Descoberto um vórtice duplo no pólo sul de Vénus!

2006-06-30

Em cima: imagens de Vénus obtidas pelo espectrómetro VIRTIS da Venus Express no infravermelho (a 5 mícron) a 12 e 19 de Abril de 2006. O globo do planeta, observado a diferentes distâncias e a diferentes ângulos, foi mapeado num modelo que mostra sempre o pólo Sul no centro da imagem. À volta do pólo Sul pode-se observar a estrutura de um vórtice duplo. Imagens obtidas entre 12 e 19 de Abril mostram a rotação e a variação do vórtice com o tempo. A amarelo, é de dia em Vénus. À volta do vórtice, detecta-se um colar de ar frio (a azul escuro). Em baixo: imagens de Vénus obtidas pelo espectrómetro VIRTIS da Venus Express a 12 e 19 de Abril de 2006; cada imagem é a composição do lado de dia de Vénus (observado no visível, a 380 nm) com o lado de noite (observado no infravermelho, a 1,7 mícron). A parte do visível mostra a radiação solar reflectida pela atmosfera; a parte infravermelha mostra as estruturas complexas das nuvens, reveladas pela radiação térmica que vem de diferentes profundidades atmosféricas. Neste esquema de cores do infravermelho, quanto mais brilhante a cor, mais radiação chega das profundidades da atmosfera. Crédito: ESA/VIRTIS/INAF-IASF/Obs. de Paris-LESIA.
Dados da Venus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
Express
(ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) confirmam, pela primeira vez, a presença de um enorme vórtice atmosférico duplo no pólo sul do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Esta descoberta impressionante resulta da análise dos dados recolhidos pela sonda espacial durante a primeira órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
ao planeta.

A 11 de Abril deste ano, a Venus Express foi capturada numa primeira órbita alongada à volta de Vénus, que durou 9 dias, e oscilou entre os 350 000 e 400 quilómetros da superfície. Esta órbita ofereceu aos cientistas uma oportunidade única para observar o planeta à distância e estudar a dinâmica da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
numa escala global. Depois disso, a sonda aproximou-se deste planeta cuja imagem evoca um cenário infernal. Com uma pressão atmosférica 92 vezes superior à da Terra e com uma temperatura média de quase 500º C, qualquer astronauta pouco precavido na sua superfície seria de imediato esmagado enquanto entrava em combustão.

Imagens espectaculares do globo de Vénus no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, no visível e no ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
revelam vários fenómenos e características atmosféricas de grande interesse. A mais notável é precisamente o referido vórtice atmosférico duplo por cima do pólo sul, não muito diferente da estrutura semelhante presente no pólo norte do planeta – a única até hoje estudada com algum detalhe.

Apenas tinham sido obtidos alguns vislumbres do comportamento tempestuoso do pólo sul pelas sondas Pioneer Venus e pela Mariner 10, mas a estrutura dupla nunca tinha sido óbvia.

Sabe-se que ventos velozes giram para oeste à volta do planeta e que levam apenas quatro dias a completar uma rotação. Esta “super-rotação”, combinada com a reciclagem natural do ar quente na atmosfera, pode induzir a formação de uma estrutura em vórtice por cima de cada pólo. Mas porquê dois vórtices?

“Ainda sabemos muito pouco acerca dos mecanismos que ligam a super-rotação e os vórtices polares,” disse Håkan Svedhem, cientista da missão Venus Express da ESA. “Além disso, também ainda não somos capazes de explicar porque é que a circulação global atmosférica do planeta resulta em formações de vórtices duplos em vezes de um individual. Contudo, a missão está apenas no início e está a correr bem; esperamos que estes e muitos outros mistérios antigos sejam abordados e possivelmente resolvidos pela Venus Express,” acrescentou. Vórtices atmosféricos são estruturas muito complexas para as quais é extremamente difícil construir modelos, mesmo aqui na Terra.

Graças a estas primeiras imagens, também foi possível observar a presença de um colar de ar frio à volta do vórtice, possivelmente devido à reciclagem descendente de ar frio.

Panoramas do hemisfério sul de Vénus em luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
e em ultravioleta mostram interessantes estruturas atmosféricas em forma de listas. Observadas pela primeira vez pela Mariner 10 na década de 70, estas podem dever-se à presença de poeiras e aerossóis na atmosfera, mas a sua verdadeira natureza permanece ainda um mistério.

A Venus Express também aproveitou pela primeira vez a partir de órbita as chamadas “janelas de infravermelho” presentes na atmosfera de Vénus – se observada em certos comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
, é possível detectar radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
térmica que se escapa das camadas mais profundas da atmosfera, revelando assim as entranhas que ficam para lá da camada espessa de nuvens situada a 60 km de altitude.

As primeiras imagens de infravermelho com recurso a esta “janela” mostram estruturas complexas de nuvens, reveladas pela radiação térmica vinda de diferentes profundidades na atmosfera. No esquema de cores visto à direita, quanto mais brilhante é a cor (ou seja, quanta
quantum
O quantum, em Física, é geralmente utilizado para designar a unidade discreta de energia da radiação electromagnética. Segundo a Teoria Quântica, muitos dos parâmetros que descrevem um sistema só podem ter um conjunto discreto de valores; quando os valores permitidos são múltiplos de uma quantidade constante, essa constante é referida como o quantum da grandeza. Por exemplo, a emissão ou absorção de energia da radiação electromagnética faz-se por múltiplos inteiros de uma mesma quantidade, para a mesma frequência, o quantum , sendo h a constante de Planck e ν a frequência da radiação.
mais radiação vier das camadas inferiores), menos nublada é a área observada.

A sonda continua a sua aproximação a este planeta e novos dados estão continuamente a chegar que parecem mostrar novas características interessantes neste planeta.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/esaCP/SEMYGQEFWOE_index_0.html