Líquenes sobrevivem no espaço

2005-11-16

Em cima: Os líquenes depois da experiência, numa imagem obtida por um microscópio electrónico. Como se pode ver, as células estão completas e não partidas. Em baixo: A espécie de líquen Rhizocarpon geographicum. Crédito: L. Sancho.
As bactérias têm sido o objecto principal da procura de organismos vivos em outros planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
e também da avaliação das possibilidades de transferência de vida entre planetas. Com efeito, estes organismos tão simples são provavelmente capazes de sobreviver a uma viagem interplanetária, expostos às mais severas condições ambientais. No entanto, o âmbito deste estudo começa agora a alargar-se para abranger organismos mais avançados. É que, de acordo com os resultados de uma experiência realizada durante a missão Foton-M2 da ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
, os líquenes estão muito adaptados à sobrevivência no espaço aberto.

Os líquenes não são organismos simples, mas antes uma associação de milhões de células de algas que cooperam no processo de fotossíntese e que se encontram aprisionadas numa rede de fungos. É uma relação de simbiose, na qual as algas fornecem o alimento aos fungos que, por sua vez, fornecem às algas um ambiente adequado ao seu desenvolvimento. Os líquenes já eram conhecidos por gostarem de viver em condições extremas e por serem capazes de sobreviver nos mais agrestes ambientes terrestres. Mas o elemento mais surpreendente desta descoberta relaciona-se com a complexidade destes organismos, que são multicelulares e macroscópicos; o líquen é um eucariota, o que significa que, na escala evolutiva, é muito mais recente do que uma bactéria.

A experiência, denominada “Líquenes”, foi uma das várias experiências de exobiologia realizadas no Biopan – um instrumento para exposição de amostras que foi fixado no casco do módulo de retorno do Foton. Quando foi atingida a altura orbital correcta, o Biopan abriu-se para que as amostras nele contidas fossem expostas ao espaço exterior, isto é, ao vácuo, às grandes flutuações de temperatura, ao espectro total da luz ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
e aos bombardeamentos da radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
cósmica. Durante a missão Foton, lançada para uma órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
terrestre baixa a 31 de Maio de 2005, os líquenes de duas espécies diferentes (Rhizocarpon geographicum e Xanthoria elegans) foram expostos durante 14,6 dias. Quando a missão ficou concluída, a tampa do Biopan foi fechada para que os líquenes fossem protegidos durante a reentrada na atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
. O Biopan foi seguidamente transportado para o centro de pesquisa ESTEC (ESA), em Noordwijk, Holanda, onde viria a ser aberto.

Os resultados foram apresentados no ESTEC, em Outubro de 2005, por Rosa de la Torre, do INTA, Madrid, um dos membros da equipa de investigação liderada por Leopoldo Sancho, da Universidade Complutense de Madrid. As conclusões iniciais indicaram que os líquenes têm a capacidade de resistir a uma exposição total às duras condições do espaço, especialmente aos elevados níveis de radiação ultravioleta. Uma análise posterior mostrou uma taxa máxima de sobrevivência e a não alteração da capacidade de realização da fotossíntese.

Esta descoberta abre novos horizontes às pesquisas futuras sobre a possibilidade de haver transferência de vida entre planetas. As próximas experiências poderão procurar respostas a perguntas, como: até que ponto os líquenes conseguirão sobreviver às condições de reentrada na atmosfera se transportados por um meteorito
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
? Que grau de protecção será necessário para que os líquenes sobrevivam?

Os resultados obtidos no Biopan também sugerem que os líquenes devem conseguir sobreviver na superfície de Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
. Os cientistas estão convencidos de que as experiências futuras lhes poderão trazer algumas respostas para estas interessantes questões.

Fonte da notícia: http://www.esa.int/esaCP/SEMUJM638FE_index_0.html