O eclipse anular de 3 de Outubro de 2005



Figura 1 - Crédito: Fred Espenak, NASA's GSFC
Ao longo das últimas quatro semanas fizemos uma leve abordagem ao tema dos eclipses. Relembrámos a sua importância na história da Humanidade, o seu contributo para a confirmação do princípio da equivalência entre o movimento uniformemente acelerado e a acção da gravidade proposto por Albert Einstein e analisámos a mecânica que permite a ocorrência dos eclipses. Depois de falarmos um pouco sobre os diversos tipos de eclipses lunares e solares que podem ocorrer, chegámos ao último capítulo deste nosso tema do mês dedicado aos eclipses. Sem dúvida que a escolha deste tema para o mês de Setembro não foi isenta. De facto, no próximo dia 3 de Outubro, vai ocorrer um bonito eclipse solar anular, que será visível numa estreita faixa (com uma largura máxima de 138 km) e que atravessará uma zona desde a Península Ibérica até ao continente africano. Todos os que estiverem fora daquela faixa central, mas dentro da faixa mais larga da penumbra da Lua testemunharão um eclipse parcial do Sol, visível na Europa, no Médio Oriente, no Oeste Asiático, na Índia e na maioria do continente africano. (Fig. 1)

O trilho do eclipse anular começará no Atlântico Norte às 8h41m UT (adicionar mais uma hora para obter a hora legal de Portugal continental), correndo para sudeste e alcançando rapidamente a costa noroeste de Espanha e de Portugal às 8h51m UT. Cinco minutos mais tarde, depois de ter atravessado a região transmontana e o Distrito de Bragança, a sombra evoluirá para Madrid às 8h56m UT, cidade muito próxima da linha central. Começando com um evento central de duração de 4m e 04s na Galiza, Madrid observará a anularidade durante 4m e 11s, com cerca de 90% da superfície do Sol a ser escurecida pela Lua. O eclipse continuará a decorrer, atingindo o seu máximo às 10h31m42s UT, com o Sol a 71º de altitude acima da desolada e desértica paisagem do Sudão central, durando o evento central 4m e 31s.

Como referimos na semana anterior, um eclipse anular difere de um eclipse total na medida em que a Lua parece ser demasiado pequena para ocultar completamente o disco solar. Como resultado, a Lua fica rodeada por um anel intensamente brilhante (annulus), formado pelo perímetro exterior do disco solar não eclipsado (Imagem 1). Durante este evento, é necessária a utilização de filtros apropriados ou a projecção da imagem para se poder observar todas as fases do eclipse anular em total segurança (consulte mais abaixo as recomendações de segurança para uma observação absolutamente segura e isenta de riscos para a sua visão).



Imagem 1: Eclipse anular de 10 de Junho de 2002, Puerto Vallarta, México. Crédito: Mário Ramos e Maria Regina Ramos


Considerando a esperança média de vida dos Portugueses, esta é uma oportunidade única e muito especial de poder testemunhar um eclipse anular visível na zona norte do país. Onde quer que esteja, marque a data de 03 de Outubro na sua agenda e, se lhe for possível, desloque-se para a bonita zona de Trás-os-Montes por forma a poder observar o evento na sua máxima beleza. Se não o puder fazer, resta-lhe observar um eclipse parcial, igualmente muito interessante, a partir de algumas localizações ao longo do território nacional.

Começando por se observar em algumas zonas específicas dos distritos de Viana do Castelo e de Braga às 8:53 UT, é no distrito de Bragança que o eclipse atinge os valores de duração máxima do evento central, com tempos entre 4m e 4s em Bragança e 4m e 6,1s de anularidade em Miranda do Douro.


Figura 2 - Simulação do eclipse anular visível em Argozelo, Bragança. Créditos : Mário Ramos e Clube Astronómico 2000
O Núcleo Interactivo de Astronomia e a Sinergiae, em colaboração com diversas outras entidades, organiza em Argozelo (ligeiramente a sul de Bragança) (Fig. 2) três dias repletos de actividades científicas, desportos radicais e muitas outras actividades. Consulte o programa e venha fazer-nos companhia.

