10 de Janeiro de 2008: Começou um novo ciclo solar.

2008-01-13

Imagens do Sol mostrando a priemira mancha observada do novo ciclo solar (em cima, imagem em luz branca, em baixo, magnetograma). Crédito: SOHO.
"No dia 4 de Janeiro de 2008, surgiu uma mancha solar com polaridade invertida "isto marca o início do Ciclo Solar 24", diz David Hathaway do Marshall Space Flight Center.

A actividade solar
actividade solar
A actividade solar consiste no conjunto de fenómenos ou processos físicos que se manifestam, com maior ou menor intensidade, durante o ciclo solar. Por exemplo, fazem parte da actividade solar a ocorrência de manchas solares, as protuberâncias, o vento solar, ou as ejecções de matéria coronal.
aumenta e diminuí em ciclos com uma duração média de 11 anos. Ultimamente temos vivido uma fase relativamente calma, com reduzida actividade, poucas fulgurâncias, manchas solares, ou qualquer outro tipo de actividade. O mínimo solar tem estado presente entre nós.

O ciclo solar
ciclo solar
O ciclo solar é o intervalo de tempo entre dois máximos (ou mínimos) consecutivos da actividade solar, com a duração de 11 anos (ciclo das manchas solares). Em cada período de 11 anos, o campo magnético do Sol inverte a sua polaridade, implicando que o período básico do Sol é na verdade de 22 anos.
anterior, o ciclo 23, atingiu o seu máximo em 2000-2002 com um grande número de furiosas tempestades solares. Aquele ciclo foi decaíndo até à presente data, deixando os físicos solares com pouco mais para fazer do que interrogarem-se sobre quando começaria o novo ciclo solar?

A resposta é: AGORA!

"Os novos ciclos solares começam sempre com uma mancha solar de polaridade invertida, que surge em altas latitudes," explica Hathaway. Polaridade invertida significa uma mancha solar com polaridade magnética oposta, quando comparada com as manchas solares do ciclo solar anterior. A alta latitude refere-se à grelha de latitude e longitude do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. As manchas solares de um ciclo solar próximo do final surgem sempre próxima do equador solar, enquanto que as manchas de um novo ciclo começam por aparecer em latitudes mais altas, entre os 25º ou 30º de latitude.

A mancha solar que apareceu no dia 4 de Janeiro enquadra-se em ambos os critérios. Tinha uma latitude alta (30º N) e era magneticamente invertida. O NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) atribuiu à mancha a designação AR10981, ou "mancha solar 981" de forma abreviada.

A mancha solar 981 era pequena - com uma dimensão aproximada à do diâmetro do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
Terra - e já desapareceu. Mas a sua aparição durante três dias, entre 4 e 6 de Janeiro, foi suficiente para convencer a maioria dos físicos solares que o ciclo 24 já se havia iniciado.

Doug Biesecker do Centro de Previsão de Tempo Espacial do NOAA, liga a mancha solar 981 "ao primeiro despontar da primavera. Ainda há neve no chão, mas as estações estão a mudar." No último ano, Biesecker presidiu ao "Painel de Previsão do Ciclo Solar 24", um grupo internacional de peritos proveniente de diversas universidades e agências governamentais. "Previmos que o Ciclo Solar 24 deveria começar por volta de Março de 2008 e parece que não errámos por muito ", diz Biesecker.

A previsão e conhecimento de um novo ciclo solar é importante devido à cada vez maior dependência da nossa sociedade tecnológica em equipamentos colocados no espaço. "As tempestades solares podem desactivar satélites dos quais dependemos para previsões atmosféricas ou para sistemas de navegação através de GPS," diz Hathaway. Emissões na banda do rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
, produzidas por fulgurâncias solares, podem interferir directamente com a recepção de sinal em telemóveis, enquanto que as ejecções de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
coronal (CMEs) que atingem a Terra, podem causar interrupções nos sistemas de distribuição de energia eléctrica. O exemplo mais conhecido aconteceu no Quebec (Canadá) em 1989, em que vários milhares de habitantes ficaram sem corrente eléctrica durante seis dias.

Também as viagens aéreas podem ser afectadas. Todos os anos são transportados milhares de passageiros em voos intercontinentais, com rotas próximas dos pólos terrestres. Digamos que esta é a distância mais curta entre Nova Iorque e Tóquio ou entre Xangai e Chicago, por exemplo. Em 1999, a United Airlines efectuou apenas doze viagens sobre o Árctico. Em 2005, o número de voos similares subiu para 1.402, sendo que outras companhias reportaram crescimentos idênticos.

De acordo com Steve Hill, do Centro de Previsão de Tempo Espacial, "as tempestades solares produzem um grande efeito nas regiões polares do nosso planeta. Quando os aviões voam sobre os pólos durante tempestades solares, podem sofrer períodos de total ausência de comunicações rádio, erros de navegação e falhas nos sistemas informáticos, tudo causado pela radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
proveniente do espaço. Evitar os pólos durante as tempestades solares resolve o problema, mas a utilização de outra rota tem custos em tempo extra, dinheiro e combustível."

Estranho mas verdadeiro: enquanto que o ciclo solar 24 já começou o ciclo 23 ainda não terminou. Coexistirão ambos por um período de tempo, talvez um ano ou mais, enquanto um atinge o fim de vida e o outro ganha vida. Nos próximos meses poderemos observar na fotoesfera, em simultâneo, manchas solares do ciclo anterior e manchas solares do novo ciclo.

Agora as boas notícias: mais tempestades solares significam mais auroras
aurora
A aurora é a luz emitida pelos iões da atmosfera terrestre, principalmente nos pólos geomagnéticos da Terra, estimulada pelo bombardeamento de partículas de alta energia ejectadas pelo Sol. As auroras aparecem dois dias depois das fulgurações solares, proporcionando um espectáculo de rara beleza, e atingem o seu pico cerca de dois anos depois do máximo de manchas solares. As auroras boreais e austrais são observáveis a latitudes elevadas no hemisfério Norte e hemisfério Sul, respectivamente.
. Durante o último máximo solar, as "Luzes do Norte" foram vistas em latitudes tão baixas como a Florida e a Califórnia, nos Estados Unidos, ou o norte de Espanha e Sul de França, na Europa. Não há muito tempo, apenas os visitantes do Árctico podiam observar auroras com alguma regularidade, mas com o aumento de atenção dada à monitorização do tempo espacial, conjugado com o constante melhoramento das previsões, milhões de pessoas em toda as latitudes sabem antecipadamente quando devem sair de casa e olhar para o céu para observar um dos maiores espectáculos visíveis na Terra.

Muito do que aqui foi descrito ainda está a uns anos de distância. O aumento da intensidade da actividade solar não começará imediatamente. O ciclo solar costuma demorar alguns anos a passar do mínimo (onde estamos agora) para o máximo, esperado para o final de 2011 ou início de 2012. É uma longa viagem, mas já a iniciámos.

Fonte da notícia:

http://science.nasa.gov/headlines/y2008/10jan_solarcycle24.htm?list966806