O que observam os astrónomo amadores ? I


O que é o céu profundo?


Numa primeira impressão, o céu nocturno só nos mostra a Lua, os planetas principais e as estrelas relativamente brilhantes que para os antigos desenhavam as figuras mitológicas das constelações. Para além dessas primeiras evidências encontram-se outros objectos que não pertencem ao Sistema Solar nem são estrelas individuais: esses são os objectos do céu profundo: neste contexto incluem-se as galáxias, as nebulosas e os enxames de estrelas (globulares e abertos). A galáxia de Andrómeda, a nebulosa de Orionte, o enxame das Plêiades (que na linguagem popular é conhecido como "Sete Estrelo") e o enxame globular de Hércules são exemplos comuns de objectos do céu profundo. As estrelas duplas também são, por vezes, consideradas objectos do céu profundo.

Ao dizer "observar o céu profundo", o que se está a referir é a "observação de objectos do céu profundo". Para o astrónomo (amador e profissional), as estrelas, as nebulosas, os enxames de estrelas, as galáxias, etc., são "objectos". Exceptuando alguns casos mais óbvios, os objectos do céu profundo são subtis, mas não deixam de ser muito belos e fascinantes. Para ter sucesso nestas observações é preciso acumular algumas horas de "convívio" com o céu nocturno, começar por ver os objectos mais fáceis e utilizar determinadas técnicas e procedimentos. E também há filtros especiais que reduzem os efeitos da poluição luminosa. Alguns objectos do céu profundo, digamos uns quatro ou cinco, são detectáveis a olho nu desde que a poluição luminosa não seja excessiva. Podem detectar-se algumas dezenas desses objectos utilizando um binóculo que amplifique 10x e tenha objectivas de 50 mm de diâmetro (tecnicamente um binóculo 10x50), mas ainda é mais fácil e evidente com um 15x70. Com um telescópio pode observar-se muito mais, e com mais espectacularidade, dependendo da abertura instrumental e da maior ou menor poluição luminosa existente no local de observação. No entanto, estas observações são muito mais fáceis e espectaculares em locais quase sem iluminação nocturna. Mas repare que tudo isso de nada serve se o observador não conhecer o céu a olho nu, o que qualquer pessoa consegue, podemos garantir, desde que seja persistente... Por isso, o primeiro passo é conhecer o céu a olho nu.

Entre os astrónomos amadores há os observadores do céu profundo e os observadores do "céu não profundo"?

Um astrónomo amador observa por prazer. Por isso, é natural que as preferências de cada um, o local onde vive, o equipamento que possui e outros factores pessoais determinem diferentes áreas de observação ou de fotografia astronómica. É claro que quem prefere observar o Sol, a Lua ou os planetas do Sistema Solar (e os satélites de alguns deles) não é um observador do céu profundo. Os observadores de cometas e os que se dedicam às ocultações de estrelas pela Lua também não o são. No entanto, entre amadores, o observador "puro" (o que só observa um determinado tipo de objectos) não existe. Muitos são "generalistas" e observam tudo o que podem, pois o Universo é fascinante. Os observadores do céu profundo também gostam, por vezes, de observar objectos do Sistema Solar e vice-versa: sempre que se pode dá-se uma "olhadela" aos objectos de outros tipos.

O que faz um astrónomo amador numa sessão de observação?

Uma sessão de observação astronómica deve ser planeada. O telescópio tem de se adaptar à temperatura ambiente (cerca de uma hora) para que o ar dentro e fora dele fique à mesma temperatura e as imagens não evidenciem perturbações da sua nitidez. Também precisamos de adaptar os olhos à obscuridade, para aumentar a sensibilidade visual; para consultar mapas utiliza-se luz vermelha amortecida. Consoante o local de observação, a data e a hora da noite, determinadas constelações são observáveis e outras não. Em cada sessão de observação decidimos o que é que se quer observar, de acordo com o nosso interesse, com a época do ano, as condições de observação e o telescópio utilizado. Há observadores que fazem observações visuais, outros fazem astrofotografias. Para apontar o telescópio para os diversos objectos, há vários métodos que se podem pôr em prática, utilizando mapas, ou por vezes sistemas electrónicos associados à parte mecânica de suporte dos telescópios. O sistema de suporte do telescópio, denominado "montagem" é de importância crucial para a comodidade e eficácia das observações. Deverá ser sólido e firme.

Em geral as observações fazem-se, se possível, quando o objecto pretendido já está a uma altura considerável, para minimizar os efeitos perturbadores que a atmosfera imprime às imagens observadas. Mesmo assim, em algumas noites, a atmosfera não está suficientemente calma: as imagens ondulam e contorcem-se e não se consegue nitidez suficiente (mesmo que o telescópio seja muito bom). De facto, quando observamos qualquer objecto astronómico, a luz que dele recebemos tem de atravessar a atmosfera terrestre. Há tendência para esquecer este facto, mas a realidade é que observamos sempre através da atmosfera terrestre; ela não é homogénea, nem estática, e condiciona a nitidez das imagens observadas.