Asteróide Toutatis fez a maior aproximação do século à Terra

2004-10-04

Em cima: modelo do asteróide 4179 Toutatis, criado por computador utilizando observações de radar obtidas com os radiotelescópios de Goldstone (Califórnia) e de Arecibo (Porto Rico). Crédito: Scott Hudson (Washington State University) & Steven Ostro (JPL). Em baixo: combinação de duas exposições obtidas simultaneamente nos dois observatórios do ESO - a vermelho, o rastro de Toutatis visto do Paranal, e a verde, visto de La Silla; o desalinhamento entre os dois traços corresponde à diferença na linha de visão dos dois telescópios. Crédito: ESO.
No dia 29 de Setembro, o asteróide
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
Toutatis fez a sua maior aproximação à Terra desde 1353: passou a 1 550 000 km de nós, ou seja, a apenas quatro vezes a distância à Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
. Só em 2562 voltará a passar tão perto de nós. Neste século, nenhum outro asteróide conhecido, de grandes dimensões como Toutatis, se aproximará tanto da Terra.

O asteróide Toutatis foi descoberto a 4 de Janeiro de 1989 por C. Pollas, em França. O seu período orbital
período orbital
O tempo necessário para que um corpo descreva uma órbita completa e fechada em torno de outro corpo.
de quase quatro anos (3,98 anos) permitiu que já tenha sido observado em 1992, 1996 e 2000. Observações de radar durante estas passagens mostraram que Toutatis tem uma forma alongada, de dimensões 4,6x2,4x1,9 km.

Toutatis pertence ao grupo de asteróides Apollo, pois a sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
atravessa a órbita da Terra. A excentricidade
excentricidade
A excentricidade de uma elipse é a razão entre a distância de um foco ao centro da elipse (c) e o seu semi-eixo maior (a): e=c/a. A circunferência tem excentricidade nula, e=0.
da sua órbita (e=0,6336), leva Toutatis a estar mais próximo do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
do que a Terra (a cerca de 0,92 UA
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
), para depois alcançar a cintura principal de asteróides, entre Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
(a cerca de 4,10 UA do Sol). O plano da órbita de Toutatis é quase o da eclíptica
eclíptica
A eclíptica é a linha de intersecção do plano da órbita da Terra à volta do Sol com a esfera celeste. Coincide com a trajectória aparente que o Sol descreve ao longo das 12 constelações do Zodíaco e ainda da Constelação de Ofiúco, durante um ano terrestre. Dado que o equador da Terra faz um ângulo de 23°27'30'' com o plano da órbita da Terra, a eclíptica também faz um ângulo de 23°27'30'' com o equador celeste, intersectando-o nos dois pontos equinociais.
: tem uma inclinação inferior a meio grau (0,5°) relativamente ao plano da órbita da Terra. As frequentes aproximações à Terra fazem com que a órbita de Toutatis seja caótica.

Toutatis possui um dos mais estranhos estados de rotação alguma vez observados no Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. Em vez de rodar à volta de um único eixo (como os planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
e a maioria dos asteróides), a sua rotação resulta da combinação de dois tipos diferentes de movimento, com períodos de 5,4 e 7,3 dias, de forma que a orientação de Toutatis relativamente ao Sistema Solar nunca se repete.

Ao aproximar-se da Terra, Toutatis aumenta o seu brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
e desloca-se rapidamente entre as estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
. Quando passa para o interior da órbita da Terra, vai-nos apresentando mais do seu lado não iluminado pelo Sol, de forma que o seu brilho diminui rapidamente.

No dia 29 de Setembro, dois telescópios do ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
situados em observatórios diferentes observaram Toutatis simultaneamente: no Observatório de La Silla, o telescópio de 2,1 m, equipado com a câmara de largo campo de visão WFI; no Observatório do Paranal, o telescópio Kueyen, de 8,2 m, com o instrumento FORS-1. As observações em simultâneo a partir de locais diferentes permitiram determinar a distância ao asteróide pelo método clássico de paralaxe
paralaxe
A paralaxe é a mudança aparente da posição de um objecto observado, causada por uma mudança da posição do observador
.

A imagem ao lado é uma combinação de duas exposições simultâneas dos dois observatórios. A medição da distância angular no céu no início dos dois rastros (cerca de 40 segundos de arco
segundo de arco (")
O segundo de arco (") é uma unidade de medida de ângulos, ou arcos de circunferência, correspondente a 1/60 de minuto de arco, ou seja, 1/3600 de grau.
), juntamente com a conhecida distância entre os dois observatórios (513 km) e a posição de Toutatis no céu no momento das exposições definem o triângulo Paranal-Toutatis-La Silla e permitem-nos calcular a distância exacta ao asteróide. A distância assim determinada é muito próxima da prevista teoricamente pela posição do asteróide na sua órbita e da Terra no momento desta observação: 1 608 900 km.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2004/phot-28-04.html