


1 Dyson, G. (2002) Project Orion. The Penguin Press, Londres, 2002.
2 Kondo, Y. (2003) Interstellar Travel and Multi-Generation Space Ships. Apogee Books