Diversidade na forma dos discos protoplanetários aumenta

2006-07-21

Em cima: imagem do disco protoplanetário de HD 142527 em 1,65 µm, obtida com o CIAO. Uma máscara esconde a zona central; na imagem da direita estão assinaladas duas características distintas - dois braços em forma de banana e um arco extenso. No meio: imagem em 24,5 µm, obtida com o COMICS; a imagem da direita tem sobreposto contornos da imagem do CIAO. Em baixo: gráfico do brilho do disco em 24.5 µm em função da distância à estrela central, em unidades astronómicas; as depressões no brilho de ambos os lados da estrela central indicam uma lacuna no disco; à direita, um diagrama da estrutura do disco protoplanetário de HD 142527, que inclui um disco interior, um exterior e uma lacuna entre os dois. Crédito: Subaru Telescope/CIAO/COMICS/NAOJ.
Duas equipas de astrónomos usaram o telescópio Subaru
Subaru Telescope
O Telescópio Subaru é um telescópio óptico e de infravermelhos, com um espelho de 8,2 m de diâmetro. O Subaru encontra-se no Observatório de Mauna Kea, no Havai, e é operado pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão – NAOJ e pelo Instituto Nacional de Ciências Naturais.
para observar em detalhe um disco protoplanetário à volta de uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
jovem, HD 142527, o que os levou à descoberta inesperada de dois arcos em forma de banana, voltados um para o outro. Esta descoberta traz ainda mais variedade à desconcertante diversidade de formas de discos protoplanetários – desde donuts até espirais – que os astrónomos têm vindo a encontrar.

Os astrónomos usaram dois instrumentos diferentes do telescópio Subaru para observar este disco. Uma equipa recorreu ao Coronographic Imager with Adaptive Optics (CIAO) no infravermelho próximo
infravermelho próximo
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 5 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 740 e 5200 graus Kelvin.
, a 1,65 e 2,2 µm, com uma resolução de 0,13 segundos de arco
segundo de arco (")
O segundo de arco (") é uma unidade de medida de ângulos, ou arcos de circunferência, correspondente a 1/60 de minuto de arco, ou seja, 1/3600 de grau.
. Este permitiu à equipa ver detalhes no disco numa escala comparável à da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Úrano
Úrano
É o sétimo planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 4 vezes superior ao da Terra é o terceiro planeta gigante gasoso. A sua característica mais marcante é o facto de o seu eixo de rotação estar inclinado cerca de 97º em relação à eclíptica.
e Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
no nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Dois factores contribuíram para o sucesso das observações: a óptica adaptativa
óptica adaptativa
A técnica de óptica adaptativa é um sistema óptico que se instala nos telescópios terrestres por forma a corrigir, em tempo real, os efeitos da turbulência atmosférica.
minimiza a interferência da atmosfera da Terra
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
, melhorando a qualidade da imagem; e o método de esconder a estrela central torna a matéria ténue adjacente mais fácil de detectar.

O outro conjunto de observações foi obtido em comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
no infravermelho intermédio
infravermelho intermédio
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 5 e 40 mícrones. Esta banda permite observar astros ou fenómenos com temperaturas entre 92 e 740 graus Kelvin.
, a 18,8 e 24,5 µm. O instrumento utilizado for a câmara e espectrógrafo de infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
intermédios COMICS (Cooled Mid-Infrared Camera and Spectrograph). As imagens, com resoluções espaciais de 0,5 e 0,6 segundos de arco, mostram a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
emitida pelo disco até para lá de 100 unidades astronómicas
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
, ou seja, três vezes a distância entre Neptuno e o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Esta foi a primeira vez que um disco protoplanetário foi detectado neste comprimento de onda até uma distância tão grande.

As observações no infravermelho intermédio também foram até mais próximo da estrela e revelaram uma lacuna entre as duas estruturas diferentes: um disco compacto com um raio de cerca de 80 unidades astronómicas e um disco extenso que imita a estrutura em forma de banana split vista nas observações no infravermelho próximo e estende-se até um raio de 170 unidades astronómicas. Tanto nas imagens de infravermelho próximo como nas do infravermelho intermédio, as diferenças no brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
nos lados opostos devem-se à inclinação do disco.

As observações no infravermelho intermédio também mostraram o tamanho dos grãos de poeira do disco e as suas temperaturas. A partir desta informação, os astrónomos foram capazes de concluir que os grãos de poeira estão a tornar-se maiores que os grãos típicos da matéria interestelar.

Antes de se começarem a obter imagens detalhadas de discos protoplanetários, os astrónomos esperavam encontrar discos incaracterísticos à volta de estrelas jovens. Porém, observações recentes confirmaram que este não é o caso, com a descoberta de estruturas em forma de donut ou espiral. A estrutura de banana split à volta de HD 142527 parece ser então mais um caso na diversidade exótica de discos protoplanetários.

A explicação mais provável para a forma dos dois arcos é a presença de outro objecto em órbita da estrela, uma estrela companheira muito ténue, ou, se calhar, até um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. O arco extenso provavelmente deve-se ao esticão de uma estrela que passou perto nos últimos milhares de anos. Visto os astrónomos pensarem que a maioria das estrelas nasce em grupo, então muitas das características do disco de HD 142527 poderão ser comuns com outras estrelas que também nasçam em grupo.

HD 142527 encontra-se apenas a 650 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
da Terra, mas apesar da proximidade, a nossa atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
faz com que seja difícil obter imagens nítidas do seu disco. Assim, estas observações estão entre os raríssimos exemplos de imagens de discos protoplanetários feitas a partir da Terra.

Para perceber como se formam os planetas é vital aprender mais acerca dos discos protoplanetários. Estas acumulações de gás e poeira envolvem as estrelas jovens e, ao longo do tempo, as colisões e a acreção
acreção
Designa-se por acreção a acumulação de matéria (gás e poeira) para um astro central, como por exemplo um buraco negro, uma estrela, uma galáxia, ou um planeta.
entre o gás e a poeira acabam por dar origem aos planetas. As observações no infravermelho são úteis para ajudar a caracterizar em detalhe as estruturas à volta dessas estrelas. O infravermelho também permite recolher dados acerca da temperatura e outras propriedades físicas do disco e das suas partículas de poeira. Contudo, os discos protoplanetários são muito ténues quando comparados com as estrelas que rodeiam e, por isso, é ainda difícil obter imagens detalhadas.

Fonte da notícia: http://subarutelescope.org/Pressrelease/2006/06/27/index.html