Os continentes formaram-se mais cedo do que se pensava

2005-11-28

Estes zircões australianos dizem-nos o balanço dos elementos químicos e minerais que formavam a crosta terrestre primordial. Crédito: Mark Harrison.
Convencionalmente, tem-se acreditado que, na Terra, os continentes desenvolveram-se lentamente ao longo de um período de tempo com início cerca de 500 milhões de anos após a formação do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Contudo, têm surgido evidências que apontam para um cenário alternativo, em que crostas continentais se formaram mais cedo e a temperatura da superfície da Terra era suficientemente baixa logo nos primeiros 500 milhões de anos, de forma a poder existir água líquida.

Este cenário é reforçado pelo estudo realizado por uma equipa liderada por M. Harrison (Universidade Nacional Australiana), que analisou minerais do oeste da Austrália com 4 a 4,35 mil milhões de anos e concluiu que os continentes já se estavam a formar nesta altura. Este trabalho, publicado na Science, é uma continuação do estudo que a equipa tem vindo a efectuar e que no início deste ano reuniu evidências que apontam para a existência de oceanos logo durante o Hadeano - período inicial da formação da Terra, que começa com o princípio do processo de formação dos planetas do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, há cerca de 4500 milhões de anos, e termina, cerca de 500 milhões de anos depois, quando surgiram as primeiras rochas, marcando o início do éon
éon
Um éon é a divisão principal da escala de tempo geológico.
Arqueano.

A equipa estudou os minerais mais antigos da Terra que se conhecem, os zircões. Estes grãos têm a espessura de um cabelo humano e só se encontram na região de Murchison, no oeste australiano. Os zircões contêm elementos químicos
elemento químico
Elemento composto por um único tipo de átomos. Os elementos químicos constituem a Tabela Periódica.
raros, como o háfnio e o lutécio, que possuem tempos de vida muito elevados. Quando a Terra se formou, não havia camadas distintas, era tudo matéria primordial fundida, essencialmente homogéneo – qualquer amostra de matéria da Terra apresentaria uma composição química com uma abundância relativa de háfnio e lutécio semelhante à que se encontra nos meteoritos
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
.

Os investigadores analisaram as propriedades isotópicas do elemento háfnio em cerca de 100 zircões com idades entre 4 e 4,35 mil milhões de anos e descobriram que estes não apresentavam abundâncias primordiais, mas sim típicas de uma estrutura por camadas como a que se verifica hoje.

O excesso dum isótopo
isótopo
Chamam-se isótopos aos átomos cujos núcleos têm o mesmo número de protões (por isso, são o mesmo elemento químico), mas têm um número diferente de neutrões. O número atómico dos isótopos é igual, mas o número de massa é diferente.
de háfnio, produzido pelo decaimento de um isótopo do lutécio, indica que muitos destes zircões se formaram num ambiente continental durante os primeiros 100 milhões de anos após a formação da Terra. Isto quer dizer que os continentes começaram a se desenvolver quase de imediato, seguindo-se uma rápida reciclagem para o manto num processo semelhante à tectónica das placas modernas.

Os resultados da análise realizada por esta equipa são consistentes com a Terra albergar uma massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
semelhante à crosta continental actual, há 4,5 - 4,4 mil milhões de anos, em contraste com as teorias até agora vigentes.

Fonte da notícia: http://info.anu.edu.au/mac/Media/Media_Releases/_2005/_November/_181105harrisoncontinents.asp