Ganimedes



Ganimedes apresenta um aspecto bicolor, com uma mistura de zonas escuras e claras. Crédito: NASA.
Esta semana encontramos Ganimedes, o maior dos satélites do Sistema Solar, de dimensões superiores às do planeta Mercúrio (e Plutão, evidentemente).

Este gigante entre as luas possui uma densidade bastante baixa, de apenas 1,94, o que nos indica imediatamente que na sua composição o gelo ocupa uma posição importante (cerca de 40%). Tal facto marca uma clara diferença com os dois satélites de que falámos anteriormente, Io e Europa, em cuja composição imperam os silicatos. Mas a diferença também se nota quando procuramos na superfície de Ganimedes sinais de actividade geológica.

Esta, gelada, apresenta uma estranha divisão entre regiões aproximadamente poligonais de terrenos escuros, muito craterizados, e faixas de terreno mais claro e recente, em que abundam os sulcos, e que separam as regiões escuras. Apesar de mais recentes, estas faixas também mostram a presença abundante de crateras, indicando que a sua idade é bastante antiga. Recordemos que este satélite é mais maciço e orbita muito mais longe de Júpiter do que os dois que visitámos nas passadas semanas, pelo que o aquecimento de origem gravitacional é praticamente irrelevante. Pelo menos na actualidade.


As fronteiras entre áreas escuras e claras são nítidas, e têm muitas vezes uma expressão topográfica, como neste caso, em que uma escarpa importante separa a região escura (mais elevada) da banda clara. Crédito: NASA.
De facto, tudo parece indicar que Ganimedes foi, em tempos muito recuados, um corpo planetário particularmente activo, talvez mesmo com movimentos crustais que se podem ter aparentado com a Tectónica de Placas que conhecemos aqui na Terra. Mas essa actividade já parou há muito.

Existem abundantes evidências de extensão crustal, que não parece totalmente compensada por marcas de compressão. Terá Ganimedes aumentado de tamanho no passado? Tal parece possível, se ocorreu em determinada altura uma mudança de fase na camada mais externa do satélite, essencialmente composta por gelo. Uma redução da densidade do gelo terá correspondido a um aumento de volume, obrigando à extensão da superfície. Outra hipótese, talvez complementar, prende-se com a possibilidade desta lua ter tido, no passado longínquo, uma órbita bastante mais elíptica em torno de Júpiter. Nesses tempos remotos, Ganimedes seria afectado por marés importantes, que teriam ajudado à actividade superficial.


Uma área em que parece ter ocorrido um fluxo de material relacionado com uma banda clara. Alguns autores sugerem que este tipo de estrutura teve um papel fundamental na formação dessas bandas. Crédito: NASA.
Seja qual for a razão, as bandas de material claro parecem ter tido uma origem mais complexa do que as bandas semelhantes em Europa, e na qual o criovulcanismo (vulcanismo em que as lavas são aquosas) pode ter tido um papel importante.

Os dados recolhidos pela sonda Galileo forneceram ainda uma outra peça surpreendente e que ocupa um lugar importante na compreensão da história desta lua misteriosa. Ganimedes possui um campo magnético próprio! Trata-se da primeira lua em que este facto foi verificado. E ele aponta para a existência de uma parte líquida no núcleo metálico deste corpo, o que faz pensar que ainda existe bastante calor nas suas profundezas, de certa forma contrariando o aspecto de mundo geologicamente morto da sua superfície.

Também surpreendente é a possibilidade de que exista, como em Europa, um oceano sob a camada gelada exterior. Também neste caso a prova é indirecta, e prende-se com a presença de outro campo magnético, este variável e muito mais fraco, sobreposto ao campo de origem profunda.



A estrutura interna de Ganimedes mostra um corpo diferenciado, com um núcleo metálico em que tem origem o campo magnético desta lua, rodeado por um manto silicatado, e uma camada exterior de gelo, no seio da qual pode existir um oceano. As dimensões destas camadas ainda não estão bem determinadas. Crédito: NASA.


De facto, Ganimedes é um mistério ainda com muitas questões por resolver. Alguns autores chegam mesmo a sugerir que a sua diferenciação (ou separação em camadas por densidade dos materiais) pode ter ocorrido apenas no último milhar de milhões de anos. As suas aparentes semelhanças com Calisto, o último dos quatro satélites galileanos, fazem-nos pensar no par Terra-Vénus: dimensões muito semelhantes, mas histórias muito diversas...