Spitzer aprofunda o mistério dos blobs

2005-01-26

Duas imagens do enxame de galáxias J2143-4423. Em cima: imagem no visível, obtida pelo Telescópio Blanco de 4m, do CTIO, onde se observa um blob gigante (vermelho). Crédito: CTIO/P. Palunas. Em baixo: imagem no infravermelho, obtida pelo Telescópio Espacial Spitzer, mostrando três galáxias em fusão dentro do blob. Crédito: NASA/JPL-Caltech/H. Teplitz (SSC/Caltech).
Os astrónomos têm tido dificuldade em descrever um certo tipo de objecto, ao qual têm simplesmente chamado de blob, que significa “mancha” ou “borrão”, nome derivado da sua aparência nas imagens no visível. Estes objectos misteriosos são nuvens imensas de material brilhante, que envolvem galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
distantes.

Os blobs foram descobertos pela primeira vez há cerca de 5 anos, com telescópios ópticos (ou seja, que observam radiação visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
). Estão localizados a milhares de milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, em estruturas ou filamentos onde milhares de galáxias jovens estão aglomeradas. Os halos das galáxias são constituídos por gás de hidrogénio quente e são cerca de 10 vezes maiores do que as galáxias que envolvem. Os astrónomos podem ver os blobs brilhantes, mas não sabem o que lhes dá energia para emitirem radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
.

Utilizando o Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), que observa na região espectral do infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, uma equipa de astrónomos, liderada por J. Colbert (Centro Spitzer de Ciência), estudou quatro blobs bem conhecidos, localizados num filamento a 11 mil milhões de anos-luz. O Telescópio Espacial Spitzer consegue detectar o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
infravermelho das galáxias poeirentas que se encontram dentro dos blobs. Esta equipa descobriu que um dos blobs parece ser composto por três galáxias em fusão
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
. Esta descoberta é ainda mais intrigante devido ao facto de observações prévias, com o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
), sugerirem que outro dos quatro blobs envolve uma fusão de duas galáxias. Os astrónomos agora especulam se todos os blobs envolvem galáxias em fusão.

Para os telescópios ópticos, as galáxias dos blobs não tinham nada de extraordinário. Contudo, as medições realizadas com o Spitzer revelam que todas as quatro galáxias estudadas são dos objectos mais brilhantes do Universo, emitindo radiação equivalente a biliões de sóis. Galáxias assim tão luminosas são muitas vezes o resultado da colisão e fusão de galáxias pequenas e ricas em gás, o que vem reforçar a ideia que os blobs envolvem de facto galáxias em fusão.

De qualquer forma, mesmo que se confirme que os blobs estão de facto relacionados com a fusão de galáxias, é preciso ainda explicar porque se formam estas nuvens de material brilhante que constituem os blobs. As observações do Spitzer não vêm resolver o mistério, apenas aprofundá-lo.

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2005-010