A simples ideia de observar o Sol deve ser motivo de precauções e preocupações extremas. Afinal, o nosso instinto básico, quando acidentalmente encaramos o Sol de frente, é cerrar os olhos e virar a cara. O Sol pode ser perfeitamente observado a olho nu e em absoluta segurança, apenas durante os breves segundos ou minutos em que decorre um eclipse solar total. Em todos os outros, sejam anulares ou parciais, ou durante as fases parciais de um eclipse total, é absolutamente fundamental fazer a observação apenas com os equipamentos e filtros adequados. Mesmo quando 99% da superfície do Sol está escurecida, no decorrer das fases parciais de um eclipse total do Sol, o remanescente crescente da fotoesfera é intensamente brilhante e não pode ser observado em segurança sem a adopção de medidas de protecção ocular.

Nunca tente observar as fases parciais ou anulares de um eclipse a olho nu. A não utilização de equipamentos e filtros adequados podem resultar em danos oculares permanentes ou cegueira imediata.

Para observar um eclipse anular ou as fases parciais de um eclipse total do Sol, torna-se necessário utilizar os mesmos equipamentos, técnicas de observação e precauções, utilizadas durante uma observação solar normal. A forma mais segura e simples de o fazer é utilizando métodos simples (ou mais sofisticados) para efectuar uma projecção do disco solar numa folha de papel branca ou mesmo no chão.

O Sol apenas pode ser observado directamente, a olho nu ou através de equipamentos, utilizando filtros especialmente desenhados para esse fim. Estes filtros utilizam, na sua maioria, uma fina camada de alumínio, crómio ou prata, depositada na sua superfície por forma a atenuar a energia proveniente dos raios ultravioleta, da luz visível e dos raios infravermelhos. Mais recentemente, a folha de mylar tornou-se uma alternativa popular e mais barata. Este tipo de filtro consiste de uma folha muito fina que pode facilmente ser cortada com uma tesoura e adaptada a qualquer tipo de caixa ou equipamento de observação. Pode consultar mais abaixo uma lista de lojas portuguesas de astronomia onde pode encontrar estes filtros. Podemos dizer que nenhum filtro é seguro para utilizar em telescópios, binóculos, ou outros equipamentos de observação, a menos que tenha sido especificamente desenhado para esse fim.

Entre os "filtros" inseguros podemos apontar as películas fotográficas a cores, algumas películas fotográficas a preto e branco que não possuem camada de prata na sua composição, radiografias médicas utilizadas, vidros fumados, lentes e filtros fotográficos de densidade neutra e filtros polarizadores. Geralmente os filtros solares para encaixe nas oculares, vendidos em conjunto com telescópios de baixo preço, são potencialmente perigosos e não devem ser utilizados em nenhuma circunstância. Não experimente qualquer outro tipo de filtro sem ter a garantia de que o mesmo é absolutamente seguro.

Os danos provocados na retina resultam, predominantemente, dos invisíveis raios infravermelhos. O facto de o Sol aparecer escurecido através de um filtro, ou de não sentir desconforto visual ao observá-lo, não garante o mínimo de segurança para os seus olhos. Os raios infravermelhos representam calor e basta que estes façam aumentar a temperatura da sua retina em 0,5º além da temperatura do seu corpo, para que ocorram graves e irreversíveis lesões na retina, muitas vezes só detectadas após alguns anos.

Evite todos os riscos desnecessários. Se achar que necessita de informação contacte um clube de astronomia próximo ou, na sua inexistência, o seu farmacêutico dar-lhe-á todos os conselhos necessários.

Consulte as lojas especializadas em equipamentos de astronomia e filtros para observação solar:



Boas observações do eclipse, em segurança total.