Astrónomos descobrem sistema de cinco estrelas com dois binários de eclipse

2015-07-08

Impressão artística do sistema de cinco estrelas 1SWASP J093010.78+533.859.5. As órbitas menores não estão à escala, relativamente à órbita maior, já que nesse caso os binários estariam muito próximos para se distinguirem. As inserções têm por escala o Sol, para comparação. A linha azul a ponteado marca o percurso orbital dos dois pares de estrelas. A quinta estrela, cuja posição é incerta, fica à direita do par mais à esquerda. Crédito: Marcus Lohr.
Astrónomos da Open University descobriram o primeiro sistema raro de cinco estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
que contém dois binários de eclipse
eclipse
Um eclipse é uma ocultação total ou parcial de um corpo celeste, quando outro corpo passa entre este e o observador.
. Os pormenores deste sistema quíntuplo, o primeiro deste tipo a ser encontrado, são apresentados por Marcus Lohr, da mesma universidade, esta quarta-feira, 8 de julho, no Encontro Nacional de Astronomia, em Llandudno, País de Gales.

Os cientistas pensam que cerca de um terço das estrelas estão em sistemas duplos ou múltiplos. No entanto, encontrar um sistema de cinco estrelas é algo muito raro.

O sistema estelar fora do comum foi originalmente detetado em dados de arquivo do projeto SuperWASP (Wide Angle Search for Planets), que usa câmaras relativamente pequenas e de baixo custo, nas Ilhas Canárias e na África do Sul, para obter imagens de quase todo o céu em intervalos de poucos minutos. Durante vários anos, as medições do brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
de estrelas individuais de cerca de 30 milhões de fontes na Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
foram combinadas em curvas de luz.

As pequenas depressões regulares numa curva de luz podem revelar a presença de planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
orbitando estrelas (os planetas em trânsito
trânsito
Designa-se por trânsito a passagem de um objecto astronómico à frente do disco de um objecto maior e mais longínquo. Por exemplo, o trânsito de Vénus diante do Sol.
provocam diminuição da luz das estrelas hospedeiras), e o SuperWASP tem sido extremamente bem sucedido a encontrar estes exoplanetas
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
, desde que começou a operar em 2003. As curvas de luz podem também ser usadas para descobrir estrelas binárias em eclipse, quando um par de estrelas orbita o seu centro de gravidade mútuo na nossa linha de visão.

Observando o binário a partir da Terra, cada estrela do par irá passar à frente da sua companheira uma vez em cada órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
e irá eclipsar uma parte ou a totalidade da sua luz. Isto produz um padrão regular de pares de depressões na curva de luz do binário, cujas profundidades e formas são características das propriedades físicas das duas estrelas.

A curva de luz do sistema quíntuplo agora descoberto, designado por 1SWASP J093010.78+533.859.5, revelou inicialmente a presença de um binário de eclipse de contacto - um sistema no qual as duas estrelas se orbitam a tão pequena distância que partilham a atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
exterior. Os binários de contacto são bastante comuns, mas este sistema em particular é notável porque o seu período orbital
período orbital
O tempo necessário para que um corpo descreva uma órbita completa e fechada em torno de outro corpo.
é muito curto, menos de seis horas.

Em seguida, descobriu-se que a curva de luz continha alguns eclipses adicionais inesperados, e os dados foram reanalisados para revelarem um segundo binário de eclipse no mesmo local do céu. O novo binário está separado – as estrelas componentes estão separadas por uma distância de cerca de 3 milhões de quilómetros, cerca de duas vezes o tamanho do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
- e tem um período orbital mais longo de um dia e um terço.

Os dois conjuntos de estrelas estão afastados cerca de 21 mil milhões de quilómetros, um pouco mais que a órbita de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
em torno do Sol. As quatro estrelas foram posteriormente observadas espectroscopicamente – a sua luz foi separada em diferentes comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
- de modo a que as assinaturas das diferentes estrelas pudessem ser estudada em detalhe. Inesperadamente, revelou-se a presença de uma quinta estrela, a 2 mil milhões de quilómetros de distância do binário em destaque, mas, aparentemente, não produzindo eclipses adicionais.

Combinando os dados de curva de luz das cinco estrelas e dos seus espectros, os investigadores da Open University foram capazes de confirmar que as estrelas estão ligadas gravitacionalmente num único sistema, situado a cerca de 250 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância da Terra na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
de Ursa Maior. Os dados também permitiram à equipa determinar propriedades das estrelas, como as suas massas
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
, tamanhos e temperaturas. Todas são um pouco mais pequenas e frias que o Sol, mas, no conjunto, o sistema é suficientemente brilhante (magnitude 9) para ser visível por pequenos telescópios e para os astrónomos amadores poderem observar os eclipses.

O Dr Lohr comentou: "Este é um sistema estelar verdadeiramente exótico. Em princípio, não há nenhuma razão para não poder ter planetas em órbita em torno de cada um dos pares de estrelas. Os hipotéticos habitantes de um planeta teriam um céu que deixaria os criadores de Star Wars com inveja - nada menos que cinco sóis de diferentes brilhos iluminando a paisagem. Os dias teriam níveis de luz dramaticamente variáveis à medida que as diferentes estrelas fossem eclipsadas. A noite não existiria durante grande parte do ano, apenas experimentariam a escuridão (e um céu noturno) quando as estrelas estivessem todas do outro lado do seu mundo."

Uma descoberta particularmente interessante é a de que os dois binários parecem orbitar no mesmo plano. Isto sugere que originalmente podem ter-se formado a partir de um único disco de gás e poeira, que desapareceu quando a gravidade o concentrou em aglomerados. O estudo deste sistema bizarro vai ajudar os astrónomos a entenderem melhor a formação das estrelas e dos planetas, inclusive o nosso.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/2661-a-five-star-doubly-eclipsing-star-system